quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Paixão e morte

O copo,
Um corpo,
Confusão.

Batom,
Perfume,
Rendas.

Um corpo,
Um louco,
Paixão.

Clarão,
Projétil,
Rubro.

Em pouco,
O corpo,
Rabecão.

Oração,
Vela,
Choro.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Olhos Azuis

Algo me decepciona,
São seus olhos,
Seus olhos azuis,
Cortam-me,
Mostram meu mundo,
Que rui,
Em sua retina a me fotografar.

Em outrora colorido,
Meu mundo hoje é gris,
Mas pelos seus olhos,
Descortino-o em azul...
Olhos azuis,
Que me decepcionam,
Antes era frenesi all-time,
Hoje é caos.

A luz já não é mais branca,
Aos seus olhos, entreguei-me.
Pelas safiras, fascinei,
No instante das fotografias,
A vida já não é mais branda.
Fotos mostram meu mundo,
Que hoje ruiu.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

"Quanto dura o amor?"

Quanto dura o amor?
Eu não sei.

Mas vi seus pés,
Um sorriso abriu,
Flores enfeitam a sala,
Sua boca carnuda,
Lençol alvo,
O toque.

O beijo dado,
Luz da lua a invadir o quarto,
Praça de Santa Tereza,
Passeio de mão dada,
Poema rabiscado em papel de pão,
Juras.

A flor abriu,
Bem-te-vi  no fio de luz,
Velas acesas,
Hálito exalando volúpia,
Corpos nus,
Nuvens no solo.

Quanto dura o amor?
Eu não sei.


*Inspirado no filme "Quanto dura o amor?"

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Morte

Eram pés,
Eram mãos,
Corpos espalhados.

A esculpir,
Corpos nus,
Espalhados pela câmera.

Eram vidas,
Eram almas,
Amontoadas umas sob as outras.

Tudo frio,
Sombrio,
Luz de velas a clarear o passar.

Eram almas,
Eram seres,
Agora só nos restam os dizeres.

Vai à vida,
Fica a dor,
Findou-se o dia, mas nos fica o amor.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Cor

Eu sou bom mesmo
É para brincar de cor,
Mas de dor não.
Verde, vermelho, lilás,
A cor?
Tanto faz.
Mas a dor não.
Temor, pavor, rancor,
Tudo isto me causa torpor.
É...
Eu sou bom mesmo é pra brincar de cor,
Mas de dor
Não.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um tiro, um único maldito e certeiro tiro. Bum!

Um tiro, um único tiro. Bum! O gatilho sendo apertado, o tambor gira, o martelo é empurrado para trás... O buraco aberto no tórax, uma dor tão intensa quanto à perda do amor ocorrida naquela mesma manhã de sexta-feira. O sorriso dela foi algo inconcebível, as palavras saltando-lhe a boca e martelando o meu tímpano: “Eu nunca te amei. Você não passa de um degrau onde gosto de subir.” A falta dela me faz ficar mais frio, menos vivo.

Um tiro, um único e maldito tiro. Bum! A mola traz o martelo para frente em alta velocidade. A agulha está à frente e... bimba! Acertou a cápsula. O sangue rubro jorrando internamente. Sinto meu estômago ficando pesado. Ânsia a todo o momento. Porque me entreguei? Devia ter lutado ao menos mais alguns minutos. Força foi o que me faltou.  Não tive fé. Como o frio que me acometia há segundos atrás, agora é a falta da mesma força que me fez baixar a guarda. Sinto-me fraco, sem vontade, infeliz.

Um tiro, um único e certeiro tiro. Bum! A pólvora explode. O projétil é expulso da cápsula. O gás faz com que o projétil seja expulso do cano. Nas ranhuras do maldito cano ele vem rodando, como se estivesse em um parque de diversão. Feliz com o gira-gira vem ganhando mais velocidade. E ela feliz agora. Brincando com seu parque em outro terreno. Fico infeliz por ter deixado ela me controlar. Ma-ni-pu-la-do, foi assim que a vida seguiu até, finalmente, ela me deixar de La-do. Era seu mais lúdico jogo: “Enganar o palhaço”. Deve ser assim que ela me achou. Em minha testa devia estar escrito ”Palhaço”. E em meu paletó o manual de instruções. Entreguei-me. É fato.  Assim como vou me entregando agora que a força e a fé me faltam. O frio cada vez mais gélido. O amor a esvaziar-se em meu estômago. Meu sangue... meu amor... minha vida...

Um tiro, um único e maldito tiro. Bum! O projétil vem voando loucamente em minha direção. Seiscentos e cinqüenta quilômetros por hora. Em frações de segundo me acerta. As luzes começam a se apagar. Esvazio o coração. As pernas vão ficando cada vez mais frouxas. Minhas mãos já não empunham reação alguma. O desejo da vida é exaurido do meu Eu. Caio ao chão. O perfume dela me esfria as lembranças. Um salto vermelho-grená me acerta o buraco no peito. A dor aumenta. A vida diminui. Penso nas promessas, nas festas, no sexo. Gozos e gozos. Desejos e solfejos. Líricas no meio conturbado urbano. Meu cotidiano findando naquela tarde de sexta-feira. Desejava um final de semana. Ganhei um final de vida.

Um tiro, um único maldito e certeiro tiro. Bum!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Desgraceira

Era macaxeira,
Trepadeira,
Capoeira,
Sem eira nem beira,
De baixo  da cachoeira,
Que Ernesto, homem de pouca fé,
Acreditou ter encontrado a derradeira,
Única oportunidade verdadeira,
De se livrar da desgraceira,
Que fez perder a estribeira.

Na pirambeira,
Açoiteira,
Britadeira,
Cabeleira,
Bolinando a adeleira,
Que José, rapaz sem-vergonha,
Aceitou consertar a besteira,
Que ele provocou na ribanceira,
Que trouxe tanta desgraceira,
Pro povo pobre de Madeira.

Da espingardeira,
Cuspideira,
De chumbeira,
Derradeira,
Nunca se viu tanta sangueira,
Onde o sem fé e o sem vergonha,
Acertaram verdadeira desgraceira da besteira,
E Maria Feia, famosa mexeriqueira,
Tava escondida na capoeira,
Dissertou pro povo da pantaneira.

Foi choradeira,
Olheira,
De lombeira,
Leseira,
Trepada na teba da limeira,
Que Maria, moça “desmoçada”,
Chorou todas as lágrimas verdadeira,
Sem pensar que era besteira,
Se "desmoçar" ainda solteira,
E causou toda a desgraceira pros lados de Madeira.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Boipeba

Me esquece,
Sua peste!,
Eu já disse que não conheço a Celeste,
Nem quero dizer que ela não preste,
Corra porque o sorvete derrete,
Claro que já podei o cipreste,
Já dissestes!,
Teu jeito me enche de estresse,
E tem mais, tudo isto me entristece,
Tu e tua prima Celeste,
Largo as duas, agora mesmo, e vou morar com Salete,
Lá em Boipeba.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Laços

Estes laços,
  Nossos laços,
    Dores me arrebentam o peito,
      Cor rubra a espalhar pelo invólucro da alma,
        Desejos noturnos apagados na ausência do teu sorriso,
      Sofreguidão em olhos azuis a desejar a vida,
    Dormência demoníaca ao peito,
  Nossos laços,
Estilhaços.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Primogênito

És o senhor dos meus domínios,
E também dos meus fascínios,
Eu não posso mais perder,
Muito menos esquecer,
Pois és tu que me controla,
E me faz cantarolar,
Nesta vida agora,
Onde o sol passa a brilhar.

És o senhor dos meus fascínios,
E também dos meus domínios,
Já não posso conceder,
E quiçá reverter,
De envolver em seu sorriso,
Em suas mãos me enrolar,
Deixarei de ser narciso,
E suas marcas vão me marcar.

És o senhor dos meus fascínios,
E também dos meus suplícios,
Preciso agora é entender,
O que queres é viver,
Lançado a lança ao vento,
Fico agora a olhar,
Vá longe meu rebento,
Feliz vivo por saber amar.

sábado, 26 de novembro de 2011

Meu mundo

Tento me esquecer,
Mas viver é ávido,
Vivo a desprender,
Mas exijo o calor,
Deste mundo meu,
Que pelas manhãs,
Tudo nele é teu.

Se viver é amor,
Vivo a aprender,
A enfeitar de cor,
E desenraivecer,
Deste mundo meu,
Que pelas manhãs,
Tudo nele é teu.

Nisto tudo é flor,
Vamos juntos a caminhar,
E esquecer a dor,
Aprendendo a amar,
Neste mundo meu,
Que pelas manhãs,
Tudo nele é teu.

Certo é viver,
E viver de amor,
Vamos juntos crer,
E enfeitar de cor,
Este mundo meu,
Que pelas manhãs,
Tudo nele é teu.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Corpo

Fiquei anos e anos te procurando em meu corpo,
Fiquei anos e anos te procurando,
Em meu corpo fiquei anos,
Procurando-te corpo,
Anos e anos,
Meu e teu,
Corpo,
Fiquei.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ícaro

Queria ser Ícaro,
E neste seu espaço de céu me arremessar em seus braços,
Asas de braços em seu céu,
Sol me derrete as asas,
Bicicletas e relâmpagos,
Luz e sol,
Amor desamor,
Vôo longe das garras sol meu único desejo,
O céu seu.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Estação central

Central estação,
Passa , chega, vai...
Trem da ilusão.

Sons. Sonhos, piuí tic tac...
Inocência embarcada, despachada, acabada.

Central estação,
Vai, passa, chega...
Trem da desilusão.

Ardor. Rancor, shiiiii...
Sentimento sentido, sofrido, atrevido.

Central estação,
Estação central.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Tereza

Vi Tereza hoje!, em sua luz, continua santa como nunca. Em suas curvas, boemia como sempre. Seu cheiro seu gosto, seu corpo...

Tereza...
Lembranças das noites com Gotardo.  O rubro, a pasta, a luz acabada.

Lençóis alvos espalhados pela cama. Desejo dos amados almados.

Hoje vi Tereza. Boemia como sempre. Santa como nunca.

Tereza...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Desalmado

Desnudo fico,
assim,
a ver navios,
no mar de nossa cama.

Cama que me deixa desalmado.

Alma,
que já não é mais minha.

Desalmado sou,
Desalmado estou...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Fuga

Leve meu corpo

Para o lugar

De onde

Um dia

Eu não

Vim...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lambidas, gemidos e loucuras

Roupas a desnudar,
Vistas avistando o infinito,
Nós nus,
Notas de sol em seu violão,
Desejos e solfejos,
Cantigas, mandingas, lambidas...

Cheiros no ar,
Degusto o gosto do sentir,
Nosso balanço,
Dedilhando acordes em seu braço,
Beijos e desejos,
Risos, sorrisos, gemidos...

Coração a aquentar,
Tato no quente d’alma,
Vossos sons,
Manuseio o desejo da canção na pele,
Nossos corpos,
Doçura, tesura, loucura...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Ali...Nasci

Foi numa tarde,
Onde o dia se desvencilhava entre suas mãos,
E os raios de luz abraçavam,
E a chuva nos molhava...

Ali,
Nesta mesma tarde,
Onde os casarões da terra santa brilhavam em seus olhos,
E a branca lua nos abençoou,
E o frio nos abraçava...

Ali,
No fim da tarde,
Onde teu corpo me abrigava com suas cores negras e alvas,
E as estrelas nos iluminavam,
E o calor nos bastava...
 
Ali,
Anoiteceu,
Em teu corpo era eu e em meu corpo era tu,
E pela lua nós dançávamos nus,
E a noite nos embalava,
Nasci...

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

men-te...ten-te

Triste, arrastou-se até a ponta. Olhou para o lado, depois pra cima, respirou profundamente. Mente...mente...ten-te. Não faltou muito para final-men-te saltar-se. Entregou-se a melancolia, o torpor na mente...mente...men-te. Estímulos lhe faltavam, dores espalhavam, corpo se decompunha. O odor regava as cavidades superiores, já as inferiores se contorciam. Era aquilo tudo mesmo, tinha certeza, de , nada. Mente...ten-te...men-te.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Acordar

Apaixonei-me!, mais uma vez. Mas desta vez foi logo pela manhã, e foi fácil. Você dormindo, eu já acordado e brigado com o relógio que insistia em trazer-me a lida.

Seus olhos se abriram, inchados de dormir. A pele branca, o entorno da boca sujo pelo resto da madrugada, o bocejar matinal.

As mãos procuravam algo e me acharam. Você olhou... sorriso lindo vazado pela falta dos dentes. Balbuciou algo, e como sempre, não entendi. Hálito de pureza angelical.
Unhas afiadas a cortar-me epiderme, que se exploda a derme, o que realmente vale é seu toque a qualquer hora do dia, mas pela manhã, faz a vida valer mais.

Sem nenhuma palavra peguei em meus braços e te beijei...
Um beijo que me salva do dia a cada dia...

Apaixonei-me!, mais uma vez.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Fintar

Ah!, os seus olhos. Estes me fintam e eu, tolo que sou, entrego sem lutar. Desnudo fico, assim, a ver navios, no mar de nossa cama. Cama que me deixa desalmado. Alma, que já não é mais minha, me fintou com seus olhos e me desalmou...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Eclipse

Foi no meu quarto que você apareceu. Pé ante pé, devagarzinho, linda em sua camisola de lua, sorriu e me encantou.  Neste dia, quando o sol pediu licença a lua e se escondeu atrás dela, ela, a lua, também apareceu no meio do dia. Linda e nua, como você minutos depois de fechar a porta. Enalteci seu corpo negro e me entreguei aos seus encantos. Longos braços, abraços longos, sua respiração a entorpecer-me... desfaleci, e assim, renasci.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Sonhos intranquilos III

E foi pela manhã, numa destas manhãs onde o tempo passa seco, que senti o amargor pela primeira vez. O fel saltou-me a boca, roxa pelo frio imenso que fazia na capital das Gerais. Porém, seco como o tempo, foi o telefonema que recebi logo quando me desvencilhei do ededron negro que me encobria e fingia me proteger da cáustica temperatura. A voz metálica, do outro lado daquele estúpido aparelho, me cortava aos poucos. Retalhava o que havia sobrado da noite anterior, onde nuvens negras passavam junto ao céu e ao cume da Serra do Curral. Era a dor!, a tal dor que tantos haviam me dito. Maldito sejas tu, que resolveu me ligar e me lembrar do assassinato ocorrido ali perto de mim. Eu não tive culpa, já havia esquecido o ocorrido, mas você não aceitou, e agora, depois de tanto tempo, insiste em me arrastar para o inferno de lembranças. Você sabe que lutei, por várias e várias vezes, batalhas descomunais, noites em claro, dias a fio, mas enfim, fui vencido. E ele teve o direito divino de extinguir a vida que vivia ali. Foi duro ver a vida exaurir pelos seus olhos, sentir o peso da mão dele depositada em meu ombro, ali, no sofá negro da sala branca. Noites em claro, dias sem luz, nocivas pitadas de solidão depositada no porão de onde ele vivia. E mesmo assim, você me liga e me faz reviver todo este turbilhão de cheiros, cores, dores e rancores. – Sinto uma mão a me sacudir. Levanto os olhos para o alto e vejo Ernesto. Ele já está de pé. Ergue a mão direita e me mostra que o céu desta manhã está mais azul do que da semana passada neste mesmo nome de dia. Avisa que a caminhada vai ser dura, mas temos que continuar nossa expedição. Arrumamos toda a bagagem, ele segue em frente. Respiro e vou atrás. Vamos Ernesto!, a vida nos espera.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Perdi a hora

Eu sei, já é tarde e novamente perdi a hora. Não!, não vá embora, muito menos agora, fica mais, espere o café passar. Café com torradas e acompanha aquela geléia de goiaba que você tanto gosta. Uma fatia de queijo minas frescal? Claro, também gosto do suco de pêssego. Não, ainda está cedo,como você mesmo já disse, perdi a hora. Vamos tentar? Sempre... nunca deixei de pensar. O que você quer almoçar? Vai!, almoça comigo... serei sua sobremesa! Achou brega?, apenas estou tentando recuperar a hora perdida. Eu sei, passou o tempo, passou o dia, passou o amor... perdi a hora.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Olhar

Nos olhos,
   olhos nus,
      nós nus,
         olho-nos.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Desistência

Em um copo,
    Achei,
        Assim,
            Minha vida,
                Rasa. 

Um, dois, três minutos, perdi, o sentido, de tudo.

Em um corpo,
    Achei,
        Assim,
            Minha vida,
                Castra.

Tu, ele, vós, eles. Não havia mais espaço para eu e nós.

 Em um morto,
    Achei,
        Assim,
            Minha vida,
                Findada.

Ócio, ódio, ópio, AH!....

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Mulher azul

Em teu corpo, me encontro, nu!,
E desvendo teu corpo blue.
Lembro de meu amigo DJ,
Que num relance de acuidade,
Foi a Paris,
Ele, feliz como eu,
Descobriu a mulher blue,
Minha woman azul,
Our mulher azul.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Tereza

Lembranças de Tereza,
Na janela do quarto,
Veio assim de leve,
Quase abstrato.

Numa luz branca,
Que pela janela,
Serviu-nos de manta,
E nos fez tela.

Nu, resolvi dormir,
E como nunca, a abracei,
Ela ao meu lado a sorrir,
Iluminado, dormi e sonhei.

Ah!, minha bela Tereza,
Que nos faz sonhar,
Na alegria ou tristeza,
Venha nos visitar.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A cor do amor

Arrasto,
Sigo,
Ao canto,
Enxugando,
Meu roto,
Pranto,

Nada,
Nunca,
Cor,
Lilás,
Dele,
O,
Amor.

Agora,
Perro,
Ali,
Vejo,
Seu rosto,
Desejo.

Desespero,
Penso,
Desisto,
Reflito,
Regozijo,
Lilás.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Me mata

Eu sei que a vida tem volta,
E até Deus escreve por linhas tortas,
Mas saber que você não volta,
Me mata...

Procuro pelos meios,
Ando pelos cantos,
Até ele já não sorri tanto,
E saber que você não volta,
Me mata...

Fico aqui sentado na poltrona,
Idiota namorando a porta,
Mas saber que você não volta,
Me mata..

Mesmo com lagrimas a rolar,
Deixo a esperança brotar,
De um dia te ver a porta adentrar,
Mas saber que você não volta,
Me mata...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Cheiro


E o cheiro do almoço invade o ambiente. Enquanto seu perfume permanece por aqui. Felicidade tem cheiro. E eu sinto... Sinto que a tua presença é cada vez mais marcante. E que a noz-moscada não é nada perto de você, que chega sorrateiramente e me marca a boca com a explosão do sabor do teu beijo. Com suas unhas pintadas do vermelho pimenta, me cravam as costas deixando mais apimentado meu momento do que se fossem as malaguetas do armário. O calor do teu corpo faz meu sangue ferver. E o cheiro do almoço some perto do teu cheiro de fêmea-mulher que me entorpece os sentidos. E o sentido do dia passa ser você, só você que é a minha felicidade, e eu sinto o cheiro dela, de você, de nós em um só espaço.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Passageira


Meninas anêmicas,
    Movimentam o cone sul.

Vestes rasgadas,
   Fome aborígene.

Demônios endêmicos,
   Estragam o céu azul.

Mente congênere,
   Cáustica é a cor.

Veto o movimento,
   Solidão abraça.

Mãos decepadas,
   Forte dor.

Apenas lamento...
   A vida passa...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Desilusão


Preciso te amar,
   Em lençóis brancos carmim.

Desejo te beijar,
   Ver seus olhos sorrindo assim.
 
Devo te matar,
   E arrancar esta dor de mim.



segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Luta e dor


Tristeza mata,
Quando assim,
Vejo o homem.

Avança a idade,
Avança a miséria,
A-van-ça.

Luta,
Dor,
Ele,
Idade,
Avança,
Luta e dor,
Lutador.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sonhos intranquilos II

Entrei em colapso. O céu está vermelho. Fortes dores me atrasam a visão do infinito. Farpas me rasgam a pele. Pele me sobra ao prato. Me perco, perco-me, me cerco. Repito o mesmo mantra que aprendi quando tinha apenas do-ze-a-nos-de-i-da-de. Tudo vem tudo vai. São Paulo florida no meio da Augusta. Me esquivo entre caminhões e rubéolas. Sinto o mudar do tempo. Tempo... templo... convento... convenço. Néctar de limão em minha boca me faz pedir o doce salgado da vida que tive. Tive vida em outros dias, em outras vidas, em outro país, em outros. Mariposas envaidecidas me seguem o corpo quente. Nascente no meio do asfalto turvo da Afonso me leva até ao municipal parque. Entro em balões gigantes preenchidos de helium, e finalmente afino o corpo, a voz, o algoz. Ernesto me sacode. Com os solavancos em meu pescoço olho para o lado. Ele ruivo, de barba negra, sorri. Os dentes sujos, pretumes de mangue que não existe nas Gerais. Com um hálito adocicado pelo jatobá, colhido na esquina da Barata Ribeiro, ele me conta que novamente sonhou com a noiva de vermelho. Ela estava linda, vestida para o sepultamento do seu avô e ca-te-go-ri-ca-men-te, mentiu para não mais crescer nas ruas de Coritiba. Passo minha mão direita sobre a cabeça dele e sinto um calor gélido que me convence que as alucinações constantes de Ernesto são causadas pela flor esculpida em minha mão destra. Arranco do peito o colete que me aprisionava. Ernesto faz o mesmo. Com a estupidez de um vulcão em erupção, levantamos do banco da praça e olhamos novamente para o entardecer de mais um dia lilás vivido em nossas vidas cáusticas. Eu olho nos seus olhos e encontro o caminho que devemos seguir. Aponto o dedo para a direção do nosso caminho traçado pela cartomante que visitei em Budapeste. Ele concorda. Seguimos em direção oposta à indicada, afinal, não queremos o fim, e sim entender o começo. Uma forte dor me assola a sola do pé. Passo os dedos em meus olhos castanhos, que com a dor da hemorragia que me persegue, ficaram rubros. Levanto a cabeça, sacudo o pescoço e entendo que mais uma vez tive sonhos intranquilos. Acordo Ernesto e sigo em frente. Ele me segue.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

In-Gênios


In-compatibilidade de gênios,
Gênios compatíveis,
Gênios?
Compatíveis?
Não?
Eles, dois,
Um e dois,
Fortes,
Geniosos,
Ambos,
In,
Duo,
Três.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Desconcertante

Rodas psicodélicas me envolvem o corpo,
Sinto um leve nojo no asco que me detêm,
Nervos na pele flor,
Devasto o horizonte desconcertante,
O ócio negado a rigor,
Rosto... corpo... ouço...
Músicas para os meus ouvidos,
Estes entupidos.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Na chama azul do isqueiro amarelo

Minha cabeça dói - pensava enquanto acendia o cigarro na chama azul do isqueiro amarelo. Dedos da mesma cor estampavam o sabor da nicotina entediante sugada ao romper dos anos. A barba por fazer, a mais de três anos, o cabelo esvoaçado e o sentimento de que naquele dia tudo seria igual ao dia anterior, que por sua vez, foi igual ao mesmo dia com o mesmo número de identificação há doze meses. A vida era um ciclo vicioso.

A língua ainda estava dormente, o sacolé enrolado no bolso esquerdo da calça jeans denunciava, que mais uma vez, utilizou daquilo que prometera nunca mais usar. O branco era o mal, o dito pelo não dito. Na última vez que a encontrou jurou, de pé junto, que jamais ousaria a usar aquilo para entorpecê-lo. Mas a cabeça doía, e nada mais poderia ser feito em cumprimento a jura jurada entre lágrimas salgadas do desejo dela ficar. Uma tragada no cigarro, os pulmões em cinza cor da nicotina, os dedos amarelados, o sabor na chama azul do isqueiro amarelo.

O sol clareou no horizonte, aqueceu a mente, o sangue correu mais fácil com o calor na pele. A costa da mão direita suja estava coberta com a névoa horripilante da dor, um cartão de crédito na mão esquerda. Estradas de carrinhos de plásticos bolha são feitas em segundos e em milésimos, destes mesmos segundos, desaparecem.

Merda e a minha cabeça continua a doer – Debruçou sob o joelho e deixou o dia passar.

Árido e pálido

Necessito amplamente,
Abrir meus horizontes,
Doses entorpecentes,
Desejos aflitos,
Negados firmemente,
Entre náuseas e dentes.

Verrugas me saltam aos olhos,
Molho os dedos nas lágrimas,
Desejo o sujeito da frase,
Entrego-me...

Mendigos ácidos,
Negligencio solidão,
Aperto os dedos contra o corpo,
Dedos pálidos áridos,
Noites abertas ao clarão,
Em vinhos de tinto corpo.

Horizontes entorpecentes,
Aflitos áridos pálidos,
Dentes arrancados ao clarão,
Entrego-me...

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O reino dos 20 andares

Corria pela escada feito um louco. Subia e descia, descia e subia. Assim eram seus ritos de diversão, naquele verão de 1979. Férias de escola, e na mais lúdica idade, divertia-se com pouca coisa. Aquele espaço era bem diferente do que estava acostumado, nada de terra, nada de água, muito menos do esgoto pútrido que escorria pela rua de casa. Ali, naquele lugar de 20 andares, era somente concreto. Concreto também foi o sonho realizado de ver o mar. Ah!, o mar... Aquela imensidão azul, que até aquele verão só havia visto através da televisão em preto e branco, e era bem mais belo que a figura cinzenta, apresentada através da caixinha que viajava durante as noites na casa do Sô Osvaldo. O cheiro do mar. A cor do mar. O frio do mar.

Uma vez por dia, ele podia ir ali. Passar seus pés na areia branca, sentir as cócegas provocadas pelos finos grãos, sentir o cheiro do mar, encher o pulmão e se entregar a grande maravilha das águas. Com o sol ainda em riste, ele tirava a camisa, descia o calção de brim, largava as sandálias e corria ao encontro ao mar. Pulava a primeira ondinha, se entregava de corpo na segunda e na terceira entregava a alma a Poseidon. Nadava e nadava, seguindo a longa faixa de areia. Acabava-se entre braçadas e pernadas. Pulava onda, furava onda, se enrolava na onda. A água salgada nos olhos, na boca, no corpo. E assim soltava-se, esquecia de todos os infortúnios que havia vivido até hoje na sua longa vida de nove anos. 

Nove anos de lar em lar, acompanhando sua mãe. Em algumas casas era desprezado, em outras nem era notado, e esta indiferença doía mais. Mas ali, naquela casa, naqueles vinte andares, naquele mar... ele era ele.  Sentia-se dono da vida, dono do mundo, dono da mãe, ao menos naquele período, onde ela estava liberada de acompanhar Sô Osvaldo. Este o tratava como filho. Dava balas, brinquedos, carinho, e principalmente, deixava a mãe o acompanhar durante algumas horas do dia. E além de tudo o presenteou com o mar. Ah!, o mar... Depois de certo tempo, ela o chamava, tomava uma ducha fria na barraca de frutas, enxugava-o e iam embora para o reino dos 20 andares.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Em transe...

Em transe, corria pela rua afora, na expectativa de alcançá-la mais uma vez. Todos os corpos lembravam o dela, todas as vidas eram a dela, todas as noites sonhava com ela. Respiros e afagos, na cama do pensamento, faziam com que ficasse mais fissurado no novo reencontro. As noites turvas, os dias gris, o corpo dela num copo de conhaque e o cheiro do ar que ela respirava. Tudo o entorpecia, e a idéia de encontrá-la mais uma vez, talvez a única vez, o deixava assim... em transe.

Nas esquinas imundas e pútridas, ele se aconchegava. Mendigava o encontro, o afago, o doce, a neve branca e sutil dela. Tudo era ela, até mesmo a dor, e disto ele entendia bem, do desencontro maldito causado pela mesma dor, porém que outra provocara, o céu gris da tarde calorosa do outono vivido no inverno. O isqueiro aceso, a cigarrilha soltando fumaça, o ar enfeitado pelo cheiro da erva cubana no ar. O transe...

No quarteirão fechado entre Carijós e Afonso Pena, ele se prostra. Ergue as mãos para o ar e relembra o primeiro encontro, talvez o encontro que nunca existira, e chora... chora um choro chorado de coisas estranhas nervosas. Os joelhos dobram, a gravidade força o encontro maldito do calçamento com o seu rosto débil. Lágrimas salgadas banham a face cansada da procura do encontro. As forças falham, o enjôo chega e a luz vai se definhando... a sensação é reconhecida... o transe.

Um afago a cabeça é sentido. O ar é reconhecido, o molde moldado contra o sol  é perceptível. Não pensou nem uma vez, agarrou-se nos braços longos dela e desapareceu pela Amazonas... em transe.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Lilás

Depois de cada azul,
Um novo lilás,
Mesmo nu,
Veja a vida voraz.

Depois de tudo blue,
Não vai olhar pra trás,
Mixar dor com alcaçuz,
Chorar... não vás.

Depois de tudo azul,
Não olhe para trás,
Depois de cada blue,
Verá um novo lilás.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Versos

Em diversos versos,
    me disperso.

Nestes versos, me resto.

Detesto?,
       é certo!

Mas,
   me resto,
         nos versos
                     diversos.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Bola morta

Mais uma vez a vida lhe prega peças
A bola amarela encoberta, ela, a final
o pano verde do bilhar, o copo de cerveja na ponta

o taco velho, meio torto, lambrecado de giz azul
e a bola amarela próximo à caçapa

Mais uma vez a vida, passando pelos olhos
A luz rubra, as pessoas indo, chegando, parando para ver o jogo

o jogo da vida, o jogo da morte e do trago do maldito cigarro
Lembrou de parar de fumar, lembrou tarde demais
Parou, mirou, respirou ofegante

pulmão cheio, visão turva, taco, dedos, olhos, corpo.
A bola amarela e a preta, na caçapa oposta.
Não errar - pensa. Não errarei - afirma
e a vida passa novamente por entre os dedos, indo... vindo...

o braço força
lembra dos filhos que estão em casa, da mulher... traga de novo - maldito vício
A bola branca voa por cima do pano verde, trajetória retilínea

passa-se um, dois segundos intermináveis e... le n t a m e n t e acerta o alvo
a bola branca, a bola amarela...

escrito por Clovisnailton

Babilônia macedônica

Babilônia afônica,
Nos desastres errôneos,
Macedônia que me ama,
Em ninfas invejosas,
Onde a fé é a maldade,
Que sugerem sacanagem.

Nudez enrustida,
Nervos a pele flor,
Asco do nunca,
Da terra da fuga,
Falta do amor.

Babilônia afônica,
Acertos pseudônimicos,
Macedônia me despreza,
Narcisos espalhados,
Em doces ácidos,
Minha vida arrasada.

 Negra dor oblíqua,
Em raios azuis lilás,
Merda cor em riste,
Sinto falta do ar,
Na atmosfera rarear.

Babilônia afônica,
Macedônia que me ama,
Babilônia afônica,
Macedônia me despreza,
Babilônia afônica,
Macedônia...

quarta-feira, 8 de junho de 2011


Ele sorria,
   Só ria ele,
     Ele, só, ria.
      
                                              Ele só.

                          Só ele.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Vejo a vida fugir

Um beijo roto,
No rosto louco,
Ecoou para mim.

O rasgo do fato,
No céu aberto,
Não foi assim.

Vejo a vida fugir... fugir...

No largo risco,
Do rosto roto,
Aberto assim.
 
O gozo,
Roto do louco,
Goza de mim.
 
Vejo a vida fugir... fugir...

Nem cravos,
Nem rosas,
Cuidaram de mim.

Nem dor,
Ou sorte,
Fizeram-me assim.

Vejo a vida fugir... fugir..

terça-feira, 31 de maio de 2011

Aquietar

Assim, olhei para o lado,
Não te vi,
Com o olhar parado,
Molhado fiquei.

Com desespero,
O aço que me atravessava à fonte,
O penhasco me esperava,
Não tive dúvidas,
Pulei em teus braços,
E me afoguei repetidas vezes,
Esperando que o lastro me levasse,
Dali, longe perto.

Asco do aço que me abraçava,
E molhado,
Com o desespero do mar,
Aquietei-me.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O nu do Outro

Entre a loucura irritante e o grito, ele ficava nu. Preferia assim. Desnudo do frenesi da vida, do vinho, do ópio. Era assim que ele se sentia... nu.

Não se importava em escutar comentários alarmantes sobre a sua nudez de gente sensata. “sou nu e livre” – dizia a todo instante a si mesmo. Já o Outro, ficava encabulado com a nudez dele próprio. Sentia-se enfadado diante de tanta irreflexão. “Era isso que ele queria pra ele?”- não sabia julgar, afinal, o frenesi freqüente o deixava mais extasiado que nunca.

Nunca... nunca... never...nie...asla...

Negava-se em toda e qualquer língua existente. Tudo isso para ter o direito dele, e do Outro, de ficarem nus. De dia ou de noite, em casa ou na rua, almoçando ou jantando. O que importava era a nudez.

Assim, nu, ele era capaz de dizer a verdade, de sentir a verdade, de ver a verdade.

Nudez e verdade andavam juntas, para ele, já para o Outro, não.

Mas, em suma, nu a vida não tinha como se esquivar da verdade. Sem máscaras, sem apetrechos, sem nada, simplesmente nu... verdadeiro.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O frio no Vale do Sol

Pela escuridão do vale do sol, ele andava. Chutava latas e aslfato. Tudo ali era inexato. Avenidas com nomes de quintas e primeiras, já as ruas, com nomes de planetas. E o vale do sol, naquela madrugada, como era de costume, estava frio... gélido. 

Caminhava por ali, sempre ao voltar de algum lugar, sempre sozinho, sempre por ali. Nada daquilo fazia sentido, o sol do vale nunca era verdadeiro. O frio sim era legítimo. Tão real como o fim do universo e o medo gritante que rondava o seu vale do amor.

Ela, a maldita, o havia deixado mais uma vez. E ele, louco e tonto, torto e morto, sofria ao anoitecer... há saudade... ah saúde... há alguma coisa que precisava de ser revista. Tentava descobrir o porquê do fim. Ele ali, andando pelo vale do sol, no frio da noite, sozinho como não queria.

“Pessoa maldita”- ficava a pensar. “Pessoa nefasta”- ficava a penar...

Na curva, um carro, uma luz, o calor percorria o corpo, ela a sua frente, o vazio no bolso, a dor do amor, o nojo do gosto, o vento no ventre, a sombra da luz, o sono frio no Vale do Sol...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Amor

Ó meu amor, por tão presente que estás e tão honesto que sejas, eu me perco. Perco pelas portas que entro ou nas ruas que adentro e, às vezes, até mesmo, às vezes, no afago gostoso dos teus seios.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma vez por mês

Assim, do nada, ela seguiu até o alpendre e o encontrou. Com os pés no chão, mãos calejadas do labuto ingrato, ele estava lá. Pele vermelha pimenta, castigada pelo sol durante a jornada escravagista. Ruas e ruas de canas cortadas, espinhos da folha adentro do corpo, o podão na mão direita enquanto a esquerda juntava a folhagem negra. O suor irrigava o corpo, corpo malhado pela luta do trabalho. Trabalho ingrato e nefasto. Mas a vida precisava daquilo, e ele mais que tudo, precisava da vida.

O sorriso no rosto acariciou o coração. O cansaço louco e pervertido desapareceu. Encontrou o doce hálito da vida naquela boca. Boca carnuda romã. Mãos nas mãos, pés perto dos pés, um banho tomado sem muita pressa. O cheiro da água de colônia invadia o seu corpo. E ela, linda... ali, e ele cansado... ali. Olhos úmidos e humildes. Mão grossa contra mão fina. Amor com amor...

O corpo já não era seu. O trabalho pecaminoso não existia mais. Naquele momento era tudo sagrado. Sagrado o coração, sagrado a cama, sagrado o gozo. Gozo gozado e jorrado no encontro de suas mãos. Uma grossa, outra fina. Pés descalços no linho branco do lençol. Pés roçando em pés, boca com boca, hálito doce pairando no ar. Liras de Orfeu os embalava, o sonho era realidade, e a vida, doce, como o doce da cana, continuava.

O sol aparece, e esquenta a pele vermelho pimenta do moço. Descalço segue novamente para as ruas de canas a serem cortadas, sem antes, porém, de deixar sobre o criado do quarto uma parte do ganho do mês. E era assim que a vida tornava-se doce, ao menos uma vez por mês.

Filhos

Dois
Filhos,
Um com V,
Outro com C.

Duas,
Vidas,
Lindas,
De 0 a 15.

Os,
Dois,
Amores,
Meu...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Nada é feito...

É inevitável,
O choro,
Latente,
Corrói,
Quente,
Mata.

Rasgo o peito,
Nada é feito...

É irremediável,
Na contramão,
O sufoco,
Aperta,
O louco,
Morre.

Estilhaço o peito,
Nada é feito...

Nada é feito,
Mata,
Nada é feito,
Morre.

Tudo corre...
Tudo morre!

Segue

Vida que segue,
Ao lado,
De que lado?
De dentro,
De fora,
Segue vida!

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Uma pinga, uma marica e um cobertor fétido

Não leve nossa conversa para o lado da galhofa, o papo é sério! – falava nervoso ao comparsa, enquanto acendia a marica. A noite havia sido tensa, uma correria só. Depois do assalto, efetuado na região da praça da rodoviária, a fuga insana pelas ruas que rodeiam a Paraná, o descanso, embaixo do viaduto, era merecido.

Um trago de pinga, um trago na marica, o cobertor fétido o aquecendo e agora, por mais absurdo que poderia ser, aquela discussão idiota.  Quem ficaria com o prêmio da corrida ilegítima? Ele que percorreu grande parte do percurso com os gambés em seus pés, ou o parceiro que apenas ficou olhando na esquina da Afonso com Caetés?

Mais um trago na pinga e na marica, a vista acinzentou-se. Um leve tremor em suas mãos. A vida esvaziava diante de seus olhos. A chuva lavava e levava o rubro líquido escorrendo ao lado. A discussão acabou...

terça-feira, 1 de março de 2011

Dê dor a dor

A dor há dor,
Nem sempre há dor,
Na morte da vida,
No nascimento da cor,
A dor há dor,
Com carinho e amor,
Há dor na dor.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O menino

O menino,
Teu maroto,
Fique quietinho,
Tua hora chegarás,
Como raio de sol,
E a vida iluminarás.

O menino,
Teu travesso,
Já és tão queridinho,
Vens devagarzinho,
E com alvoroço,
Encher-te-ei de beijinhos.

O menino,
Meu amigo-garoto,
Quero-te aqui do ladinho,
Como um anjinho,
Pra Deus agradecer,
O mais belo presentinho.

O menino... o menino!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Caetanear

E um sorriso desponta,
Sorriso inocente,
De gente sem dente,
Que em dia de luar,
Com a inocência fulgurante,
Ofusca o mais belo luar,
E só me restará um verbo,
O de Caetanear.

Marcas

Encontros macabros,
Marcados os encontros,
Marcos a marcar,
Vidas a passar,
Sem nada pra marcar.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pele

Lambe mais uma vez a pele,
Trazendo assim o desejo,
De entrar em ti,
E mais uma vez,
Tornarmos apenas um,
Num só corpo,
Em um só coração,
Com batimentos loucos,
De tesão descontrolado,
Sexo a pele,
Apelo do sexo,
Lambe mais uma vez a pele,
Trazendo assim o desejo.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Cores

Um beijo louco,
No dedo tosco,
De lado a lado,
Sempre,
Verde ou azul,
Talvez roxo,
De fato,
O falo,
Fala,
Mais que apenas,
Ouvimos,
Sós,
Nós,
E nunca,
Na verdade,
É dita,
Bendita,
A besta,
Da voz.

Rio

Eu sei,
Claro que sei,
Viajei entre pontes e navios,
Logo cedo quando cheguei ao Rio,
E sem prontos soluços,
Nem frases prontas na 040,
Segui feliz até Copa,
Onde num único conjugado,
Este, claro que foi alugado,
Em seus braços abraçados,
Noites em dias ensolarados,
Larguei meu corpo jogado,
Eu e você,
Nós dois enamorados,
E hoje em dia,
Na mais bela supremacia,
Casados.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Devaneios 11:44

Vagando pelo escuro da luz, senti meu corpo flutuando sobre o doce luar que me iluminava. Sentimento curto, doce, longínquo e bárbaro. Barbaridade é a minha de sentir isto em pleno êxtase da vida. Vida vivida de vivos viventes. Nobre é o ser que não se arrepende do viver. Viver a vida!, na luz, no escuro, na dor...  bendita é a dor! Esta nobre criatura que nos cerca e nos leva ao amor, ou vice-versa, não sei ao certo. O amor traz a dor, ou a dor traz o amor? O amor e a dor, companheiros de longa caminhada. O amor é a dor? Definições que estão por aí, soltas, esperando a mão majestosa de vossa excelência, a vida, para defini-las. 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Carmem

Nos seios de Carmem, Anselmo encontrava seu sossego.
Chegava a casa, entre violas e violões, descansava no seio do lar.
Casa de Carmem, seio dos seios, desejos e vontades, satisfazendo-se em sonhos. Volúpias em Carmem, sonhos de carne, seios no seio, carne de Carmem.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A triste sina de Godofredo

Enquanto cobras e tiús descem pela parede do casebre de pau-a-pique, Godofredo apertava o fumo de seu cigarro, esquecendo-se dos problemas mundano e lembrando-se da amada Sara que o deixara para trás.

O céu escuro entorpecia seu corpo. A cada minuto passado, a cada fumo cortado, a cada ar respirado, ele sofria! Triste e quieto sentado no tronco da árvore que em outrora era o motivo da alegria dos dois.

Ah Sara! – Dizia ao vento que lhe abraçava e gelava teu antigo quente coração. Sara não mais estava ali. A árvore caiu. O céu nebuloso e, para terminar, o entorpecimento já havia conquistado Godofredo e seu fumo.

Pobre Godofredo e seu fumo cortado.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Doce voz de Caetano

Na Avenida Brasil, sentindo a sua pele negra no meu corpo color, ouço infinitas vezes seu olhar descrito em canções líricas. O maestro toca, eu te escuto. Caetano chuta, enquanto eu navego novamente em suas longas tranças e finalmente me perco nos abraços longos de seus braços.

Sem me perder, fixo meu olhar no seu norte, e o seu sorriso alvo, da brancura de sua alma, me limpa. Traz a leveza da dor que perdi no passado e deixei na terra santa. Feliz, sigo até a praça, pois agora, quem me ama é a liberdade.

Liberdade que abracei no momento em que disse sim! Sim, minha clara jovem negra, sim para você, sim para ele que vai chegar num dia de verão, sim para nossa vida. Sim para o mundo que me uniu ao teu abraço naquela tarde de domingo, vendo o sol ir embora e você a me abraçar em seus abraços longos. Sim a tua boca carnuda que me afaga com seu hálito de desejo fêmeo e real. Sim...

O carro para... e junto ficamos a ouvir a voz de Caetano...