quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Aventais

Entre o copo e o corpo, desejos quebrados pelos aventais quadriculados. Junto à mão furtiva da imensidão turva, o copo preenchido do liquido salvador de momentos iguais a estes em outras ocasiões. Porém, perto do corpo, o desejo.
Escuridão em quarteirões da Rio Grande do Sul, pontos de ônibus vazios, restaurante popular fechado e o copo em sua mão. O corpo, inerte pelo frio cáustico vindo da alma rubra, estava ali.

Jogos de azar são disputados. Azar e sorte em um tabuleiro rosa grená, escondido nas esquinas. O tarja preta havia se findado a dois dias, e sem ele, o discernimento desapareceu entre um copo e outro. Turvo ou não, na maioria das vezes, incolor.
Desejos quebrados pelos aventais quadriculados.

O salão do Vaga-Lume, repleto de copos e corpos. Hálitos estarrecidos pela dor. Desejos.  Garçons. A cocada branca, comprada na volta do treino, já não é mais vendida. O ponto de ônibus já não o levava mais. Aventais quadriculados. Mesas. Desejos e desejos.
Entre o copo e o corpo.

O bolso da calça furado. Chaves que não abriam mais nada se perdiam pela Olegário, e mesmo assim, eram recolhidas. A escuridão o abraçava e o levava a Raul Soares. Se um dia pensou em lutar e desbravar tudo aquilo, hoje apenas queria lutar contra os aventais quadriculados.
Anestesiado pela fumaça e pelo cheiro do enxofre expelido pelo último ônibus da noite, recolheu-se entre seus joelhos. O copo vazio e o corpo se entregando aos poucos ao ópio da vida aguçada.

Entre o copo e o corpo, desejos quebrados pelos aventais quadriculados.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Rabiscos e riscos

Nos riscos,
Vejo rabiscos.

Neles, corro todos,
Belos riscos,
Curvas e retas,
Seus rabiscos.

Nos rabiscos,
Sinto riscos.

Delineio,
Neles todos,
Riscos e rabiscos,
A vida em fino tracejado.

Nos riscos,
Nos rabiscos.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Era pó,
Pô!, era apenas pó,
Não fiz nada,
Apenas deixei ali,
Aquele pó.

Pô, ah este pó,
Maldito pó,
Branco alvo celeste,
Que me deixou assim, pô!
 
Descuidei-me, pô!,
Pelo pó,
Pó que nem sei o que é, pô!,
Alvo agora é,
Pelo pó que nem é, pô!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Danças dos dedos

Dedos tocam,
Ao toque, transcendo,
Sorriso farto grato solto no espaço da vida,
Toques marcas graças nos dedos,
Dedos tocam,
Danço de encanto,
Encantado em graças, de graça.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Palavra

Alheio,
Ao sentimento,
Receio,
Ter dito, apenas, uma, única,
Palavra,
No momento exato,
Em que minhas mãos,
Buscavam pelo tato,
Encontrar o que não havia,
O que não via,
Alheio,
Ao sentimento,
Não mais a via,
Em, apenas, uma, única,
Palavra.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Sonhos intranquilos IV

Escrevi assim, um poema esquisito.
Perdi-me, entre as cores azuis e lilás,
Que um dia me disseram-algo-que-já-nem-lembro-mais.
Da mesma forma que o poema,
Estranho e esquisito que havia escrito.
Perdeu a força;
Força que me forçava a escrever letras G-A-R-R-A-F-A-I-S,
Este gigante imenso,
Nas letras de nossos ancestrais.
Louco e eloqüente, me puxa, puxa, puxa.
E sem mais ou menos, me perco nos braços longos e estranhos de algo que já nem sou quem sou.
Mundo estranho. Estranha teoria. Vigília.
Ser é o ser, dor, alguns curiosos estudiosos dizem em seus pequenos espaços de vida que é o amor.
Rima fácil e pobre.
Difícil é vivê-los sem passar por tais desejos efêmeros.
Perco-me, derreto-me, lanço-me, e assim, sem mais ou menos, perco-me novamente.
Cruz, luz, Jesus... em algum lugar alguém deveria dizer que: “Oh não chores mais, menina não chore assim”. Mas, desnudo, com o universo que me surpreende, perco-me em seus cabelos... incríveis e invencíveis. Mesmo brancos e arrancados fio-a-fio pelos dedos de Anália, que desejou ir só para Maracangalha.
Eu fico aqui perdido.
Perco-me em mês estranho.
Estranho meu mar, meu impar, meu vôo...
Mas, a vida é sem graça,
Se houvesse graça de graça,
Seria sonho.
Ernesto me sacode e novamente me acode.
Acordo e vejo no horizonte, novamente o cone sul, movimentando nossa estrada.
Seguimos novamente para onde não sabemos.
Vamos Ernesto!?
Numa taça de champagne, infernos vermelhos desenham os pés, dor insana de cores apáticas, sigo verde roxo ao encontro lilás da vida azul. Cores iluminam nosso céu grená.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Senhor tempo

Marcas, Aparecem com o tempo,
Junto deles, o vento,
Antes negros,
Hoje escassos e alvos,
Longos espaços de tempo,
Mãos pequenas,
Pés pequenos,
Espinha no rosto,
Aparelho odontológico sem uso.
Marcas,
Aparecem com o tempo...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Mundo que gira,
   Voltas e voltas.

Vida vazia,
   Tardes manhãs.

Voltas!? Voltas!?
   Mundo que gira.
Manhãs e manhas,
Coisas e vidas,
Viva as coisas,
Coisas de manhãs,
Manhas pelas manhãs

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Dádiva

Apenas desejos,
Vidas e feridas,
Olhos negros.

Azulejos brancos,
Bolor e odor,
Vidas en-cantos.

Nefasto momento,
“Pai, por que me abandonastes?”,
Louca escuridão.

Fuga fugaz,
Alcaparras e azeite,
Desejo de paz.

Vastas lembranças,
Purific-a-dor,
Brancas alianças.

Túneis detestáveis,
Luz luz luz,
Arco-íris sustentáveis.

Cabelos ao vento,
Sol sol solo,
Passo lento.

Em tuas,
Mãos,
Minha dádiva.