segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cadê o solo?

Falta-me ar,
Sobram-me os pés,
Cadê o solo?

Chão para quem quer pão.
Vida para sorrir,
E você para mim!
Cadê o solo?

Cadê a cama,
Vem pro colchão,
Novamente me aqueça,
Com seu branco olhar,
Cadê o solo?

Solo tu,
Solo mio,
Você é meu solo!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amor compartilhado

E você virá,
Forte, ardente e feliz!
E quanto a nós,
Estaremos loucos na alegria,
Contida no desejo de te abraçar,
Não uma vez,
Muito menos duas,
Nem mesmo mil,
O abraço será eterno,
Como o nosso amor,
Antes único,
Agora compartilhado!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sonhos intraquilos de Ernesto

Na mais nova viagem intranquila, onde monges tibetanos tomam o chá de origem amazônico e nordestinos se sacolejam ao som da mais bela polca, sinto meus pés estremecerem a cada pegada que encontro.

Profundamente obeso com o volume adquirido nos últimos anos de escalada ao Everest, eu e Ernesto, desistimos, por hora, de chegar ao Taj Mahal passando pelo Obelisco, afinal, o congestionamento registrado ali, na Nove de Julho, é simplesmente caótico.

Entristeço com a novidade lançada ao espaço, ninguém merecia passar pela entrada apertada do monumento erguido no fim do último dia da escalada das ações, nada humanitárias, da Bolsa de São Paulo.

A crise que vivo, Ernesto insiste em dizer que é passageira, me trai os mais belos pensamentos a respeito da imigração dos patos selvagens vindo do Canadá. Não sinto mais prazer em olhar para o blue Sky de Belo Horizonte e não mais encontrar o beija-flor perdido em filmes que nunca vi, ou até mesmo, que não dirigi.

O tempo me convence mais que Ernesto, e o odor vindo de minhas rugas centenárias provam que a vida é única. Não existe dinheiro barato, assim como remédio para minha economia que vai de vento e polpa arrebentando o meu esforço de me manter cético ao novo plano de expansão da trajetória humana.

Esqueço tudo e aprendo novamente com as pegadas achadas. O caminho é único. A devoção é divina. O triste é alegre.

A intranquilidade me abraça de tal maneira que me sinto limpo e inerte ao seu poder. Embriago-me em seu licor, me sujo em sua cor, assim, desta única e terrível maneira, a viagem contínua... intranquila e obscena. Tomo o chá e sigo dançando. Ernesto vem junto.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

D’alma

Com a falta de você,
Meu corpo vira mártir,
O inseto voa pelo asfalto azul,
O ônibus solavanca,
No uniforme fosco da ingratidão.

Nesta crise de abstinência,
Onde o ópio é você,
Sou eu usuário ávido,
E a nos separar,
O sofá negro macio nada altruísta.

A noite perpetua,
Com a cama despovoada,
Com a chuva à encalir nosso Love,
O ar me sufoca,
Temeroso raia o dia.

Sinto falta de você,
Flagelado pelas garras da estupidez,
Com o invólucro d’alma dilacerado,
Procuro seus olhos rasgados,
E entorpecer novamente no seu agrado.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Coquetéis molotov

Andei pensando em estrofes,
Versos,
E até em coquetéis molotov!,
Explosões além norte,
Eu, você, nós!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

São Judas

Na escrivaninha do quarto, a meia luz, o papel largado a mesa, os rabiscos intensos, o lápis preto sendo destruído em nome de algo que nem ele mesmo saberia dizer. A fonte no quintal ligada e jorrando jorros de água. Água colorida pela luz iluminada da lâmpada ligada. O céu não era azul mais. O impossível de acontecer estava tão longe, que de certo, se tornará cada vez mais impossível. Em inexatidões longínquas o acesso do abscesso ficava mais obstruído com o tempo, e desta maneira, a boca doía cada vez mais, e o mau cheiro impregnava todas as cavidades superiores. E o rabisco saía forte sem o porquê de estar ali.

A novidade não era mais a mesma, portanto não era mais novidade. O lápis não era mais perfeito, assim como sua ponta feita com a faca. Faca que cortava cada vez mais sua esperança da volta de alguém que um dia resolveu partir e nunca mais voltar. Voltar a ser visto. Voltar para o lado direito do individuo oblíquo. Sujeito que ele jurava, agora, entre lágrimas e calafrios, que não existia mais. Era fato: o papel estava ali, o lápis em suas mãos e o alguém estava além da sua compreensão. Carniça de vida insaturável.

As comemorações do dia de São Judas haviam passado. E ele continuava ali, com sua causa impossível.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Falem

Deixe que falem de mim,
Deixe que falem de nós,
Deixem quem fale.

Pouco me importa...
Se foi este ou aquele,
Se aquela ou aquele,
Largamos para lá,
E sigamos em frente:

“Para o alto e avante”

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ela

Sexta-feira, tarde da noite, avenida qualquer, entrada da boate. Ela chega com seu vestidinho lilás bordado com cristais falsificados, imponente em seu Luis XV. O perfume, tão marcante quanto seus olhos negros, deixavam todos fascinados – fascinado fico pelo seu andar. O cabelo esvoaçante açoita o vento com o cheiro gostoso do cremehidratante. Tudo era usado para mantê-la ali, no altar, e nós,súditos malditos, ficávamos a desejar seu rabo, nem que fosse por uma noite apenas

No escuro da pista, ao som do mais podre cancioneiro pop, ela se vangloriava. O corpo modelado pela academia da esquina era, para nós, a passarela da vida onde queríamos desfilar. A silhueta perfeita, os mamilos acesos, o suor descendo seu pescoço e adentrando ao grande decote cravado em suas costas. Costas que era enfeitada com um grande dragão verde-lilás que levava aos sonhos mais exóticos dos pobres mortais. E ela lá, dançando... sozinha... se acabando na pista.

A luz acende, ela caminha até a saída, as portas se abrem, ela reaparece sob a luz do luar. Ainda resta um pouco do perfume, o andar, a solidão me abraça. Sigo-a até ao carro e ela nem aí. A porta abre, a perna esguia acessa o interior do carro, o assento abraça seu traseiro malhado, a outra perna desaparece no vão da porta. Toneladas de fumaça invadem a atmosfera, ela ganha a avenida e desaparece na escuridão da noite. Dentro do carro a solidão a persegue. Ela chora um choro chorado em lágrimas quentes que molham seu corpo gelado. Já é sábado

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A barata

Ô vida ingrata, dizem que não sou homem, por que não mato barata!
Porque acabar com a vida, da bichinha espremida?
Olha que belo rasante, e por não te matar, não sirvo nem como amante?!
Vá pro meio da rua, o barata danada, senão no final das contas, não vou prestar pra mais nada.

Devaneios 1302

Enquanto fico aqui com a cabeça demente olhando para o céu, minha boca grita palavras eloquentes, querendo aquecer os mais belos cachos de seu cabelo. O rojo expelido pela face incrível da dor que abastece a cavidade mais estranha do invólucro de alguém, a marca pesada e prensada do ferro à brasa, que um dia chegou e feriu o mais tenro tecido que cobria aquele santuário erguido no meio da sala, mostra com exatidão a intensidade do grito. Anjos e demônios se abrigaram no lado esquerdo do telhado ouvindo as súplicas expelidas enquanto o verme que chega e destrói a vida, chegava e se alimentava do ócio produzido pelo ódio e vergonha explícitos nas palavras brotadas por aí. O suor desce a testa e é fato: na noite de São Judas não fui eu quem gritou a favor do encontro maldito que se sucedeu instantes após a bomba explodir ao lado do terraço do décimo quinto andar daquele edifício que era belo no início, e que se tornou esquizofrênico ao romper da aurora.Nada mais, nada menos, apenas isto para seu gozo provocado pelas maldições ditas exacerbadamente. Nada, além disto, ou aquilo. Nada...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ronda

Ela ronda,
       por aqui,
             por ali,
                   e às vezes nos faz ri.


                                             Ela ronda,
                                          por lá,
                                  por cá,
                         e sempre nos faz chorar.


                       Ela ronda,
      ronda, 
                           ronda
          e às vezes ronda.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Três “eme”

O inferno estava ali, a merda espalhada pela calçada, o fétido sabor da morte rondava seus olhos negros, a miséria estampada nos rostos de qualquer ser presente naquele espaço. Nada, tudo, merda, porra e mais nada. Sobe escada, desce escada, abre porta, fecha porta. Putas e travecos num meio comum. E ele ali. Espiando o brilho da faca que acabaria utilizando em qualquer coisa que cruzasse seu caminho. Doses cavalares de aldol eram utilizadas para adormecer a besta-fera. O cuspe cuspido na ponta da faca a deixava mais mortal. O vírus da merda nela. A merda da vida no sangue. O sangue rubro, fétido escorrendo pelas mãos do algoz justiceiro. Merla, merda e morte. Três “emes” necessários na vida dele. A besta.

Merla na veia. Merla no espírito. Merla na alma. Merda de veia que não aceita a merla. A viagem perfeita, a euforia extasiante. O universo fica pequeno. E com ela, todos se rendem ao sabor da morte azeda vinda da faca de metal cuspida. A ponta entra cortante cal-ma-men-te. Merla sem dentes. Sistema nervoso oscilante, extravagante, emergente, impotente em resolver o que deve ser feito e o que deve ser morto. Merla sempre...

Merda é a vida vivida por estes que se sucumbem ao inferno do escroto que passa com a grana em sacolas verdes com nomes sugestivos gravados em suas bordas. Fracos que vivem na merda. Merda é o sentimento profundo em que a besta segue vivendo. Besta que reúne o poder da cura dos males destes que se ajoelham ao deus babaca que seguem. Merda é sentir o desejo infame de viver com eles até o exato momento da ruptura carnal... “Seu espírito agora encontrará a paz”, a besta entregava o corpo a merda da vida e o espírito a salvação. Sentia-se um padre. Um padre?! Merda sempre...

Morte sempre para a purificação do individuo falido da moral. Morte sempre para quem ousasse atravessar o seu caminho. Morte sempre àqueles que não jurassem lealdade ao seu deus. Morte sempre a quem não convertesse seu coração maldito a maldição da besta. Besta redentora, utilizando a faca espessa e polida com os sangues dos malditos que foram dessa pra melhor. Melhor morrer a viver neste inferno de vida. Morte sempre...

Merla, merda e morte!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Tabaco e Vodka

Na quinta esquina, após a Rua Mármore com Garbo, ele estava lá. Quieto sob a luz amarela do poste. O cigarro fino aceso, uma garrafa de vodka embaixo do braço, o violão nas costas e mil idéias enroladas em seus caracóis. Já passavam das vinte e duas horas, e o último metrô logo chegaria a estação, e exatamente nesta composição que ele depositava suas esperanças. Com certeza ela chegaria nela. Mais um ônibus rompe a Mármore, e ninguém desce no ponto. E as esperanças lá embaixo na Andradas.

O frio cortante daquela noite o deixava com mais dor. A vodka visitava com regularidade cada espaço da boca mal cuidada. O cigarro amarelava e perfumava seus dedos. As idéias rodeavam e norteavam suas ações. Lembrava do momento exato que vira aquele sorriso pela primeira vez. Um doce sorriso. Um amargo momento. Um ácido misturado com chocolate. Era assim que ele definia aquele breve momento. Depois daquilo, sua vida nunca mais foi a mesma. A necessidade de rever o sorriso, de sentir os sentimentos momentâneos, de curtir e reverenciar o enorme prazer da vida oculta naquele olhar divino. Por isto ele estava ali até agora. Com o frio cortando seu corpo. E a incerteza do contato aquecendo o coração.

Uma nova talagada. Um novo trago. Uma leveza lhe descia a cabeça chegando até as pernas. As nuvens negras da noite lhe pareciam brancas como as do dia. O uniforme do guarda municipal parecia sujo. A moto rasgava o morro em direção a alguma casa. E a intimidade com o sorriso ia aumentando a cada gole, a cada trago, a cada minuto. A meia furada, o tênis rasgado na ponta, o violão devidamente afinado. Tudo pronto pro encontro mortal e devastador.

As notas começaram a aparecer quando o barulho do metrô parando na estação foi ouvido. Sentiu novamente o perfume a exalar no ar. Sentou-se rapidamente na calçada. Fechou os olhos. Sentiu os passos. Respirou profundamente. Entregou-se a criação divina.

Os passos fortes, correria na passarela, o sorriso doce cortante passeando em sua frente. O primeiro acorde, o segundo e assim a coisa aconteceu. Largou o violão de lado e foi direto ao caderninho. Pronto!, estava feito. O azedume se tornou doce, o agora virou eternidade, o céu continuou escuro e o frio mais gelado. Levantou-se tragou o último trago do cigarro fino, mais uma nova bicada na vodka. Acenou para o céu e foi embora subindo a Mármore.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O que posso fazer?

O que posso fazer?

Meus olhos não desgrudam do seu sorriso,
Minha boca só quer a sua,
Meu corpo se derrete ao leve toque de suas mãos,
O velho coração bate no ritmo do teu nome,
E meus passos sempre seguem para seu espaço.

O que posso fazer?
O sentimento puro que sinto é único e distinto,
Há alvoroço toda manhã quando olho pro lado e te vejo,
A lua é você, e eu apaixonado pela sua alva brancura,
O gosto do chocolate é a tua pele em minha boca,
E se o lado da cama que mais gosto, é o seu com você lá.

O que posso fazer?
Se a única coisa que me vem à cabeça hoje e sempre,
É te amar... te amar... te amar...
E finalmente, no final de tudo,
No restinho da coisa toda,
É te amar.

O que posso fazer?
A alma é sua,
O corpo é seu,
A vida é nossa,
E o fim...
Este não existe ao seu lado.

O que posso fazer?

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Olho

Olho nos teus olhos,
E em tudo vejo graça,
Pão, água, cachaça.

Olhos nos teus olhos,
A tristeza se rechaça,
Deliciosamente tua caça.

Olhos nos teus olhos,
Teu corpo na fumaça,
“Mi” alma em eterna graça.

Olhos nos teus olhos,
E a estúpida dor passa,
Beijo, alma, caça.

Olho nos teus olhos,
Navego sem farsa,
O teu amor me basta.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

La bestia

E no meio da noite, sentado a frente do portão, com as mãos sujas de sangue da última vítima, fica pensativo. A queimação lhe subia no esôfago e ele pensava no que poderia fazer se não fosse o que era. Não tinha mais medo. Perdeu a inocência. Os sonhos tenros da infância perfeita já não havia. Nada além da besta-fera que se transformou passava em sua mente. Atos exatos do mais violento assassinato. Sangue, dor e solidão.

O suspiro final de suas vitimas o deixava louco, e ao mesmo tempo enchia de fé o coração amargurado da dor do próximo. Sempre que executava uma pessoa, a obrigava a aceitar o Senhor em seu coração. O mesmo coração que em poucos minutos estaria em suas mãos. O mesmo Senhor por quem esperava ser julgado e condenado. Os batimentos eram exauridos aos poucos, len-ta-men-te, como a vida nos olhos do pobre coitado que até pouco tempo estava indo para casa, trabalho, zona, restaurante, ou qualquer lugar. Que infelizmente, por uma triste e infeliz coincidência, não iria mais existir. E a dor do pecado mortal, “Não matarás”, o sufocava loucamente.

A noite escura. A dor imensurável. O inseto voando em torno da luz. Ele ali. Sentado. Pensando no que poderia ser se não fosse aquilo. Aquele ser estúpido e insensato que seguia as regras de seu instinto assassino. Não queria mais fazer aquilo, mas era inevitável. O inferno da vida era presente em cada minuto. A dádiva da dor. Em cada segundo. E as gotas de sangue escorriam pelos dedos e manchava a calçada em frente à casa de um qualquer. Qualquer um poderia passar ali e notar que a criatura ainda estava ali, com o coração nas mãos e as preces elevadas aos céus.

Levantou-se. Olhou o céu. Com o Pai em mente, sorriu. Entre seus dentes o liquido que acabara de golfar escorria queixo afora e manchava-lhe a camisa alva. Com uma única cusparada limpou toda a sua boca. Com as mangas repletas do líquido rubro, misturou a dor do outro com a sua dor. Elevou as mãos acima da cabeça e reverenciou o ato macabro mais uma vez. Sorriu novamente. Pôs-se a andar até a esquina próxima e de lá seguiria até sua casa, onde finalmente, tomaria um banho de sal grosso para retirar toda a energia negativa do corpo e definitivamente dormir nos braços da amada vida que lhe foi dada.

A alvorada chegava estupidamente como a vida escapara dos olhos. O coração estava em outras mãos. Na última visão, a besta sorria. O banho de água gélida e salgada o despertava e trazia uma leve decência em sua vida. Vida porca de sujeito matador, que a seu ver, seguia ordens de alguém que não sabia quem era. Mas, como não podia lutar contra tudo e todos, achou por bem, aceitar a indesejada vontade de ir contra algo que não sabia o quê. Devaneios estúpidos de um ser estúpido. Ladrão de sonhos, agente do inferno em nome de Deus. “Fulano, sicrano e beltrano”. E a música embalava seu banho de decência indecente. A limpeza do pêlo pelos poros normais arrancava-lhe a cor encarnada do sangue jorrado pelo coração furtado. E o sorriso morto rondava seus dias.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A última palavra...

Nem mesmo ninguém sabia explicar aquele homem. Nem mesmo ele sabia explicar pra ninguém. Nem ao menos pra ele.

Ao passar um ano de declarar coisas e não ter mais nada a declarar, interrompo por aqui a escrita que um dia me trouxe paz.

Agradeço a cada um que leu, gostou, amou, eternizou, colaborou e até mesmo odiou.

A escrita é assim... começa e para.

Eu paro por aqui.

Enfim, não tenho mais nada a declarar...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Devaneios 2102

Na escuridão da noite, fico em meu quarto e encontro os demônios e monstros que insistem perturbar meu sono, que outrora fora angelical, e hoje, insistem em ser infernal. O desapego da fluidez da solução narcótica me envolve no mais pesado pesadelo. Horrores de circos, monstros de picadeiros e mulheres e homens se masturbam ao meu lado, que fico aqui, só. Esperando a mais profana gratidão dos homens que passam em seus carros importados. Eu, com o chapéu na mão, fico pedindo mais uma vez um pouco da benção. Ela que ainda não passou por aqui. E assim, desta maneira trágica, abstrata e vertiginosa, vejo o tom do brilho do sol se tornar cada vez mais vermelho e triste. E só para lembrar:“Tristeza não tem fim, felicidade sim”

sexta-feira, 30 de julho de 2010

A pedra

E quem de vós, parados aí na esquina, teria a audácia de chegar o dedo em minha cara e me dizer com a cara deslavada que eu não sou e nem serei - em qualquer momento desta minha vida ordinária e suja - feliz? Sim! Feliz como os corvos que passeiam por aí, ou como os abutres que ficam a esperar a merda da morte acontecer e assim celebrar a celebração da morte. E até mesmo como o rato que se deleita nos restos dos restos restados dos dejetos dos pobres e infelizes como nós. Quem de vós? Quem?

Homens fétidos, vida injusta, pessoas pútridas, menções nojentas. Vós, nós, e diria que até o algoz. Nada. Nem tudo, nem mesmo um jumento mais sortudo. Ninguém poderia riscar o dedo no espaço entre mim e tu, ou ele, e dizer escancaradamente: “Vós, meu amigo fétido, sujo e promíscuo, nunca será feliz! Maldito sois vós com todos os seus defeitos e trejeitos. Maldita é a vida que tu carregas. Maldito é o mundo que desnuda nossos corpos e coloca-nos em vitrines expostas como vacas mortas e bezerros quentes. Largue a mão de ser demente e tente, ao menos uma vez, viver como gente”

Nem mesmo depois deste sermão, irei olhar para vós com piedade. E espero, profundamente, que ao acordar não veja mais nenhum de vocês rondando minha morada. Meu invólucro da vida é meu. Meu corpo é a minha morada. Minha morada é meu templo. Meu deus é o desnudo. E assim... sumam, desapareçam e nem pensem em voltar quando queimar a próxima pedra e viajar no inferno que a vida me prometeu.

Desta maneira, ele acordou, virou para o canto, pegou o cachimbo, colocou mais uma pedra, ascendeu o isqueiro, e novamente a vida se exauria de seus pulmões.

Viver

Sem pensar,
E nem sonhar,
Sem ao menos, num breve encontro, festejar!

Na cadência,
Da decadência,
Vai, vivendo a vida, na base da reticência.

Com a luz,
Que o seduz,
Ele e ela e seus belos corpos nus.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Resposta do amor

Eu não amargo muito menos estrago!

Eu sigo,
Procuro,
Viro-me e quando menos eu espero... encontro!
Encontro no teu canto, no seu pranto,
Mas às vezes nem tanto...

Por mais que eu rode,
Por mais que eu te sacode,
Por mais... por mais...

Viro-me para um lado qualquer e resolvo novamente te amar...
E espero que seu doce, me adoce e assim, desta única e singela maneira,
Suma com o nosso amargo.

E novamente brincaremos juntos...

obs.: respondendo: http://panoderosas.blogspot.com/2010/07/voce-querendo-so-cancao-e-eu-inventei.html

Lembrança da infância

Assentado sobre o meio-fio cuspia em cima das formigas que passavam debaixo de suas pernas. Costumava ficar assim sempre que era repreendido pela sua mãe. E isto era quase que constante. Não nesta época, mas sim quando ainda era moleque. E pirralho como era, sempre levava um puxão de orelha. Fazia uns bons anos que não ficava naquela posição de pensador. Porém, naquela manhã de julho, ao acordar com a luz do sol a queimar seus pés sobre a cama, ficou jururu. Lembrou dos problemas mundanos que tinha que resolver e ficou assim.

Mas o que realmente o incomodava naquela manhã, depois de se pegar na posição de criança, foi a danada saudade da mãe. Com a correria do dia-a-dia não tinha tanto tempo para vê-la. Era um eterno corre-corre. Mas naquela manhã de julho, o coração apertava e a saudade aumentava. As repreensões corretivas da mãe, também surgiram na memória: “Menino, sai da rua e vem estudar”. Conselhos, dizeres, reclamações, sobretudo o carinho maternal. Isto lhe mexia o coração.

Levantou a cabeça, mas antes fez questão de dar uma última cusparada em uma saúva que passava por ali, pegou a chave do carro no bolso direito da calça e partiu em direção a casa da mãe.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Devaneio 1229

Minha cabeça dói, meus pés descalços e inchados. O mundo é pútrido, e eu, desnutrido da vida feliz, sigo arrematando cada um que passa em minha frente. Inóspito sou. Demente é a vida. Contente são os outros.

Apenas mais algo sem ter o que fazer.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Maldição dos trinta

Trinta dias fora de casa!, malditos trinta dias. Não via a hora de voltar e rever a amada. O celular naquele fim de mundo não funcionava. O telefone público mais perto ficava a uns bons trinta quilômetros. O sol ardia na cacunda naquele maldito ambiente árido. E a temperatura girava em torno de trinta graus centígrados. E ele já estava cumprindo o turno a mais ou menos trinta horas. E tudo isso para ganhar trinta dinheiros por hora. E em mais alguns trinta dias completaria trinta anos. Já não suportava mais aqueles trintas em sua vida.

Quando entrou na companhia de energia, era só felicidade. Planos para construir seu futuro. A história de seu pai naquela mesma empresa, diga-se de passagem, que foi uma história de trinta anos, demonstrava um belo futuro para frente. A noiva ficou entusiasmada com a promessa de casamento assim que construíssem a casa. Compraram um lote em trinta prestações, e assim que quitassem começariam a construir. Tudo perfeito. Em sessenta meses, no máximo, lembrando que trinta vezes dois é igual a sessenta, teriam a tão esperada casa.

Mas ali, preso naquele solão, suportando jornadas de trinta horas, temperatura de trinta graus centígrados, o que mais queria era mandar tudo para o quintos dos infernos. E que os trinta dinheiros por hora fossem visitar o cramulhão, afinal, o que mais queria naquele momento era tomar umas trintas cervejas para aliviar o calor, e ao menos uns trinta bons minutos com a amada para afagar-lhe o coração.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Francisco, Izabela, Rita e Maristella

Esta noite sonhei com vocês. Estavam lá, passando debaixo da cama, numa correria só. Ele, o mais apegado, ficava me lambendo o tempo todo. Ela, a mais alta, ficava deitada ao lado da cama. A outra, que mesmo longe de mim neste momento terreno, não desgrudava dele. A fuzarca era imensa e vocês enchiam a casa. Em dado momento cada um me deu um beijo no rosto. Beijo quente como ás lágrimas que me escorrem a face neste momento e naquela hora da madrugada.

Acordei chorando. A nova companheira estendeu-me a mão e beijou-me infinitas vezes. Mostrou-me com seu olhar de olhos azuis que estava ali no lugar de vocês. Sei que nunca terei vocês novamente ao meu lado. Certeza também que jamais esquecerei vocês. Estejam onde estiverem. Mas ela também tem o seu lugar. Ainda mais agora que vocês foram embora.

Com a dor que me atacou, e ao mesmo tempo, com calor das caricias dela, voltei a dormir e sonhar. E desta vez vocês quatros estavam juntos. Todos pulando e festejando o encontro. Corríamos, nós cinco, por algum lugar em que nunca estivemos. E sei que um dia estaremos. Nós cinco!

terça-feira, 20 de julho de 2010

Falando com ele

Meu Deus!, socorra-me, afinal, o fim se aproxima. A luz está negra, a escuridão está clara, e a clara não envolve mais a gema. O universo desistiu de unir o verso. E eu não suporto mais a pressão de estar sempre pré-são!

Meu Deus!, socorra-me com suas mãos que não existem, afinal, o final é mais certo que o recomeço, a idade não me lembra mais a ida e sim à volta, “o pra sempre, sempre acaba”, e eu, que sempre fico aqui , com o intuito de ficar para sempre, um dia irei desaparecer deste maldito lugar. Já que um dia tudo finda. O amor, o ódio, a vida. Dê-me mais um copo de coca-cola por favor!

Meu Deus!, socorra-me, porque o meu prazer não mais me satisfaz. O Uísque aranha minha garganta. A calcinha azul me deixa sem graça, e a vermelha, me deixa mais irritado que normalmente sou. A cama me corta a carne acamada. E o meu sexo não pertence mais a mim. Sim!, nada mais é meu, e vai tirando o cavalinho da chuva, porque o seu também não pertence a você. Nada mais é de alguém, e sim, tudo agora é de ninguém. A mais perfeita e mórbida comunidade, comum-unidade, com uma idade. Idade de quem?, vida de quem?, quem é o ninguém, e o alguém? Comum?

Meu Deus!, meu Deus, você existe?

sábado, 17 de julho de 2010

Mar da lua

Enquanto as crianças brincam a beira d’água, eu me refresco neste mar. Mar de paixões. Mar que me fez encontrar-te. Mar de minha linda e branca lua.

Devaneios 1121

Queria mesmo ser ignorante. Mais do que sou. Além do que sou. Para novamente não entender o que suas palavras ríspidas me dizem. Intranquilo e insensato... Novamente minha vida ao avesso de cabeça para baixo. Não sou mais um, nem mais eu, mas apenas, eu disse apenas, queria ser mais ignorante. Meu vocábulo com o passar do tempo foi-se expandindo. Ultimamente nem mesmo com ÈFI SETE, do editor de texto, estou utilizando. Saudades do tempo de quando falava tota-tola, nesta época, com certeza, não haveria entendido sua fúria nas palavras que me cortam a pele, o pelo, o sebo, o rego. Cale tua boca. Arranque as facas que estão entre os dentes.Malditos dentes... maldita faca... maldito eu.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Devaneios 0951

Pare! Não me agarre. Sei apenas que não mais quero tudo e ao mesmo tempo quero mais nada. Prolixo? Mortiço? Estrupício? Quem é você, quem sou eu, quem somos nós? Quem? Na contrabalança eu peso o peso do pesado peso do mundo anêmico. Anemia tem cura?, e abscesso nasal na minha massa cinzenta, manchada pelo humor negro lilás, que carrego a todo lado que sigo. O que tem cura? O que mata? O que desidrata? Venha se retrata, pois não quero mais virar a lata.

Ela e ele

Dezoito horas e eu aqui parada nesta esquina estranha. Tudo começou quando recebi a ligação dele. Há quanto tempo não ouvia aquela voz. Na hora que atendi, e reconheci quem era, meu coração palpitou. Bambeei as pernas. Senti um calor enorme. Aquele filho da puta não me procurava não sei há quanto tempo. Da última vez me usou e largou-me lá, no motel, com a conta pra pagar. Mas hoje, ao telefone, me disse que mudou. Que agora a coisa seria diferente. E eu, idiota apaixonada que sou, aceitei mais uma vez, dar-lhe a chance que pediu. Agora estou aqui nesta esquina, esperando o puto aparecer. Ai!, como sou idiota.

Eu sei, mulher é um bicho esquisito. Mas sou assim... apaixonada! Mesmo sendo por ele, não tenho vergonha. Já me falaram um monte, mas sabe como é, quando a coisa pega e a pegada é forte, a gente fica louca. Existe aquele ditado machista: “Amor que fica, é amor de pica”. Confesso que no início achava ri-dí-cu-lo, mas hoje, com esta experiência toda que tenho de vida,nestes meus dezenove anos de idade, concordo plenamente. Ele, por exemplo, só de pensar fico toda molhada. Vá entender bicho-mulher.

Lá vem ele. Não muda mesmo. A mesma calça jeans lavada, o tênis desamarrado, barba por fazer e aquele sorriso amarelo. Não sei o que vejo neste traste. Mas ele me fascina. Atrasado como sempre. Olha o andar dele, desengonço só, chego até ter dó. Mas quando me pega nos braços, começa a me beijar, vou às alturas. Sujeito sacana. Um puto na cama. Deixa-me retocar o batom, ele ama. Uma nova pincelada do perfume. Ajeitar a calcinha, colocando bem gostosa. Ajeitar o cabelo... pronto!, agora serei dele.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um uísque, uma mulher, um pecado.

Ele ali. Assentado naquela mesa do bar. No fundo, na última mesa. Sob a penumbra. O uísque no copo com gelo a refrescar o hálito amargo da semana. O cigarro entre os dedos da mão esquerda. A fumaça a exaurir no espaço. Na vitrola uma música qualquer. Nem estava dando atenção ao que escutava. Apenas estava ali, fumando, bebendo, sonhando. A solidão ao lado como a melhor companhia, naquele momento. Mais nada. Mais ninguém. Apenas os dois.

A luz entra pelo vão da porta de ferro, junto com a luminosidade um vulto. O vulto se transforma numa bela silhueta. A silhueta se transforma. Ela chega! Sorri. Ele se encanta. Observa os grandes seios e a bela bunda. Um trago no cigarro. Um cheiro de menta. O sabor do perfume Dior penetra pela narina adentro. Arrepios. O mastro dá sinal. Ele levanta.

No balcão melado de cerveja derramada por outro qualquer, eles se encostam. Ela de costas pro balcão. Ele de frente para os seus grandes seios. Um trago no cigarro, outro no uísque, uma piadinha infame, um sorriso amarelo, uma cantada barata, um sorriso vagabundo, uma nota de cem reais enfiada na bolsa de mão, um acordo comercial. O hálito amargo da sexta-feira desaparece dando lugar ao hálito de feromônio.

A calça de oncinha grudada na pele demonstra a evidência de uma bela e suculenta anca. A placa vermelha demonstra o destino final dos dois corpos. Num amor pago, ele encontra a felicidade perdida no início do expediente. O céu era novamente seu. Em meios aos belos seios ele se acha um anjo que acabara de cair do céu. Seu céu. No deslizar dos corpos sobre a cama, ele arranca a pele da onça. O triângulo da perdição aparece. Ele, sem pensar, se entrega ao inferno. A santidade some. O céu escurece. Os olhos se completam. O sexo é feito.

A fumaça o desperta. Ele abre os olhos e se sente novamente aliviado. Olha para os lados, reconhece cada milímetro que lhe cerca. O Uísque ainda no copo o convida para mais um beberico. Espeta a linguiça defumada na tijelinha de metal. Olha para a porta e vê algo que lhe desperta um temor. O vulto da silhueta que o encantara naquele minuto de solidão. Sem pensar duas vezes, retira uma nota de cinquenta reais e deixa sob o copo.

Pensando na esposa que o esperava, sobe no ônibus e segue para casa. Aliviado do pecado infernal que não cometera.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Êxodo maldito

Será que você esqueceu-se da existência deste ser que precisa tanto da sua benevolência? – começou assim a carta ao amado, que a deixara a esperar durante meses. Ele, um rapaz alto e alvo, partiu do interior de Minas Gerais para a capital. O grande sonho da cidade grande. Ela ficou lá. Na pequena cidade onde todos sabem de tudo, e tudo se sabem de todos.

A esperança da volta era tão grande quanto a certeza do abandono. A incerteza do amor, vivido entre os dois, de ser lembrado e amado pelo amado distante. Havia três meses que ele não respondia mais a nenhuma carta. Nenhum telefonema. Nem email ele mandava. E com isto, o coração ficava cada vez mais apertado.

Ah vida ingrata! Logo ele, a quem ela presenteou com seu amor verdadeiro? Dores pelo corpo da alma alfinetavam a todo o momento.

Beijos Magali – finalizava assim a carta. Dobrou com carinho, espalhou um pouco de perfume, presente do amado, e colocou no envelope. Caminhou até a porta, destravou a tranca, girou a maçaneta... de susto encontrou com ele. Parado ali, na soleira da casa.

Alto e alvo, a pegou nos braços e morreram uns nos braços do outro. Num único beijo. Num único amor.

Devaneio 1201

Deprimido, reprimido, espremido... exprimido!

O que é isto, DBA?

Trágico! Único adjetivo que consigo achar para o desfeche desta noite de insônia. Vozes dos atrozes a me perseguirem durante toda a madrugada. Mãos a me perturbarem, arrancado lascas de vida de meu invólucro santificado. Eu sou o meu santo. Eu sou o meu altar. E mesmo assim, eles, não respeitaram nem um minuto minha santidade insana de pessoa e filho e irmão. Eles não respeitam nunca.

Eu preciso de um pouco de respeito. Ao menos um pouco!, nem que seja apenas para que respeitem o meu sagrado.

Sagrado! Sacro! Santificado! Meu Deus!, me socorra. Pegue-me em suas mãos santificadas e endeusadas e me retire o mais rápido deste inferno vil.

Nunca em momento algum, desde que me entendo por gente, fui tão ferozmente absorvido e execrado por algozes tão dementes. E eu só precisava de um pouco de paz!

Paz! É difícil?

Bendito sejas tu que me destes a vida e ao mesmo tempo, aos poucos, vem retirando a mesma. Pausadamente. Concupiscente. Eu sou seu. Eu sou de você, mas, você não é meu.

Território livre. Território 0-1. Que se explodam as reflexões desalmadas e filosóficas feitas por quem quer que seja.

Eu sou um homem binário. 0. 1. Nada mais, nada menos! Apenas 0 ou 1.

Apenas trágico. Apenas atrozes a me dominar. Apenas um texto. Nada mais do que isto... um texto. Simples escrito!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Devaneios 0833

Um grato agrado me deixa de lado. Escornado na beira deste alambrado. Chapado, largado, enfiado neste mundo desalmado. E você, assentado na esquina da rua do lado, me encontra largado, sem ao menos ter me amado, uma única vez. Largou-me novamente de lado e pôs-se a caminhar... Sem seu afago, fiquei novamente consternado. Restou-me novamente o alambrado com um Domecq do lado. Chapado, travado, largado... desalmado!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Devaneios 0945

Efêmero é o dia em que percebo a veracidade da voracidade escrita em meus olhos negros castanhos azuis verdes cegos. Efêmero é a paz que habita de forma habitual a minha lida.Efêmero é este texto.

Devaneios 0915

O achaque da vida se apresenta de formas dantescas e gigantescas, ou seriam gigantescas formas dantescas? Não sei. Não tenho respostas, e às vezes, nem mesmo perguntas eu tenho. Alguns dias pela manhã não tenho é nada!, nem o pó do café que tomo. Nem nada, nem tudo.

Efêmero

"Se tu achas que não te dou valor
Que não demonstro o meu amor
E que só penso no que é bom para mim
Saiba que também percebo em tua dor
A mesma vontade, o mesmo calor
Querendo o mundo inteiro só pra ti
Mas não viemos do mesmo lugar
Não sabemos onde vamos chegar
Bela é a diferença do amar

Cada gota que me deste
E as homenagens que eu te preste
São todas, juntas, tão pequenas para nós
Pois somo como o oceano
Executando nosso plano
De ser banhado por outros sóis
São tantos interesses em comum
Vamos tentar não esquecer nenhum
Porque por um momento, conseguimos ser um"

Fonte: Música: Efêmero
Autor: Moska

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Un lambrusco per favore!

Num relampejo único, a inércia da vida acaba. O horizonte se torna alvo. Meus olhos enxergam cada vez mais longe. Sinto a vida pulsar em minhas veias. Sangue por todo o corpo. Inquietude no coração. Sensações mais adversas possíveis e imaginárias. “Mi sento tutto quello che posso avere in questo momento”

Num café da manhã, num jantar a luz de vela. Um bom João Donato a cantarolar, mesmo que seja em minha cabeça, com seu piano reluzente e enfeitado com a chita que cobre teu corpo. Um universo numa taça de vinho. “Un lambrusco per favore!”

Teu corpo a mesa, servindo-me, meus olhos nos teus, minha mente ali, meu sexo com o teu. Três quartos são pequenos para o tamanho da noite. Precisamos da rua, da lua, da vida. A vida em uma garrafa é pouca.“Ehi ragazzo, mi porti un altro box di Lambrusco”

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sorrisos, vivos, cantemos...

Andei, caminhei, cansei...

Em tudo, tudo estava.
Em nada, nada pertencia.
Somente a “Deus”, meu coração não repreendia.

Voltei, chorei, cantei...

Na epopéia da procura.
Na verdade nua e crua.
Somente a ti, meu coração procurava.

Sentei, liguei, amei...

Na procura findada.
No pertencer do seu ser.
Em tudo, desta única vez, você estava.

Gemi, meti, sorri...

E hoje vivo.
Vivo com vida de vida.
Vida minha, que agora é tua, que por sua vez... é nossa.

Sorrisos, vivos, cantemos...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Corpo

Eu amo teu corpo, porém, antes de amá-lo pela primeira vez, amei teu cheiro... mas de antemão amei teu toque e antes disto tudo, me apaixonei pelo teu sorriso. Sorriso branco de lua cheia. Lua de minha vida, vida minha de lua.

Surpreenda-me!

Tenho visto em muitos MSN’S e twitters pessoas com o mesmo discurso: “me surpreenda”. Não sei ao certo o que as pessoas desejam com isto, mas passeando há pouco com a Maristella fiquei pensando: Será que esta não é uma maneira medíocre de mandar a responsabilidade da conquista para o outro?

Surpreenda-me! Sempre a mesma ladainha. Normalmente tenho visto isto escrito em perfis femininos. Contei aqui, neste instante no meu MSN, quatro contatos com esta frase. E todos os contatos de amigas. Mas, com certeza, deve existir algum homem com esta pseudo-mensagem.

Há muito tempo não surpreendo ninguém. Sou assim... vivo assim... só não vou morrer assim!, afinal, seria o cúmulo do absurdo querer morrer da mesma maneira que nasci. A gente muda. Isto é claro e evidente.

“Me surpreenda” os escambau! Lute! Arregaçe a camisa e vá à luta! Seja gente, gente pensante, gente que gosta de gente do jeito que a gente é! Pare de sonhar com o príncipe/princesa encantada em seu belo Porshe branco chegando na sua casa e finalmente te pegando pelos braços. Deixa disto. Caia na rua e sinta as pessoas que existem e vivem.

E, simplesmente, te surpreenda!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Nus

Seus olhos nus, a descobrir o meu corpo coberto pelo desejo. Seu desejo de me desejar. Se desejar em me querer. Nossos corpos nus. Nus pelos seus olhos nus. Corpos sedentos de sede dum do outro. Nus... crus... enfim, nós novamente nos amando nus.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Olha minha flor

Olha minha flor, por mais que baleie o coração deste ser que te persegue e venera, seja feliz!, mesmo que sozinha, mesmo que com outro, mesmo que fosse com quê.

Olha minha flor, por mais que qualquer coisa que possa acontecer, pela única e peculiar vida que posso te dar, se é do seu desejo a felicidade ímpar, eu fico aqui a esperar o dia louco em que você possa crescer e finalmente voltar.

Olha minha flor, olha de coração, olhe para trás e me veja. A dor, a cor, a flor.

A flor que eu deixei ir, viver só e feliz.

A dor que acolhi no vazio do vaso que vazou e te deixou partir.

A cor pálida que ficou nossa casa, cor da derrota derrotada em campos de batalhas jamais andados por este que ficou na janela a vê-la partir e sorrir.

Olha minha flor, olha!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Chico, Xico, Rio

Deitado ao som de Chico,
Minto,
Suplico,
Eu sinto!

Suplico seu voltar,
O renascer,
O viver,
Fico a chorar.

No Rio pela canção,
Calor,
Amor,
Passeio no calçadão.

O poder

Nesta alternância de poder,

Eu mando em você,

Você manda em mim,

E quem manda e comanda em nós?

Claro,

Ele,

O sentimento maior,

O pai de toda dor,

O irmão de ardor,

O filho de todo o desejo,

O único e indiscutível...

Amor!

domingo, 20 de junho de 2010

Devaneio 0038

Desisto! Entrego novamente o meu corpo, a minha alma, o meu ser... ao limbo.

Limbo... Ele... Crespo, nervoso, liso, hilário... reacionário...

Que lindo, ao menos rima, e cadê o clima? Clima pra quê? Pra me foder?

O inferno me acerta em cheio. E o querer me erra.

Eu amo! Eu clamo! Eu Reclamo! Ah... que desânimo!

E novamente me sinto aqui!, será que algo tem?

Quem? Tem? Heim?

Na verdade nada mais me aumenta o lamento.

Nem ao menos, o teu corpo, o seu gosto.

Agosto, julho, junho... nada nada.

Nem eu, nem tu, nem nada!

sábado, 19 de junho de 2010

Vinho

Eu, você, nós dois. Numa mesa, num bar. Eu, você, um vinho, uma vela. O escuro, a vela, seu sorriso, nós dois. A noite, o vinho, a vela, o frio e seu sorriso iluminando a vida. A vida, o solo, o céu, a uva, o vinho, nós dois. Nós dois, nós nus, nós nos.

Antítese de mim

Caminhando apressadamente pela Rua da Bahia, ele é surpreendido pela voz calma...

- Olá! Tudo bem?

- Olá...

- Olá...

- Tudo bem? Você está bem?

- Você está bem?

- Quem é você?

- Eu!? Fácil responder isto. Eu sou a sua antítese!

- Hã?! Que isto? Realmente você está bem?

- Você está?

- Eu estou!

- Então eu não!

Já irritado com o rumo da conversa, ele coçou a cabeça. Pediu aos céus que lhe desse um pouco mais de paciência, já que aquele dia havia começado conturbado. Franziu a testa e novamente dirigiu seu olhar à pessoa que o interceptara no meio da calçada.

- Olha eu não te conheço. Não sei quem é você. O que pensa. O que quer comigo!?

- Já te expliquei. Eu sou a sua antítese. Sua nova forma morfológica. A semântica do que você não vê, não sente, não nada. Eu sou isto, o aquilo e talvez, eu disse talvez, dependendo da maneira que você estiver, eu serei o tudo. O luto. A vida. O amor. E a dor. Eu sou você assim... ao contrário, com sentido e de uma maneira nova.

Ele respira profundamente, fecha os olhos, passa a mão na testa. Sente o suor escorrendo. Abre os olhos novamente e não enxerga mais a pessoa a sua frente.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Trinta e sete anos

Em frente ao espelho do banheiro ele finalmente tem certeza. Talvez a certeza mais terrível da sua vida, talvez da sua morte, mas, com certeza, era a mais terrível, independente de qual dimensão estivesse. O vapor do chuveiro havia embaçado todo o espelho. Com a mão suja de sabonete ele tentava limpar o espelho para ter certeza da sua terrível certeza.

Com o espelho desenfumaçado fixa o olhar. Tenta focar o máximo possível naquele ponto. Olha firmemente. Força as vistas até doer. E constata o que um dia seria inevitável! Ela chegou!

Consternado, começou a lembrar da jornada. Desde quando era pequeno, de cabelos loiros, correndo nas ruas do Primeiro de Maio, brincando na carvoaria da família. Depois se lembrou dos passeios de carroça do “Tio” Zé Guedes. Da linha do trem de ferro que ia do São Gabriel até perto da casa dos avós. Os passeios nos carrinhos de rolimã, na máscara de capeta do Tio Paulo. Nos cinemas com as tias Rutinha, Neide, Solimar e Sônia. Do macacão do Falcon, do pássaro preto do Vô Vicente, do palavreado da Vó Preta. Dos natais. Dos presentes da Tia Luzia. Das bananas vendidas na quitanda do avô. Foi lembrando-se da vida.

Lembrou-se dos sapatos Kildare, da calça Hamuche, dos beijos da mãe, das revistinhas de colorir que ganhou do pai de presente de aniversário. Lembrou-se dos cavalos de pau dados no Fusca meia nove. Dos amassos no Voyage oitenta e dois prata no campo do Saga. Da primeira namorada, dos amigos desta longa estrada. Do Ró, que partiu antes da hora e do Armadinho, que seguiu o mesmo caminho.

E o salsichão caído no chão, que foi comprado com muito custo com a vaquinha do pessoal da faculdade?, lembrou-se também. Até das vindas a Juatuba no Brava verde do Ângelo. Das maconhas fumadas no Opala noventa e dois com o Souza. Das cachaças e choros esvaziados com o Tião. Dos passeios na praia com Neto e Brubas. Das aventuras e desventuras vivenciadas com os “Pinguços”.

Mesmo com a certeza convicta de que ele chegara, não se arrependia de nada do que passou. Saiu do banheiro, caminhou até a sala e viu Vitor. Sorriu um sorriso alegre, leve, único. Retornou novamente ao banheiro e, mais uma vez, focou os olhos no espelho.

Realmente ele estava lá! Único como foi a sua vida. O primeiro fio de cabelo branco saindo da narina esquerda do seu monstruoso e incomparável nariz. A idade chegava. Os fios brancos rebeldes brotavam sem ao menos pedir licença. E a vida doada por Ele, vivida em grande vontade e gozo.

Feliz com toda a constatação da vida, pega uma tesoura, e sem pensar duas vezes, corta o delator dos seus trinta e sete anos.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Anexos

Somos assim,

Eu pertenço a ela,

Ela pertence a mim,

Anexados um ao outro,

Na vida,

Na cama,

Na lida,

Eu sou dela,

Ela é d’eu!

Vida

Encontro naturalmente o caminho do teu corpo,
Nele, sem pestanejar, sinto a felicidade,
Naturalmente, também, é o gozo da vida,
O gozo do gozo de gozar com você!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma dose de conhaque

O álcool já demonstrava seus efeitos. A noite fria sugeria mais uma dose do conhaque para aquecer-lhe novamente o peito. Estava ali, naquele bar da praça, ao menos umas duas horas. Não sabia o porquê de estar ali, entre tantos bares foi parar logo ali, ao lado da casa dela.

O coração apertado, o sexo em atraso, o amor desleixado. Saudades do corpo que, até há pouco tempo, lhe pertencia. Tragou a última dose e, como se estivesse em transe, começou a caminhar rumo à casa da deusa. Cabisbaixo, e calçando a máscara do desejo, prostrou-se em frente do prédio.

As lembranças renasciam em sua cabeça. Lembrava-se da boca, da voz, do cheiro do corpo, dos seios duros e fartos, do vaivém frenético do quadril, do gosto da boceta na boca. As lembranças excitavam-no, mas o medo da rejeição o fazia temer apertar o interfone. O desejo de vê-la era forte. A vontade de tê-la mais uma vez era enorme. O sexo perfeito, ali; era só apertar o número do apartamento e pronto. Pensou novamente se seria apropriado aquele momento, se não haveria outro em seu lugar, se ela ainda o desejava, se... se. Virou-se para a rua e almejou chegar à outra calçada, quando uma voz conhecida o chama.

O sorriso recebido e doado, as trocas de mãos, o beijo furtivo. Entraram prédio adentro, resenharam sobre fatos, coisas, festas, shows e beijos. O assunto surgia, o corpo reclamava a falta, o sexo cheirava.

As bocas se entrelaçaram num balé de corpos no chão da sala, corpos à mostra, seios, pelos, boceta, pau, sexo, gozo. Juras de desejo, beijos longos, amor imperando. Acabaram-se na sala. Janis Joplin cantarolava, e eles ainda com o desejo do amor em seus corpos. Caminharam de mãos dadas para o quarto, onde novamente se amaram.

O corpo dourado pela luz da lua, a boca com o gosto gostoso que só ela possui, os seios amados e cultuados, o púbis nu do pêlo, o amor no sexo. O gozo jorrava, a oração do gozo era repetida como uma ladainha, o desejo de morrer ali, naquela hora, era imenso. O quadril deslizava em suas mãos levando a bunda direto ao seu cacete. O urro do tesão preenchia o vazio do quarto. Seu amor, de quatro, sendo possuída mais uma vez. O céu ali.

Amaram-se durante horas. Horas que pareciam meses, tamanha a intensidade do amor. De pé, ele a beija e desce a escada ganhando novamente a rua. Prometendo a si próprio que voltaria e reencontraria a paz novamente.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Frio de julho

Quero amar como nas noites de julho,
O frio corta a carne latente,
O sexo fica mais quente,
O amor brota em seu sorriso.

Quero sentir as noites de julho,
O ar gelado nos cercando,
Sua boca quente suplicando,
E a vida a seguir liso.

Quero as noites de julho,
Quero você além de julho,
Amo viver as noites em julho,
Detesto sofrer o frio de agora.

Devaneios 0300

No sorriso do teu olhar,

Jogo-me no chão,

E novamente deixo-me pisotear pelo teu amor!

domingo, 13 de junho de 2010

Devaneios 0012

Hoje a noite é de ardor,

A pimenta me queima a boca,

O sexo inerte não me satisfaz,

Meu amor por um punhado de dólar.

Nós dois!

E mais uma noite acaba. E com ela, ao meu lado, volto para casa. Abro a porta e juntos entramos. Procuramos o mesmo copo. A mesma água, o mesmo gole, o mesmo mesmo.

O frio contundente, desta noite, mostra o tanto que estamos juntos. Unha e carne. Sangue e veias. Eu e ela. Nós dois.

Sem frescura deitamos juntos. Nus, inteiramente pelados, nos abraçamos. Aquecemos-nos no frio que nós mesmos provocamos.

A noite de prazer, o amor único, cada qual no seu lado da cama. Sonhos, desilusões e luxúria.

Pela manhã viro para o lado. Peço incansavelmente que ela vá embora, afinal, não a quero tão perto de mim.

Ela, como todas as manhãs, tenta me convencer do tanto que é importante em minha vida. Em minha sobrevida. Em minha sorte.

Eu, amargamente amado, suplico para que ela me deixe. Que nunca mais volte. Que abandone minha cama, pois preciso do calor, do tato, da saliva e do céu.

Ela diz que não. Não me abandonará nunca mais. Sempre estará comigo. Seremos dois sempre sempre.

Sem conseguir convencê-la a abraço novamente e choro em seu colo. Embalado novamente nos seus braços, vamos andando lado a lado.

Eu e a solidão. A solidão e eu. Ela e eu. Eu e ela. Nós dois!

sábado, 12 de junho de 2010

Devaneios 1054

Não se incomode,

Não...

Não me acode,

Não...

Pare, deixa pra lá,

Deixe...

Sabe que sou,

Único,

E apenas,

Um factóide.

Logo por ela.

Eu não amo mais. Apesar de demonstrar este sentimento com tanta facilidade, não acredito mais no amor. Talvez tenha amado até ontem, ou quem sabe até hoje pela manhã. Cansei desta prosa de amor. Na verdade não sei se é prosa ou se é farsa. Ao certo mesmo é que me cansei deste louco e insano blábláblá. Minhas unhas, vermelhas agora, estão mais frágeis. Meu saco murcho. E você sentada naquela esquina se deliciando com outros e outras. Não quero mais falar de amor. Ele não existe. Eu não existo. E refletindo calmamente nós nunca existimos! – Com uma força descomunal ele terminava o ponto de exclamação.

A força foi tão bruta, que rasgou o papel tenro do bloco que ficava disponível no quarto do hotel. Com os olhos umedecidos pelas poucas lágrimas que ele permitia escorrer na sua face, voltou-se para a janela. Do décimo oitavo andar admirava a Bacia de Santos. Longe de sua terra infortunamente descobriu a traição rondando em sua casa. Logo ela que ele tanto amava. Logo ela pela qual, ele, dedicara todo o sentimento mais nobre. Logo ela que um dia jurou fidelidade no altar. Logo ela.

Leu novamente o que acabara de escrever. E envolto de soluços, estes mais verdadeiros que o sentimento expressado por ela, embolou o papel e jogou no lixo. Voltou para cama, e com o sono que havia chegado depois de engolir os dez calmantes, desmaiou pensando nela. Logo nela.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um beijo

Sexta, cesta, sesta ?

Não seja besta!,

Eu só quero cair em seus braços e matar-me no seu amor,

Jorrar meu jorro de gozo no teu gozo,

Ser feliz ao menos esta noite,

E por fim...

Suplicar mais uma vez um beijo seu.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Fase em frase

No universo frio, meus olhos ardem, sem ao menos ver a luz da vida novamente.
O sol tenta aquecer, mas do jeito que estou, nem a lua conseguiria.
Finalmente entendo a solidão!
Obviamente a procurei.
É sensato às vezes tê-la ao lado.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sumariamente apaixonado

Sumariamente apaixonado pela vida. Acordei desta maneira, nesta manhã fria e insensata. A cabeça me doía, o nariz não estava nada bem e, para completar, atrasado! Olhei para a porta ainda fechada, fui ao quarto do meu filho. Ele, arrumado, me esperava para ir ao colégio. Tomei um banho corrido, penteei o que deu do cabelo e segui meu caminho. Apaixonado pela vida.

Jeep sujo, ar-condicionado funcionando precariamente, jornal falando de coisas nada agradáveis e eu ali, sumariamente apaixonado pela vida.

Não!, não vá pensando que apareceu uma moça em minha vida, que Maristella reaprendeu a fazer xixi no lugar certo, que Vitor recuperou as notas perdidas ou que Guinelo fez cirurgia e consertou o nariz. Nada disto aconteceu!, nadica de nada mesmo. Apenas acordei, olhei pro céu cinza e resolvi me apaixonar pela vida.

A Contorno, como sempre, abarrotada de carros e de gente. A Via Expressa nem precisa dizer, não é? E a Fernão Dias? Claro que tudo estava do mesmo jeito, nada novo, sempre engarrafado. E pra terminar, não tomei meu expresso nesta manhã, afinal, acordei atrasado. E mesmo assim, com tudo dando errado, resolvi ficar apaixonado pela vida.

Lupiciniando

Encostar-me em seu corpo,
Espelhar meu rosto nos seus olhos,
Amar-me em seus braços,
Penetrar em sua alma,
Ser eu de você,
Ser você de eu!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Virei burguês

Acordei hoje com um frio danado. Manhãs de junho são indecentemente frias. Mas esta foi mais. Não sei o porquê, mas me senti mais friorento. Eram seis horas da manhã, o céu cinza, típico de junho. O corpo gelado, os pés quentes. Achei que havia algo de errado. Olhei pra porta, estava fechada. Verifiquei a janela do quadrado da terra santa, fechada também. Não conseguia achar explicações para o frio!, nada mostrava o motivo do frio.

Outra vez o celular desperta. Às vezes tenho vontade de arremessá-lo contra a parede. Todo dia é a mesma ladainha. Aquela música aterrorizante me incomoda. Mostra-me que está na hora do despertar. Pior que o despertar das manhãs de junho é o programa “Despertar da fé”, que passa numa emissora destas aí. Não assisti, realmente nunca assisti, mas imagino do que se trata. Algum “em-veado” do Todo Poderoso pregando “suas” coisas. E o interessante é que existe gente que acredita nisto. Tudo bem, é questão de cada um. Eu não acredito nem assisto. Afinal, os meus dez por cento é do garçom. Pessoa bem mais confiável.

Passados os tão deliciosos cinco minutos, o danado me relembra, mais uma vez, que está na hora. E o frio apertava mais. E eu não entendendo como estava com os pés quentes e o corpo frio. Fui verificar o que estava acontecendo.

Minha gente, meu povo, meus amigos, meus meus!, virei burguês! Sério, lembra aquela música do Barão?, pois é, dormi de meias! Logo eu, um socialista convicto, um rapaz oriundo da classe Z, agora burguês. Mas teve bom. O pé tava quentinho, parecia não sei o quê. Ai ai, como é bom dormir de meias. Já experimentou? Não!? Então tente. Hoje à noite você vai deitar e colocar um bom par de meias. Amanhã cedinho você conversa comigo.

Mas, por favor, não faça a idiotice que eu fiz. Vista uma roupa!, porque este lance de dormir de meias só vale a pena se você não dormir nu.

obs. Texto revisado, fraternalmente, por Karina Otoni (@karinaotoni)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Que amor é este?,

Que amor é este?,
Que arranca minha pele,
Consome meu sangue,
Ulcera o meu estômago,
Dilacera os meus intestinos,
E por fim, sem mais nem menos,
Arranca-me o coração!

Que amor é este?,
Que consegue me deixar vazio,
Mostrar-me a face da dor,
Revelar-me o querer do anoitecer,
Tornar-me dependente de algo que não tenho mais,
Onde o horror da solidão vive a escamurrengar minha vida,
E o ébano mundo me devora!

Que amor é este?,
Que desaparece em meio ao agreste,
Agreste da minha alma,
Alma que não é mais minha,
Minha que agora é sua,
Sua que já, agora, é de outrem,
Que amor é este?

Obituário

Segunda-feira, seis da manhã. Ele levanta e vai até a varanda pegar o Estado de Minas. O frio corta-lhe a carne. Manhãs de junho são sempre assim, frias! Ainda mais as segundas-feiras. Lentamente caminha de volta até a sala e se posta no sofá. A xícara com o café quente ao lado, o saboroso biscoito a ser deliciado e o jornal em mãos. Sua rotina matinal perfeitamente seguida. Café, roscas e jornal.

Já beirava os quarenta anos e conseguia gozar de uma tranquilidade matinal incrível, algo raro na sua idade. Pôs-se a ler o folhetim diário. Abrindo a página de “Cidades” não acreditou no que estava vendo. Leu e releu várias vezes. O coração antes tranquilo, agora batia freneticamente. Um ritmo descompassado e apressado. Falta-lhe ar. A ânsia chega avassaladora. As pernas bambas gritam de horror.

Levanta-se atordoado com o que vira e começa a procurar a velha agenda.

O frio daquela manhã parecia mais estridente do que nos outros dias. O céu cada vez mais nublado. O sol, cada vez mais escondido. Parecia que sabia que naquele dia não era pra brilhar. O resplendor de tão majestoso astro deveria ser apagado pelo gris do dia. A água quente do aquecedor solar resolvera não aparecer. O café que há pouco estava quente, neste momento estava gelado. As roscas apetitosas ficaram ácidas. E o sentimento da manhã tornara-se cáustico.

Lembrou-se do tempo da escola. A farra furtiva no intervalo. O elevador lotado para chegar à sala de aula. Os SMS’s passados a todos na hora da prova. Colas, trabalhos e aulas teóricas. Podiam dominar o mundo. Acreditavam que eram todos os melhores do universo. O pão com carne do boteco da esquina. O macarrão comprado no ambulante. As escapadas à zona da cidade. O álcool do dia a dia. Tudo era perfeito naquele tempo, até mesmo a falta de dinheiro. O medo da prova ser cancelada. O baseado compartilhado entre os mesmos de sempre. E o frio da noite, independente do mês do ano.

Voltou à sala e novamente pegou o jornal. Realmente era verdade, ao menos estava escrito. Saudades seriam eternas. Lembranças seriam revividas. O tempo dando uma grande reviravolta no tempo. A dor cortante como o frio daquela manhã. O nome do conhecido no obituário.

domingo, 6 de junho de 2010

Devaneios 154

Eu tenho em minhas mãos apenas o ódio da dor que tu me deixaste. Ó promiscua e infiel mulher. Vós que prometestes o único e ardente amor. O singular e irreparável sexo. A extraordinária e irreparável morte. Porém, viro-me ao avesso e não lhe enxergo mais.

Unicamente promíscua. Exclusivamente amada. Excepcionalmente serpente.

Amada, serpente, carente.

Assassinara-me. Único e exclusivo homem do teu viver.

Largo-me agora na enxurrada do esgoto que passa no fundo do meu coração. Este errante e andante. Pétreo agora. Vivo morto. Fétido!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cama e mesa

Meu amor,

Aqueça-me,

Tormente-me,

Tempere meu corpo com o suor do teu,

O vinho da sua saliva,

O alho do seu apego,

Sem ao menos pestanejar,

Sirva-me para seu deleite.

Cardápio do dia: meu coração na bandeja ainda pulsando por você!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

3x4

Com a foto 3x4 na mão, ela fica com os pensamentos distantes. Já fazia alguns meses que estava longe da família, do lar. Viera tentar a vida na cidade grande. Como é de costume, o êxodo. Sozinha no quarto de pensão ficava alheia a toda a baderna que acontecia a sua volta.

As noites eram assim, uma suprema e eficaz tortura. A falta do chão que ficou em sua casa, lá pra trás, há uns bons trezentos quilômetros de distância, a deixava sem fé. O prego não encontrava a madeira. A firmeza era inexistente.

O ensejo de vir para a cidade grande apareceu de supetão. Era a oportunidade de sua vida. Deixou, porém, o amor. Amor que batalhara anos e anos de sua longa vida de dezenove anos para conseguir. Algo puro. Tão puro quanto sua pureza ainda não tocada. Jovem, pobre e sozinha. E ainda numa pensão vagabunda da Goitacazes com Olegário Maciel. Putas e putos conviviam ali. E ela, com sua inocência imaculada, vivendo em meio aquilo tudo.

A foto na mão. O coração em prantos. Vontade e desejo insano de fazer a meia volta. O pouco dinheiro. A saudade de todos.

Amanhece o dia. O sol quente lhe aquece a face. O sorriso largo no rosto. A aflição açoita o coração. A parada na esquina. O sorvete da máquina italiana. A banca de revistas. Desce do ônibus e põe-se a caminhar freneticamente pela calçada sem ao menos cumprimentar qualquer alma viva. Lê a placa da casa, bate na porta e finalmente sorri!

Onde você estava enquanto eu ouvia “Lanterna Dos Afogados” e morria de tanto chorar? – Indaga amorosamente ao moço da fotografia 3x4. Nos braços do amado, finalmente estava em casa.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A-penas

Saudades do teu corpo,
Da tua mente,
Da nossa gente,
Do seu amasso.

Saudades da água ardente,
Do dente branco,
Do nosso pranto,
Da pele quente.

Saudade de eu,
De mim,
De tu,
De nós.

Devaneios 615

Efêmero é a felicidade,
Hermético sou,
Tragicidade a vida,
Irrefreável à vontade.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Despertar-se

Pútrido, meu corpo despertou-se assim. O peso das coisas terrenas e carnais, vividas e sentidas, durante este longo período que sigo existindo, pesa cada vez mais. O etílico corrompe minha moral transformando-me em amoral. Minha eficácia degrada a todo o momento. Meu Eu desaparece paulatinamente. Depaupero minha vida e meus amores.

sábado, 29 de maio de 2010

Inerte

Meu corpo arde, derrete. Fico inerte frente ao espelho. Não consigo mais mover um músculo sequer.

Meus olhos me comem com a fúria louca de um louco descomedido.

O que fazer para controlar esta louca vontade de louco de mais uma vez voar?

O amor não tem o mesmo peso do algodão preso às plumas do meu travesseiro. Não tenho mais... perdi por ali. Maldito seja quem inventou.

Inventou? Inventamos?

Volto-me ao espelho. Meu mundo ebâneo. Mundo que pertenço e amo. Nasci assim. Errado.

Venha!, derreta-se em meu corpo de promiscuidade. Estou aqui, parado, inerte, derrete, arde.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

A praga

Com o rosto escondido entre as mãos, no escuro do seu quarto, ele se desespera ao notar que mais uma vez ela o deixou. Céptico do amor dela para com ele, afinal era a décima vez que isso acontecia, ele chorava copiosamente. O coração apertado, ânsia louca e ininterrupta. O sono o abandonara também naquela noite. Noite igual às de outrora em que já estava cansado de vivê-las.

Sabia a decisão certa a ser tomada. Os laços do enlaço deveriam ser desatados. A dor de um fétido amor tinha que se afastar de sua casa. Com coragem, deveria colocar este sofrimento na prateleira e deixá-lo lá. Junto com outros desamores do passado. Nem altar, nem beatificação e nem ao menos uma punheta ele, o amor maldito, merecia.

Com a certeza encarnada em seu corpo, levantou-se da cama. Caminhou até a cozinha, colocou o café no filtro, ligou a máquina e esperou o líquido preto e forte ficar pronto. Com a xícara já ocupada pelo salvador líquido, olhava pela janela os pombos no telhado em frente. O aroma do café o despertava para a vida. Vida que, a partir daquele momento, seria de festa, alegria e devoção.

O suor daquela noite escorria pelo corpo. Levava, enfim, o amor maldito e desafortunado. E abria espaço para um novo. Estava certo de que esta era a condição de vida que precisava. Amor novo!, de forma desabrida. Onde ele e ela iriam poli-lo e até chegar à perfeição. A maestria do sentimento seria alcançada em pouco tempo. Tinha certeza disto. Iria batalhar por isto. Esta seria sua nova forma de amar.

Convicto dos seus novos ideais, pega o telefone no bolso, disca o número e novamente suplica pela sua volta. Afinal, agora já sabia amar.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Advento do amor

Eu sonhei com você esta noite. Estava com o corpo desvisto entornado em minha cama de aço frio e cortante. Minha pele febril com o peso da falta do amor sentia a aproximação da tua. Esta que aflorara com o advento do amor.

Você chegou e me abraçou, num dos nossos mais longos e furtivos abraços. E com um tapa lançado à face, despertou-me do sono inócuo. Com sua imagem sentada ao lado do meu receptáculo de dor, senti a alegria vibrar onde já fora viril várias vezes ao te encontrar.

Com suas garras vermelhas, seu sorriso brando de branco, seus lábios perfeitos fui sendo degustado lentamente. Abriste meu invólucro e retiraste toda a dor que ali habitava. Minha virilidade reviveu. A alegria rondou todo o quadrado. O gozo de gozar novamente me fez uma pessoa viva. E você, se saciou com minha carne em seus dentes. Meu gozo em teu gozo. Minha pele na tua.

Depois de devorado, bruscamente e amadamente, sereníssimo fiquei. Imóvel, trajado do gozo que me deixaste. Iluminado pela alegria da vida que vivi mais uma vez. O aço cortante não mais me importunava. Brandeaste minha febre de pele. Afloraste o amor em mim.

Mesmo acordando para Dante, que antes não passava apenas de devaneios e agora é real, senti-me livre e leve. Radiante da noite de volúpia. Amado do amor que me visitou.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Maio e Junho

É maio. Na verdade, maio se finda. Maio maior mês do ano, ao menos para ela. Desde o início de sua consciência pensava em inferno astral em maio. Maio começava e as coisas apareciam: enxaquecas, dores, rugas, nervos à flor da pele, etc. Ano após ano, a batalha de maio era vivida.

Marcam-se milhares de coisas em maio: casamento, namoro, noivado, festas, churrascos. Diferente dos demais maios de sua vida, este foi especial. Renascimento no fim de maio. Reiniciar!, era tudo o que realmente precisava.

Durante alguns anos as coisas não estavam bem e vinham-se arrastando, dia após dia. Nada andava. O carro vivia com problema. A cadela amada vivia arredia no canto da sala. O afilhado querido sempre longe. A mãe com asma. E tudo piorava em maio.

Maldito maio – dizia a todo o momento.

Mas num belo dia de maio tudo muda. O telefone toca. O coração palpita. Um encontro marcado. Ela fica de ligar novamente. Outro encontro. A vida renasce. Horizontes se abrem. Sorriso aparece-lhe novamente na face de forma esplendorosa. Conversas sérias. Pendências resolvidas. Acertos feitos. Renascimento... renascimento!, e tudo na medida exata. Projetos novos a serem conquistados. Vida nova, tudo novo.

Salve junho – dizia a todos que encontrava. Mas esquecera-se que tudo começou no seu malgrado mês. E, mais uma vez, maio, o mês terrível, vai ficando para trás e levando os louros da glória para o teu próximo irmão. E junho começa sorridente agradecendo ao irmão mais velho o presente da vida.

p.s.: Em homenagem a sua nova vitória.

Renasceis

Não me prostituo mais. Acho simplesmente nojento o fato de algum outro corpo me encostar sem ao menos me amar. Mãos que não pertencem ao meu coração não pertencem ao meu corpo. Sexo sem o desejo de acordar no outro dia pela manhã e novamente amarmos. Cafés sem intimidade. Dinheiro imundo colocado sobre a mesa de um quarto qualquer. Dinheiro qualquer como o sexo malfeito e obrigatório – disse ao encontrar um ex-cliente que a interrogava sobre o porquê da sua ausência nas festas promovidas por Madame Ortiz.

Parada na praça de alimentação daquele badalado shopping, chamava a atenção de todos. Não tinha homem que não a olhasse com cobiça. Cobiça que antes era fácil de saciar. Hoje não mais. A vida vil que tinha não lhe pertencia mais. Suas pernas maravilhosas, seus seios fartos e duros e sua boca carnuda agora pertenciam a apenas uma pessoa. Seu amor.

Pasmado com o que acabara de ouvir, pôs-se a afastar o mais rápido possível daquela tentação acessível em outros tempos. Ela era sorriso só. Mais uma vez havia marcado o território do amor em seu corpo. Corpo que já havia passado de mãos em mãos. Bocas em bocas. Seios em seios.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Descoberta

Eu conheci tudo muito tarde nesta vida. Inclusive a mim. O amor me habitou mais velho que o mar. O sexo, descoberto logo após a lua e marte. Netuno e Plutão chegaram junto com o filho. E o universo nunca soube que não sei e nem soube o por quê e nem quando. Vida de eu com o mundo de mim e nem ao menos o do por quê.

sábado, 22 de maio de 2010

Abscissa

A falta do teu conjunto ao meu,
O hemisfério sul distante do norte,
Jimi Hendrix não conheceu Gorbachev,
E eu nunca mais irei encontrar a paz?!
Meu coração é distal...

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Convivência

“Fraco, lixo, escroto, babaca!”, não era a primeira vez que ele escutava isto dela. Toda vez que o álcool lhe consumia a vida, a batalha era a mesma. Um tempo bem maduro de convivência. Vitórias e derrotas alcançadas. Mas aquilo deveria ter um fim.

“Filho da puta, ordinário, mesquinho”, e o vocabulário chulo era despejado em seus ouvidos. Ouvido de mercador nestes momentos de ódio misturado ao amor. Já se preparava para as agressões físicas. Mantinha distância. Recuava-se ao ponto de se trancar no quarto ao lado. Proteger o lar.

“Eu te amo, não me deixe só”, a mente começa a funcionar. O sentimento de arrependimento aparece. A crise moral, do amoral feito, arrebata-lhe. Os cabelos loiros esvoaçados cobrem a face. O desespero aperta-lhe o coração. Porta trancada, mulher debruçada à mesa. Choro. Pele trêmula. Calafrios e arrepios.

A mão estendida oferecendo-lhe um colo, um afago, um carinho. Lábios salgados das lágrimas derramadas. Promessas e juras de fidelidade soltas no espaço do quadrado. Roupas espalhadas pela sala. Fluídos e corpos trocados. Amor feito do ódio repentino. Ódio feito do etílico. Gozo do gozo de gozar do amor.

Caráter à prova. Convivência à prova. Amor à prova.

E a batalha continua... dia após dia.

Encontro

Um rosto,
Um corpo,
Você!

Conversas,
Detalhes,
Beijos.

Peitos,
Bocas,
Sorrisos.

Você,
Cama,
Porta.

Solidão estéril que me apega e me abisma...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Rendição a Ártemis

No mais novo e estupendo espetáculo da terra, vejo seus olhos. Olhos de lince a me procurar. E eu me torno a mais saborosa e perfeita caça. Caça que fica sempre de atalaia. Olhando para descobrir de que lado aparecerá seu predador. Mas quando sinto seus olhos, me derreto, entrego-me. Como uma fêmea no cio soltando seus sinais de submissão, deixo-me seduzir pelos seus encantos. Caçadora de mim, acha-me e leva-me para a vossa e única degustação. Degusta-me com sua boca, com seu olhar, com seus lábios e com teu corpo de deusa. Minha Ártemis!, eu, seu súdito, estou aqui, pronto para ser ofertado em seus braços longos e fêmeos. Ser servido em seu banquete da noite, do dia e da tarde. Que minha carne seja ofertada e devorada por ti, somente tu poderás se deliciar em mim. Excitai sobre minha pele desnuda, sem pudor e com o mais belo e irrepreensível amor. Não sintas culpa, sou seu, seu súdito. E você minha, minha deusa, minha única e femeal caçadora.

Morro do ABC

Morro do ABC, terra de ninguém, aliás, terra de um homem só. Este homem truculento e vingativo detém todo o poder da comunidade através da violência. Violência que também ajudou a produzí-lo.

Aos sete anos de idade, Marcelino Ferreira era apenas um pequeno, um catarrento como se dizia. Vivia correndo entre os esgotos fétidos daquele aglomerado. Viu seu pai sendo violentamente fuzilado. E como Sérgio Brito e Nando Reis escreveram em “Marvin”, o pai colocou todo o peso da família em suas costas. E isto logo as sete anos de idade. Passado alguns anos, quando estava com dez, viu a mãe sendo violentada e logo depois fuzilada por um grupo de policiais velados. O ódio do pequeno engraxate, profissão que conseguira exercer até o momento, explodiu. A pequena besta-fera que morava dentro de seu coração tomou conta de seu ser.

De engraxate virou vapor, posto que teve pequena duração, pois logo-logo virou soldado. Demonstrando muita desenvoltura com números, além de uma grande fidelidade e agradecimento a João Doido, este dono do morro, foi promovido a gerente. Assim que assumiu tal cargo sua vida mudou. Começou a aproveitar mais o dinheiro que o tráfico lhe rendia. Mulheres, carros, armas, festas e status. De Marcelino Ferreira transformou-se em Marquinho Mão Pesada. Foi agraciado com tal título, pois sempre que pegava alguém roubando na venda do produto, era castigado severamente. Dizia que tinha as mãos de ferro dos deuses da justiça. Que Xangô não escute isso.

Mas o tempo foi passando e Marquinho foi ficando ambicioso. O cargo de gerente não era nada em comparação ao de dono do morro. Arquitetou um plano malicioso e infalível para a derrocada de João Doido. E num belo domingo, como foi religiosamente planejado, João Doido é encontrado morto. Parada cardíaca. Sem traços de envenenamento ou qualquer outra coisa. Todo mundo sabia que os dedos de Mão Pesada estavam presentes naquele ataque. Afinal, Doido tinha apenas trinta e dois anos, idade tida como avançada no ramo da atividade que exercia. Pela primeira vez no morro não houve luta para decidir quem seria o novo dono. Marquinho Mão Pesada foi apoteoticamente conduzido ao cargo. Louro e glórias ao novo César, como diriam os romanos.

Desde então, o morro vivia sob suas mãos pesadas. Era necessário apenas um leve deslize para que o sujeito fosse punido. Às vezes a morte não era o bastante, era mais didático humilhar o desventurado em praça pública. Somente em casos extremamente escabrosos que a morte era utilizada.

E assim o Morro do ABC ia vivendo “pacificamente” e “harmoniosamente”, até que um dia um fato novo aconteceu...

Um novo pai fuzilado, uma mãe violentada, um filho com uma nova missão, uma caixa de engraxate abandonada...

terça-feira, 18 de maio de 2010

Lembrando Vinícius

O sol quente fazia com que suasse mais que tampa de chaleira. E ele ali, parado no tempo que não tinha mais, pensando algo bonito de se escrever para a menina que conhecera no dia anterior. Loira de olhos esverdeados, um contorno maravilhoso da boca, uma silhueta grandiosa, e porque não, apetitosa. Ele, um rapaz no início da adolescência, que mal acabara de ver seus primeiros pentelhos nascerem e já aflorara o amor em teu coração.

Lembrava dos livros que preenchiam a pequena prateleira da sala, onde Drummond e Vinícius desfilavam seus poemas, e tentava lembrar de cada um que já havia lido. O tempo passava e a primeira estrofe não chegava. O sol ficava mais quente e ela, com certeza, desceria do próximo ônibus. Mas de nada adiantava. Plagiar não queria. Queria inventar, ser um poeta do amor como Vina havia sido. Mas o tempo corria contra e ele cada vez mais afobado.

Pensava nos cabelos lisos, no doce perfume, no andar delicado e sensual, no batom vermelho da boca e até mesmo no keds que ela calçava. A mão tremia, o papel já molhado com o suor do neófito e malogrado poeta, e nada de pitibiribas!, nenhuma linhazinha confusa, nadica de nada mesmo. O mundo do seu amor iria ruir-se. E ele só precisava escrever um poema que descrevesse tudo o que sentia. Coçava a cabeça, olhava para o céu, olhava para o poste, olhava para todos os lados, e nada!

Como já era previsto, o ônibus aparece. O coração palpita. O suor lhe alaga a camisa. O perfume barato fica em evidência. O céu escurece ao mesmo tempo em que o sol começa a iluminar somente o veículo. A porta é aberta e ela desce. Ele começa a flutuar quando percebe um doce olhar em sua direção. As mãos se encontram, a paixão ferve nos corações. O sorriso amarelo lhe ganha a face. A boca abre e começa a balbuciar uma bela canção popular: “Se você quer ser minha namorada, Ai que linda namorada, Você poderia ser, Se quiser ser somente minha, Exatamente essa coisinha, Essa coisa toda minha, Que ninguém mais pode ter...”.

Antes mesmo de terminar é presenteado com um longo beijo. O céu novamente fica azul. O amor é verdadeiro e real. O coração frenético. A respiração encurta. Os lábios se procuram e se encontram. Agora, de mãos dadas e felizes, seguem o resto do caminho. Ela feliz por ter conhecido um poetinha, ele feliz por lembrar-se do Poetinha.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Uma cerveja, por favor

Merda!,maldita não está vendo meu carro? – Esbraveja ao volante após ter levado mais uma fechada. Trânsito de segunda-feira, via tumultuada, greve de ônibus, batidas leves que geram congestionamentos enormes. E ele de ressaca. A paciência passeava de longe, nem pensava em momento algum habitar aquele ser. A queimação nervosa do estômago lembrava que devia reduzir o álcool.

Arrota mais uma vez e sente a queimação a subir pelo esôfago. “Tenho que parar de beber”, resmungava. Mas parar de beber era algo que realmente não pensava em fazer tão cedo. Começou a imaginar o que poderia fazer para melhorar sua vida. “Academia, ficar correndo naquela esteira. Depois posso comprar uma bicicleta e dar volta na lagoa. Caminhada acho que vai ajudar”, mero devaneio a respeito do seu estado de vida.

A cadela no cio sujando a sala, o filho na escola, mais uma vez o trânsito lento e carregado. A mudança de casa por acontecer, o aluguel vencendo naquele dia, e certamente, um dia longo cheio de problemas.

Cigarro não usava mais, largou há muito tempo. A gordura tinha que diminuir. O peso da idade e dos quilos adquiridos junto com eles chegava para cobrar uma solução imediata. Logo a ele que detestava ser imediatista. Mas o preço começa a ser caro demais pra pagar a vista, de uma vez só. Era notório que as prestações seriam mais leves, e quanto mais cedo começar a pagar, mais rápido a dívida seria quitada.

Mais uma fechada, mais xingamentos esbravejados ao volante. A irritação, o pensamento lento, a queimação ardendo o corpo. Um posto, uma lanchonete. “Uma cerveja, por favor”.

domingo, 16 de maio de 2010

Somente um escrito

Meu universo é denso, tenso e inconstante. Nem nada muda, nem tudo fica igual. Apenas continua sendo meu universo. Hoje acordei com a ressaca do medo de viver. Amanhã acordarei com a vontade louca de viver. Viver solto. Bicho solto. Cabelo solto ao vento sem medo do relento! Uniforme e constante esta alegria da vida que vive se escondendo e ressuscitando. Mas no inferno onde o diabo mora, eu fico por aqui a sorrir. No paraíso dos deuses. Deuses! Salvem-me!, levai-me para onde não tenha mais a dor, a morte, o açoite e principalmente as cobranças sem fundamentos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tambor

"Agora que você voltou
Arranque minha pele
Faça um tambor
E por favor não vá nunca mais
Please don't go
Nem me diga
Por onde andou
Agora que você voltou
Já esqueci
Quando foi e por quê
Esqueci as palavras rudes
Que ensaiei pra dizer
Agora que você voltou
Fique comigo em paz
Meu amor
E por favor não vá nunca mais.
Please don't go"
 
Fonte: Música: Tambor
          Autor: Chico César

Mona Lisa parada ali no Louvre

Pairando sob o céu azul nesta manhã de maio, vejo pessoas tão desconcertantes quanto a Mona Lisa parada ali no Louvre. O nexo já não pertence ao sexo. A exatidão de uma equação matemática não coincide com a inexatidão de um poema de amor. E eu fico aqui em cima observando todos e tudo.

O menino com os pés no chão em cima de outros meninos, tentando ganhar a vida com malabares. Às vezes com a arte circense, noutras com a arte de gatuno que infelizmente aprendeu nas ruas. Vejo a moça parada na praça da rodoviária. Essa tenta ganhar o pão utilizando a tão preciosa dádiva que lhe foi ofertada ao nascer, o amor. O mesmo amor que ela procura em outros, que sonham como ela, encontrar. Mais a frente vê-se um andarilho, este um pobre diabo, não sabe mais quem é. Perdeu-se no mundo, ou será que o mundo que o perdeu? Sujo, faminto, sem lembranças e até mesmo sem um mínimo de dignidade, vive por aí.

Fecho os olhos. Não sinto mais minhas pernas, não sinto mais o ar, não sinto... apenas não sinto.

O céu azul, o Louvre aberto e nós parados em frente a mais bela Mona. Filas de pessoas param, e assim como eu, ficam a admirá-la e apaixonam-se pelo enigma criado por Leonardo. Respiro profundamente e vejo o desconcerto em que vivo e permaneço a viver. Penso no menino, na moça e no andarilho. Finalmente coloco meus pés no chão, respiro profundamente e volto a viver minha realidade. Realidade de pessoa vivente que sou. Pessoa, que como eles, que vivem nesta cidade nefasta. Com diferenças, desconcertos e desamores. E ela continua parada ali no Louvre.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Enaltecer a tristeza

A tristeza enaltece o meu sentimento em relação às relações vividas e sofridas. Nesse ambiente juramentado pela dor do amor, sinto-me cada vez mais inferiorizado aos grandes amantes de outrora, e até mesmo aos novos Dons Juans das esquinas de Minas. O peito segue sofrido, o ópio já não me conduz à extrema sensação de leveza do existir. Sigo me contaminando, cada dia mais, com a inexatidão de não ser mais Eu. Eu que já fui o feroz!, o selvagem no cerne!, o caçador de caças absurdas e infundadas. Sinto-me cada dia mais fragilizado e entregue aos leões, como Daniel, porém, com uma grande diferença: as bocas não estão fechadas e, a cada dia, me arrancam um pedaço desta carne que me serve de escudo. Escudo derrocado e definhado pela tristeza enaltecida, dia após dia, em relação às relações vividas e sofridas.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Paixão de bar

O hálito que exalava da sua boca demonstrava o cio presente. Não fazia mais idéia quanto tempo havia passado desde a última vez que foi possuída por alguém. Sentada na cadeira do bar, já meio extasiada com o etílico, ela olhava para o rapaz, cada vez mais apaixonada.

Paixões são repentinas e devem ser vividas no exato momento do seu aparecimento – divaga com o rapaz a respeito da paixão e seus mistérios. Não conseguia mais ocultar o estado prolixo de excitação. Queria ser possuída ali mesmo, se possível, e, com isto, mandava seus sinais de fêmea. O sabor do amor apresentava cada vez mais nos copos virados vagarosamente. Garrafa após garrafa.

A conta, por favor – ordenou ao garçom que fosse rápido, pois não podia mais esperar. Mais alguns minutos sentada ali naquele bar, naquela calçada e naquele estado, não seria mais responsável pelos seus atos. A mão sobre as mãos do seu futuro macho suava. Calafrios eram sentidos e o cheiro do cio espalhava-se em sua atmosfera. O amor estava por vir.

O frio do mês de junho, o calor do mês de janeiro e a festividade do carnaval, tudo isto ocorrendo naquele instante. Ali, naquele carro. Parado numa rua qualquer de uma cidade qualquer. A paixão sendo absorvida e resolvida em pequenos metros quadrados. O inferno cada dia mais próximo, segundo seus preceitos religiosos. O amor que iria curar seus males da alma. E o cheiro do tesão finalmente perfumava a sua vida.

domingo, 9 de maio de 2010

Da moral e dos bons costumes

Ah meu Deus!, desisto. Quero morrer! – Gritou no meio da noite e ecoou em todo ambiente.

Já velho, largado e sozinho no quarto. Com seus 35 anos de serviço militar e suas várias horas de DOPS, hoje, aquela figura ameaçadora já não existia. Agora um velho qualquer largado no palacete, que conseguiu “comprar” com dinheiro de parentes de inocentes que “ajudou” a se safarem.

O palacete comprado no final da década de 60 já não lembrava mais o tão temido Senhor DOPS. Agora estava como ele, em ruínas, pronto para finalmente desaparecer. Aquela esquina da Varginha com Pouso Alegre - onde houvera várias festanças regadas a muito uísque, coca e mulheres subversivas amarradas nas pilastras do meio da sala - hoje estava entregue à escuridão e solidão.

“Pai!, tire de mim este lamento tão sufocante!”. Mesmo sendo responsável por diversas mortes e desaparecimentos, ele se dizia fiel a Deus e à Igreja. Com tantos pecados mortais que carregava nas costas, o que mais ele queria era que seus fantasmas lhe deixassem em paz. A mesma paz que jurava entregá-los quando estavam vivos. As cobranças das mortes em nome da moral e dos bons costumes sempre o rondavam.

Agora acamado, a diabetes lhe cobrando o tempo de luxúrias, ele só pensava em encontrar seu Pai e pagar pela merda toda que fez durante sua vida. Filhos que foram arrancados do ventre das mães, filhos que foram dizimados longe de suas mães, filhos que foram gerados sem o consentimento das mães. Filhos que ele nunca teve, pois achava que seriam sua fraqueza. Alguém poderia fazer com eles exatamente o que ele fazia com os outros. E ele sabia a dor que causava. Mas tudo tinha um porquê: a moral e os bons costumes!

Teve medo quando o regime acabou, mas existia a anistia. Ficou mais aliviado quando houve a regulamentação e, mais feliz ainda, quando o STJ sacramentou o seu perdão. Mas, mesmo assim, seus fantasmas não lhe deixavam em paz. “Torturador não teve culpa, está na lei! Deixem-me em paz seus bandidos!”, tentava argumentar com os algozes cobradores da consciência que apareciam sempre para lembrá-lo dos seus atos. Atos!, afinal vivera num país governado por atos.

Os filhos sempre estavam lá. Sempre colocando um espinho acentuadamente agudo em seu corpo, em sua mente. O espírito já lhe cobrava as dores, e agora a carne pútrida também dava sinais de cansaço. Mas tudo é certo neste mundo, o lamurio iria perdurar por mais tempo que ele achava. A carne iria ficar cada dia mais fétida, o casarão iria ruir-se cada dia mais, e a solidão o perturbaria até o fim dos seus dias. E seus dias seriam cada vez mais longos e tenebrosos.

“Ah, meu Deus!, desisto. Quero morrer!”, gritou mais uma vez, e novamente não fora atendido. E assim Ele fazia o mesmo quando os filhos clamavam a ele a morte para se livrarem de suas garras. Garras da besta-fera da moral e dos bons costumes.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Carta ao Professor Xavier

Desfazer os laços, fechar os ciclos. Círculos me lembram ciclos que trazem o Ciclope que, por sua vez, me leva aos X-Men e finalmente chego “A Batalha Final!”.

Salve-me Xavier, com seus poderes psíquicos, tirai-me esse peso absurdo que me arrebata todo dia pela manhã. Antes mesmo do café matinal ele já assola meu dia. No final da noite, acrescido de congestionamentos, motoboys dos infernos e motoristas sem mãe, minha cabeça explode. E eu fico aqui rogando para que você, meu grande herói Xavier, entre nesta sua máquina gigantesca, e porque não dantesca, e me tire deste sonho que, como a máquina, não passa de um cenário de Dante.

Não meu amigo, não possuo poderes fabulosos como os seus. Apenas imagino cenas e personagens para refrescar um pouco esta vida imaginária que todos nós vivemos. Como bom conhecedor e pesquisador, Morpheus já nos adiantou que vivemos, todos nós e inclusive você, na ilusão de ser o que não somos. Aproveitando o gancho e o suplício, recorro a ti para finalmente entender... o que somos e como vivemos?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Na mercearia

Divago sobre poesia com o dono da mercearia. Dois ignorantes na arte de poetar. Mas a gente tenta. Fazemos rimas esdrúxulas. Declamamos sonetos que não existem. Profetizamos o amor eterno e incondicional em versos chulos. Erotizamos a vida e as relações malsucedidas e as bem-sucedidas também.

A loura gostosa que passa na esquina. A negra de seios firmes e que rebola que é uma maravilha. A japonesa que até hoje pela manhã não comemos. A ruiva romântica que vem todo dia comprar um não sabe o quê. A morena que está no ponto do ônibus conversando com a outra de cabelo vermelho. Essa tem um baita rabo que não tem como não observar.

Somos dois tarados poéticos. Comemos todas nas nossas divagações poéticas sobre o amor. Amamos todas. Odiamos as chatas e finalmente casamos com a melhor. Qual é a melhor? Nem sabemos, e não nos preocupamos com isto. Afinal, amanhã outras musas estarão passeando em nossas vidas. E voltaremos a poetar...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SALdade

A saudade corta minha carne. Carne velha e sofrida de gente humana animalesca. O sal do meu suor salga a carne que me contorna. Deixando-me a cada dia mais salgado. Salgado do sal da vida que vivo. A SALdade me torna cada vez mais salgado de saudoso. Saudoso do amor da minha amada que me deixou em busca do doce da vida. Vida doce do bagaço da cana, do melaço do mel, do inferno vivido. Vida que não me pertence, pois o sal da dor me contorna e me tempera para a dor mais sofrida. A dor da saudade. Saudade de sal. SALdade.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O parapeito do Edifício Maleta

Tarde da noite, eu, você sentados no parapeito do Edifício Maleta observando a lua luz. O azul do céu hoje está mais escuro que o de outros dias. A luz amarela e os gatos negros andam entre nós. Relando suas caudas sujas e nojentas em nosso dorso. Pego sua mão e sorrio. Um sorriso vermelho, como aquela calda de morango que beliscamos antes de subirmos até o parapeito. Você me retribui com beijo negro carvão que mancha meu rosto.

Luz amarela, sorriso vermelho, beijo negro carvão.

O céu é nosso. O ar entre o parapeito e a calçada suja de urina de ratos execráveis, também nos pertence. Eu, você nos pertencemos. Um salto duplo é dado. Um giro único em torno de dois corpos soltos na lacuna do tempo e do vento. Um gemido. Um afago.

O céu, o ar, o parapeito, a calçada, um giro, o gemido, nosso afago.

Coincidentemente acordo com você na janela olhando a luz vermelha do sol que se deposita atrás do Curral Del Rey. O ar pesado. O quadrado não é mais mágico, e para sepultar de vez nossa vida, a terra não é mais santa.

Janela, luz, Del Rey, terra não mais santa.

O parapeito inerte sujo de sangue vermelho me faz lembrar que estamos mais uma vez sacramentados a viver dias de violência furtiva. O parapeito agora é o limite da vida morte, dor amor, paz terror.

O parapeito do Edifício Maleta observa a luz.

Destrambelhada

Destrambelhada vinha correndo pela rua. As roupas sujas de minério, um sapato no pé e outro a mão, cabelos soltos e um enorme sorriso estampado no rosto. Corria velozmente sem se preocupar com a calçada secular. Corria como um corisco em descampados. O ar era rompido, o sorriso estendido a todos e ela corria cada vez mais. Ninguém sabia o que estava acontecendo, mas também não tinham coragem de interromper aquela menina corrida. Ela vinha sorrindo e eles apenas davam passagem. Ela ia embora com toda a alegria do mundo e eles não conseguiam entender. Nem ao menos tinham capacidade de perguntar o porquê de tamanha alegria. Em seu trajeto deixava espalhada entre casarões e barracões a alegria da vida estampado em seu sorriso. Destrambelhada ela ia espalhando felicidade pela rua.

sábado, 1 de maio de 2010

E o leão comeu

E o leão mordeu! Não sabia? Mordeu menina... nem teve dó. Chegou de mansinho, mês após mês e quando menos esperava... abocanhou! Não teve jeito, lutei com todas as forças, utilizei todas as artimanhas, mas ele foi cruel. Nervoso como todo rei. Implacável como um leão na savana africana. Chegou, mordeu e levou uma grande parte do rico dinheirinho que ganhei durante o ano. Sem chances pro papai aqui se salvar. Nem um Real sobrou. Como diria uma música antiga do Kid Vinil: “Marcou, moeu, triturou, deglutiu, comeu... comeu...”. Ó Senhor será que ano que vem consigo salvar ao menos Um Realzinho?, vá saber... mas juro que um dia vou virar Al Capone e finalmente sonegarei algumas lascas para ter um abril mais feliz! E leão, honestamente esqueça um pouco os trabalhadores e vai morder os especuladores da bolsa, mega empresários e principalmente políticos que não declaram com exatidão o que ganham. Deixa de lado quem tem retenção na fonte. Vai cassar sua turma, rapaz!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Eu disse tchau quando fechei a porta do carro

Eu sei bem o que quis dizer quando fechei a porta do carro e disse um indecente tchau. Não foi uma despedida simples, tão pouco corriqueira, foi o final. Final do ciclo que se iniciou e findou-se ali, naquela esquina. Esquina fétida como o cheiro terrível do teu perfume que prefiro nem dizer ou sentir. Sabe muito bem o que vivi. O inferno, o umbral, minha vida sem vontade. Não respirava, não amava, não sentia nada.

Eu sei bem o que quis dizer quando fechei a porta do carro e disse meu derradeiro e sólido tchau. Estava abrindo a porta da minha vida, do meu ser, da minha colônia. Sei bem, você se fez de vítima. Eu descobri por meios tão melancólicos que me fazem envergonhar de mim mesmo. Eu sei bem. Olhei em seus olhos. Invadi cada pedaço de falta de pudor nesta tua vida ínfima. Vida crua, nua, impura.

Eu sei bem o que quis dizer quando fechei a porta do carro e disse meu bombástico e translúcido tchau. Era o passaporte que você tanto esperava. Que minha alma desejava. Que o universo dependia para continuar girando em torno do sol. O meu sol. O meu universo.

Suma pessoa nefasta. Coisa nojenta. Estúpido horrendo. Suma... desapareça!, deixe os raios do amor e da compreensão se aconchegarem em meu vazio coração. Eu disse tchau quando fechei a porta do carro.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Urbanidade

Um menino,
Os pés descalços,
Sacolés branco,
Vapor barato,
Tiro ingrato.

Uma voz rouca,
Negra flor sobre a mesa,
Castiçal imponente,
A luz branca de vela,
Corpo sobre a mesa,
Treze anos.

A dor necessária no recinto,
Mulheres chorando,
Meninos correndo no quintal,
Cigarros acesos,
O óbito como deve ser,
Bola esquecida.

Terra escavada,
Choro com dor,
Ônibus do dono,
A boca em luto,
Mãe que morre,
Pai que chore,
Infância se finda,
Vapor barato.

Pensativo

A vida me corrói. Eu corrôo a vida. Identificamos-nos cada vez mais um com o outro.
Eu e a vida.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Vivido

Chegou, agarrou, unhou, tragou, marcou...

Fiquei assim, pro resto da vida,

Chegado, agarrado, unhado, tragado, marcado!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Sangue e cuspe

Tenho que parar de beber – cuspiu o sangue que chegava à sua boca, depois de ter tomado mais uma dose do rum. A cabeça estourando, a falta das balinhas de cafeína, a dor doída de dentro pra fora. Maldito etílico, maldita dor, vida sorvida pelos copos. A moral, já não mais existia, perdeu-se pelos ladrilhos das latrinas da vida. O vital órgão, já demonstrava falhar. O fim estava prestes a chegar, e o sangue agora jorrava quase sempre. A vida seguia de copos em copos, sem trégua, sem falhar um só dia. Seguia de copos em copos.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Tragos malditos

Um clarão ilumina o quarto. O cigarro na boca pronto para ser aceso. Um vazio no peito. Certo deserto a ser preenchido. O odor da pólvora aromatiza o quarto. Uma nova luz alaranjada em forma cilíndrica. A primeira tragada. A fumaça do prazer cancerígeno preenche o deserto no peito.

Um suspiro. Um lamento. Um quarto. A falta do sono. Sozinho...

Caminha até a penteadeira e aciona o toca-fitas guardado desde a década de oitenta. Arnaldo canta, ele fuma... “um dia desses você vai ficar lembrando de nós dois e não vai acender a luz do quarto quando o sol se for”. O lamento já era esperado. Ele já sabia que novamente passaria por aquele momento. E não seria a última vez. Isso também já sabia.

A dor me dá gozo? – Pensava ao tragar um pouco mais do câncer. O sabor de canela do maldito cilindro o trazia paz... paz... paz-me! O mundo girava. Ele atordoado com a química também. Maldita mistura, maldito câncer, maldito término.

Mas, mesmo assim, não dava o braço a torcer. Sabia que aquilo passaria, só não sabia quando. “toda memória dessa nossa estória se extinguir e você nunca vai saber de nada do que eu senti sozinho no meu quarto de dormir”.

A fita embola. Ele irritado desliga o toca-fitas. Outra baforada. Caminha ao banheiro. Lava o rosto e chora. Chora um choro triste. Sozinho no quarto. Última tragada, mais um pouco do câncer para matá-lo aos poucos. Afinal em sua vida tudo era aos poucos, em doses homeopáticas, até mesmo a morte. Menos o amor, a dor e a flor.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Noite de rei

Meio da manhã. Avenida Silva Lobo. Uma praça infestada de crianças e jovens. Trânsito infernal. Finalmente um lindo céu azul enfeitava aquela manhã turbulenta do lado de fora. Mas por dentro, a satisfação enorme o abraçava o coração. O mocassim azul, a bermuda branca e uma mulher estampando sua camisa. Ele descendo a avenida assoviando uma bela canção do Cavaquinho.

O corpo solto, sorriso largo, sol quente, trânsito infernal. O cheiro do amor bem feito o cobria e fazia com que tivesse boas recordações naquela manhã. Apesar do álcool consumido com abusos na noite anterior, a noite de rei, com a qual foi presenteado, não sentia a maldita dor de cabeça que sempre o esperava pela manhã.

Um carro passa, um cachorro mija na calçada, um moleque vende bala na Platina, um velho pede ajuda para sobreviver. E ele, alheio a tudo, continua seu caminho sem se preocupar com nada. Estava leve. Limpo. E finalmente feliz. Esquecido de tudo, até mesmo do cheque especial que lhe consome duzentos por cento ao ano. Queria lembrar-se de nada, somente da noite de rei.

Entra no metrô, assenta com o coração, fecha os olhos e finalmente chega à santa terra. Tereza o esperava no portão da Mármore.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Divagando

Por mais que eu tente, por mais que eu não queira, por mais que Ele tente me ajudar. Vivo e sinto-me só. Posso estar rodeado de tudo e de todos que o mundo confabula para que no final eu esteja só. Sozinho. Desacompanhado. Unicamente único. Unicamente só.

Sei que ajudei nesta tão dramática fabrica de solidão, mas o que fazer além de viver?

Sinto-me às vezes incompreensível comigo mesmo, e assim, vou indo e vindo nesta maluquice louca que resolvi chamar de vida.

Vida passa, amores passam, sonhos se desfazem e a única coisa que tenho certeza que não passará é a certeza que te amei!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pronuncia do amor

- E quanto a vocês, que não acreditam no amor, estou aqui para provar a todos que amei uma mulher. Amei incondicionalmente. Fiz da minha a vida dela. Sofri por amar. Sofri por perder esse tão belo e puro amor. Hoje não sou mais o mesmo que antes. Não tenho a mesma face. Não tenho o mesmo brio. Não me julguem, vocês não sabem o que eu passei. Não fazem idéia da dor que sinto até hoje. E muito menos não fazem idéia do que aconteceu. Mas estou aqui. Com a vergonha a me abraçar e vocês a julgar. Não tenho medo de seu julgamento. Não tenho pena da minha vida. Não tenho mais o meu amor. Senhores transeuntes, que bondosamente pararam alguns instantes para ouvir o meu lamento. Um único conselho darei, amem! Amem sem medo, sem dor, incondicionalmente. Amem.

Uma salva de palmas é ouvida em toda Praça Sete. Ele desce da caixa de maçã utilizada como palanque e sai em caminhada até um novo ponto da praça para iniciar novamente seu discurso sobre o amor.

Alguns acham que ele é apenas mais um bêbado, que perdeu sua chance pelo álcool. Outros acham que é mais um louco. Desses loucos que de tanto usarem o que não deve e acaba ficando louco. Já os mais sábios compreendem a dor de um homem que amou verdadeiramente sua amada, e por algum motivo bobo, ou não, ficou perdido pelo caminho afora.

É simplesmente surpreendente olhar aquela figura na praça. A convicção de que ele fala do amor. Da dor que transmite em sua fala. Das lágrimas que descem de seus olhos quando fala em sua amada. Ele sim, realmente ama.

Volto novamente ao meu caminho, e sigo em frente. Mas depois de ter ouvido seu relato de vida, só consigo pensar em uma coisa... Amor! O amor na mais pura forma.