terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Fidelidade infeliz


“Não, não quero mais nada”– disse assim, batendo o portão e ganhando a rua. Um carro rubro atravessava o cruzamento, uma senhora de meia idade acabava de acender o cigarro hollywood vermelho sem filtro, o sinal ficou vermelho e ainda o portão tinia de tão forte que foi a saída.

Rompi os poucos quarteirões entre a saída até ao ponto de ônibus mais próximo. As mãos trêmulas, as idéias  irresolutas, a calça jeans preta precisando do aperto na cintura, o telefone pendurado a mochila e a única coisa que me vinha a cabeça era o tinir do portão.  Nem o barulho do trânsito caótico daquela manhã me fazia esquecer. Já caminhava para o quinto dia de espera.  Horas e horas  de sofrimento. Já não dormia mais. Pressão por todos os lados. Chateação três por quatro e o que mais me impressionava era o tinir do portão. Como os outros iriam ver aquele cenário. Julgar é fácil, mas se aproximar e saber o que estava acontecendo, poucas vezes isto acontece. “Já que é assim,  assim será”- filosofei entrando dentro do coletivo que parava naquele momento.

Cinco dias, era o que o mais me irritava. E mesmo assim, a única resposta que obtinha era que o outro não podia fazer nada para ajudar. “Porra, que merda de relacionamento é este?” – questionava a todo momento, vendo em minhas mãos a promessa firmada em poucos meses atrás. Estava ali, compromissado, assinado por ambos. Ela foi incisiva dizendo que aquilo ali, aquele papel, representava o compromisso entre um e  outro. E eu, tolo como todas as vezes, acreditei. Pautei a vida naquele “acordo”, fiz promessas, juras, dediquei-me ao máximo e quando precisei, diga-se de passagem que foi a primeira vez, já não fui atendido. “Minha filha, já te pedi isto e você prometeu. Já fazem cinco dias, CINCODIAS, e até agora nada. Nada na bananada! E como fico? E o nosso compromisso?” E a única coisa que escutava eram palavras, desculpas e juras de uma fidelidade tão frágil. Eu sim era fiel, cúmplice,  como prometi naquele fatídico dia. Recebia suas cartas e já dava um jeito de efetuar o quer lhe era pedido. Ligava todos os dias pra saber como iam as coisas. Até mesmo em alta madrugada ligava. Pedia pra que ela retornasse e mesmo quando tinha retorno só vinha muitas horas depois. E mesmo assim, com este turbilhão de pensamentos, o tinir do portão não me saía da cabeça.

Quando já estava prestes a entrar em casa, o telefone toca. Olho o visor, reconheço o número, o coração fica em frangalhos! Sim, era ela. Novamente. Será que viria com juras e promessas? “Atender ou não atender?”- parodiei Shakespeare, afinal nosso relacionamento já era uma tragédia. Cocei a cabeça, já que de um tempo pra cá a psoríase voltou a me atacar.  Suspirei profundamente e por fim atendi: “Senhor, aqui é da GVT. Estou ligando pra informar que dia 27 estaremos atendendo o seu pedido. Estaremos ligando no dia para marcar o horário. Ok?”. Era ela prometendo novamente em prol da nossa tal felicidade fiel. 


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Manhas e Manhãs


Entre xícaras e cafés, 
Desejo,
Seu cheiro,
Alento...
Lado a lado.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Nós


Oceânico,
Desejo,
De
Te,
Ver,
Só,
Em mim,
Somente,
Assim,
Passos,
Espaços,
Que me devoram,
Desejos,
Em única nota,
Você,
Eu,
Nós.