quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Só-lidão


Tarde da noite, um desejo, o copo findado sobre a prateleira, doses cavalares de álcool. Paisagens passam pela cabeça. Lágrimas descem e encantam o peito aberto e rasgado, maisumavez.  Estava tudo tão perfeito. Havia um copo, um corpo, um coito, um... um... E agora, estou aqui, novamente, só. Somente a solidão me abraça, seja em dias senis ou juvenis. Ela chega, abre a porta, expulsa quem quer que seja e me abraça. Leva pra cama. Coloca-me em teu colo aveludado. Me amamenta com suas grandes e divinas tetas, e finalmente, adormeço.

O dia amanhece, e novamente, a dor chega. Chega, rasga, praga, me larga, me deixe, quero encontrar alguém, correr pelas ruas da cidade, gritar na Praça Sete e demonstrar a cadaumqueviveporaqui, que estou vivo. Vivo!, e vivo. Vivo pra viver a vida. Alegria contagiante de corpo e cor. Cor. Amarelo, verde, vermelho, azul e lilás. Fortes e alegres. Alegria me invade o corpo. Largo o copo, abraço o sol e me enfeito em cores. E com um pequeno espasmo de vida, reencontro um novo sorriso. E flerto com a vida. Ela chega, me abraça, me leva aos céus, arranca minha roupa, deita-me em lençóis alvos e me come. Unhas, dentes, saliva e sodomia...

A noite aparece, com ela um copo, sem corpo, sem nada, sem vida, sorriso não há, beijos não os tenho, carícias me abandonam em pele flor. Mãos aos cabelos e cantarolo o Tremendão: “Mas eu não posso, não posso, nasci para chorar”


Texto inspirado em "Nasci para chorar"
http://letras.mus.br/roberto-carlos/48636/

domingo, 25 de novembro de 2012

Ensaio


Porta fechada, tranca trancada, a luz entra pela veneziana e esquenta o piso de madeira. Estalos são jogados ao ar. A fumaça do incenso plaina, o perfume preenche todo o espaço, a cortina, com a figura do comandante, esconde a parte esquerda da janela, permitindo que a luz só entre pela direita. “A esquerda sempre no poder”, pensou e sorriu olhando para o lustre empoeirado. O corpo já reclamava da falta de vida. Olhou as horas e concordou com o habitáculo da alma, já estava na hora de ganhar o mundo e colocar rumo na caminhada.

Café quente na xícara esmaltada. Aroma da casa da mãe. Mãe que não havia mais. Deixou-lhe para trás naquele dia de maio. “Logo maio?”, sempre pensava nisto pela manhã enquanto  fazia seu ritual do amanhecer. Sua lembrança a trazia de volta. Ela podia estar ali, ao lado, sentada no mesmo sofá. Com a TV ligada. Desenhos, quadros, flores, afazeres do dia-a-dia.  Olhos se enchem, coração vazio, desejo de ver tudo pelos ares. São Paulo explodia sua cabeça e milhares de coisas a fazer. E o corpo, continuamente, reclamava da falta de vida.

A rua era tudo que restava-lhe. A Penha lembrava-lhe Teresa. E o corpo, sem cessar, reclamava da falta da vida.


            

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Pernas


Perdido em lençóis,
Sedas e cetins,
Pernas moldadas,
Ascendo um,
Viajo,
Navego,
Peco.

Intimas peças,
Das entrelinhas,
De  pernas moldadas,
Embriago-me,
Sinto,
Vivo,
Sorvo.

Corpos espalhados,
Lençóis dispersos,
Pernas entrelaçadas,
Nus e luz,
Indiviso-nos,
Viva,
Vivo.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Baile


Ei você, moça que me faz bailar. Escute esta valsa. Entende de música? Mas de baile entende. Sinta... sinta... solte... leve... me jogue para o alto, e no concerto, daqueles que perdemos ontem, hoje, dois anos atrás, sete anos que se passaram... volto de volta para onde não tem mais volta, e me aconchego em teu colo.  E bailo! Compreendes? Claro que sim, afinal, dancemos  siempre nossa valsa de vida... e brindemos siempre a nossa alegria e vontade de viver... eu bossa-nova e você rock in roll

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Falta


Você me fez falta. 
Ver-te ali, dormindo, linda como tudo, me fez falta. 
Amar-te pela manhã me fez falta. 
Na minha vida, neste tempo todo em que houve este tão doloroso desencontro, você me fez falta.
E por favor, não me falte mais.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Classificados 6


Oferta do dia: Corpo bem cuidado, sexo de qualidade e alma inócua. Somente o conjunto e não aceito devolução. Tratar aqui.

sábado, 10 de novembro de 2012

Um beijo... e só


E a solidão se aproxima em saltos. Pé ante pé, florida pelas flores da primavera, se esquiva da alegria que a rodeia. Ela chega, vem ao encalce do homem que a menospreza. Sem dó, sem dor, sem ao menos pensar em um único motivo para não atacá-lo, ela se apresenta na portaria. Bate a porta, força a trinca, abre o sorriso branco, o cheiro da dama preenche as lacunas profundas da alma, alma, ama, desalmada é ela que chega e aproveita do momento sombrio da alma. Aconchega-se no sofá escuro da sala clean, serve uma cerveja numa taça qualquer, acende um cigarro, solta mais uma gargalhada e finalmente o abraça. A noite fria é o resultado, o dia agitado é a ressaca, o almoço de domingo frente à televisão é o sexo da semana. Segunda-feira chega, e da mesma maneira que chegou, ela vai embora, porta afora, outro amante, outro homem, outro sofrer.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Pele flor


Em nervos a pele flor, nego o desejo de estar aqui, mandei e assim o fiz, desejos em espaços oblíquos, necessidade de ser o que não é, viver o que se mata, matar o que se vive. Em nervos a pele flor...