terça-feira, 31 de maio de 2011

Aquietar

Assim, olhei para o lado,
Não te vi,
Com o olhar parado,
Molhado fiquei.

Com desespero,
O aço que me atravessava à fonte,
O penhasco me esperava,
Não tive dúvidas,
Pulei em teus braços,
E me afoguei repetidas vezes,
Esperando que o lastro me levasse,
Dali, longe perto.

Asco do aço que me abraçava,
E molhado,
Com o desespero do mar,
Aquietei-me.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O nu do Outro

Entre a loucura irritante e o grito, ele ficava nu. Preferia assim. Desnudo do frenesi da vida, do vinho, do ópio. Era assim que ele se sentia... nu.

Não se importava em escutar comentários alarmantes sobre a sua nudez de gente sensata. “sou nu e livre” – dizia a todo instante a si mesmo. Já o Outro, ficava encabulado com a nudez dele próprio. Sentia-se enfadado diante de tanta irreflexão. “Era isso que ele queria pra ele?”- não sabia julgar, afinal, o frenesi freqüente o deixava mais extasiado que nunca.

Nunca... nunca... never...nie...asla...

Negava-se em toda e qualquer língua existente. Tudo isso para ter o direito dele, e do Outro, de ficarem nus. De dia ou de noite, em casa ou na rua, almoçando ou jantando. O que importava era a nudez.

Assim, nu, ele era capaz de dizer a verdade, de sentir a verdade, de ver a verdade.

Nudez e verdade andavam juntas, para ele, já para o Outro, não.

Mas, em suma, nu a vida não tinha como se esquivar da verdade. Sem máscaras, sem apetrechos, sem nada, simplesmente nu... verdadeiro.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

O frio no Vale do Sol

Pela escuridão do vale do sol, ele andava. Chutava latas e aslfato. Tudo ali era inexato. Avenidas com nomes de quintas e primeiras, já as ruas, com nomes de planetas. E o vale do sol, naquela madrugada, como era de costume, estava frio... gélido. 

Caminhava por ali, sempre ao voltar de algum lugar, sempre sozinho, sempre por ali. Nada daquilo fazia sentido, o sol do vale nunca era verdadeiro. O frio sim era legítimo. Tão real como o fim do universo e o medo gritante que rondava o seu vale do amor.

Ela, a maldita, o havia deixado mais uma vez. E ele, louco e tonto, torto e morto, sofria ao anoitecer... há saudade... ah saúde... há alguma coisa que precisava de ser revista. Tentava descobrir o porquê do fim. Ele ali, andando pelo vale do sol, no frio da noite, sozinho como não queria.

“Pessoa maldita”- ficava a pensar. “Pessoa nefasta”- ficava a penar...

Na curva, um carro, uma luz, o calor percorria o corpo, ela a sua frente, o vazio no bolso, a dor do amor, o nojo do gosto, o vento no ventre, a sombra da luz, o sono frio no Vale do Sol...

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Amor

Ó meu amor, por tão presente que estás e tão honesto que sejas, eu me perco. Perco pelas portas que entro ou nas ruas que adentro e, às vezes, até mesmo, às vezes, no afago gostoso dos teus seios.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma vez por mês

Assim, do nada, ela seguiu até o alpendre e o encontrou. Com os pés no chão, mãos calejadas do labuto ingrato, ele estava lá. Pele vermelha pimenta, castigada pelo sol durante a jornada escravagista. Ruas e ruas de canas cortadas, espinhos da folha adentro do corpo, o podão na mão direita enquanto a esquerda juntava a folhagem negra. O suor irrigava o corpo, corpo malhado pela luta do trabalho. Trabalho ingrato e nefasto. Mas a vida precisava daquilo, e ele mais que tudo, precisava da vida.

O sorriso no rosto acariciou o coração. O cansaço louco e pervertido desapareceu. Encontrou o doce hálito da vida naquela boca. Boca carnuda romã. Mãos nas mãos, pés perto dos pés, um banho tomado sem muita pressa. O cheiro da água de colônia invadia o seu corpo. E ela, linda... ali, e ele cansado... ali. Olhos úmidos e humildes. Mão grossa contra mão fina. Amor com amor...

O corpo já não era seu. O trabalho pecaminoso não existia mais. Naquele momento era tudo sagrado. Sagrado o coração, sagrado a cama, sagrado o gozo. Gozo gozado e jorrado no encontro de suas mãos. Uma grossa, outra fina. Pés descalços no linho branco do lençol. Pés roçando em pés, boca com boca, hálito doce pairando no ar. Liras de Orfeu os embalava, o sonho era realidade, e a vida, doce, como o doce da cana, continuava.

O sol aparece, e esquenta a pele vermelho pimenta do moço. Descalço segue novamente para as ruas de canas a serem cortadas, sem antes, porém, de deixar sobre o criado do quarto uma parte do ganho do mês. E era assim que a vida tornava-se doce, ao menos uma vez por mês.

Filhos

Dois
Filhos,
Um com V,
Outro com C.

Duas,
Vidas,
Lindas,
De 0 a 15.

Os,
Dois,
Amores,
Meu...