segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cadê o solo?

Falta-me ar,
Sobram-me os pés,
Cadê o solo?

Chão para quem quer pão.
Vida para sorrir,
E você para mim!
Cadê o solo?

Cadê a cama,
Vem pro colchão,
Novamente me aqueça,
Com seu branco olhar,
Cadê o solo?

Solo tu,
Solo mio,
Você é meu solo!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amor compartilhado

E você virá,
Forte, ardente e feliz!
E quanto a nós,
Estaremos loucos na alegria,
Contida no desejo de te abraçar,
Não uma vez,
Muito menos duas,
Nem mesmo mil,
O abraço será eterno,
Como o nosso amor,
Antes único,
Agora compartilhado!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Sonhos intraquilos de Ernesto

Na mais nova viagem intranquila, onde monges tibetanos tomam o chá de origem amazônico e nordestinos se sacolejam ao som da mais bela polca, sinto meus pés estremecerem a cada pegada que encontro.

Profundamente obeso com o volume adquirido nos últimos anos de escalada ao Everest, eu e Ernesto, desistimos, por hora, de chegar ao Taj Mahal passando pelo Obelisco, afinal, o congestionamento registrado ali, na Nove de Julho, é simplesmente caótico.

Entristeço com a novidade lançada ao espaço, ninguém merecia passar pela entrada apertada do monumento erguido no fim do último dia da escalada das ações, nada humanitárias, da Bolsa de São Paulo.

A crise que vivo, Ernesto insiste em dizer que é passageira, me trai os mais belos pensamentos a respeito da imigração dos patos selvagens vindo do Canadá. Não sinto mais prazer em olhar para o blue Sky de Belo Horizonte e não mais encontrar o beija-flor perdido em filmes que nunca vi, ou até mesmo, que não dirigi.

O tempo me convence mais que Ernesto, e o odor vindo de minhas rugas centenárias provam que a vida é única. Não existe dinheiro barato, assim como remédio para minha economia que vai de vento e polpa arrebentando o meu esforço de me manter cético ao novo plano de expansão da trajetória humana.

Esqueço tudo e aprendo novamente com as pegadas achadas. O caminho é único. A devoção é divina. O triste é alegre.

A intranquilidade me abraça de tal maneira que me sinto limpo e inerte ao seu poder. Embriago-me em seu licor, me sujo em sua cor, assim, desta única e terrível maneira, a viagem contínua... intranquila e obscena. Tomo o chá e sigo dançando. Ernesto vem junto.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

D’alma

Com a falta de você,
Meu corpo vira mártir,
O inseto voa pelo asfalto azul,
O ônibus solavanca,
No uniforme fosco da ingratidão.

Nesta crise de abstinência,
Onde o ópio é você,
Sou eu usuário ávido,
E a nos separar,
O sofá negro macio nada altruísta.

A noite perpetua,
Com a cama despovoada,
Com a chuva à encalir nosso Love,
O ar me sufoca,
Temeroso raia o dia.

Sinto falta de você,
Flagelado pelas garras da estupidez,
Com o invólucro d’alma dilacerado,
Procuro seus olhos rasgados,
E entorpecer novamente no seu agrado.