quarta-feira, 30 de junho de 2010

Corpo

Eu amo teu corpo, porém, antes de amá-lo pela primeira vez, amei teu cheiro... mas de antemão amei teu toque e antes disto tudo, me apaixonei pelo teu sorriso. Sorriso branco de lua cheia. Lua de minha vida, vida minha de lua.

Surpreenda-me!

Tenho visto em muitos MSN’S e twitters pessoas com o mesmo discurso: “me surpreenda”. Não sei ao certo o que as pessoas desejam com isto, mas passeando há pouco com a Maristella fiquei pensando: Será que esta não é uma maneira medíocre de mandar a responsabilidade da conquista para o outro?

Surpreenda-me! Sempre a mesma ladainha. Normalmente tenho visto isto escrito em perfis femininos. Contei aqui, neste instante no meu MSN, quatro contatos com esta frase. E todos os contatos de amigas. Mas, com certeza, deve existir algum homem com esta pseudo-mensagem.

Há muito tempo não surpreendo ninguém. Sou assim... vivo assim... só não vou morrer assim!, afinal, seria o cúmulo do absurdo querer morrer da mesma maneira que nasci. A gente muda. Isto é claro e evidente.

“Me surpreenda” os escambau! Lute! Arregaçe a camisa e vá à luta! Seja gente, gente pensante, gente que gosta de gente do jeito que a gente é! Pare de sonhar com o príncipe/princesa encantada em seu belo Porshe branco chegando na sua casa e finalmente te pegando pelos braços. Deixa disto. Caia na rua e sinta as pessoas que existem e vivem.

E, simplesmente, te surpreenda!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Nus

Seus olhos nus, a descobrir o meu corpo coberto pelo desejo. Seu desejo de me desejar. Se desejar em me querer. Nossos corpos nus. Nus pelos seus olhos nus. Corpos sedentos de sede dum do outro. Nus... crus... enfim, nós novamente nos amando nus.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Olha minha flor

Olha minha flor, por mais que baleie o coração deste ser que te persegue e venera, seja feliz!, mesmo que sozinha, mesmo que com outro, mesmo que fosse com quê.

Olha minha flor, por mais que qualquer coisa que possa acontecer, pela única e peculiar vida que posso te dar, se é do seu desejo a felicidade ímpar, eu fico aqui a esperar o dia louco em que você possa crescer e finalmente voltar.

Olha minha flor, olha de coração, olhe para trás e me veja. A dor, a cor, a flor.

A flor que eu deixei ir, viver só e feliz.

A dor que acolhi no vazio do vaso que vazou e te deixou partir.

A cor pálida que ficou nossa casa, cor da derrota derrotada em campos de batalhas jamais andados por este que ficou na janela a vê-la partir e sorrir.

Olha minha flor, olha!

terça-feira, 22 de junho de 2010

Chico, Xico, Rio

Deitado ao som de Chico,
Minto,
Suplico,
Eu sinto!

Suplico seu voltar,
O renascer,
O viver,
Fico a chorar.

No Rio pela canção,
Calor,
Amor,
Passeio no calçadão.

O poder

Nesta alternância de poder,

Eu mando em você,

Você manda em mim,

E quem manda e comanda em nós?

Claro,

Ele,

O sentimento maior,

O pai de toda dor,

O irmão de ardor,

O filho de todo o desejo,

O único e indiscutível...

Amor!

domingo, 20 de junho de 2010

Devaneio 0038

Desisto! Entrego novamente o meu corpo, a minha alma, o meu ser... ao limbo.

Limbo... Ele... Crespo, nervoso, liso, hilário... reacionário...

Que lindo, ao menos rima, e cadê o clima? Clima pra quê? Pra me foder?

O inferno me acerta em cheio. E o querer me erra.

Eu amo! Eu clamo! Eu Reclamo! Ah... que desânimo!

E novamente me sinto aqui!, será que algo tem?

Quem? Tem? Heim?

Na verdade nada mais me aumenta o lamento.

Nem ao menos, o teu corpo, o seu gosto.

Agosto, julho, junho... nada nada.

Nem eu, nem tu, nem nada!

sábado, 19 de junho de 2010

Vinho

Eu, você, nós dois. Numa mesa, num bar. Eu, você, um vinho, uma vela. O escuro, a vela, seu sorriso, nós dois. A noite, o vinho, a vela, o frio e seu sorriso iluminando a vida. A vida, o solo, o céu, a uva, o vinho, nós dois. Nós dois, nós nus, nós nos.

Antítese de mim

Caminhando apressadamente pela Rua da Bahia, ele é surpreendido pela voz calma...

- Olá! Tudo bem?

- Olá...

- Olá...

- Tudo bem? Você está bem?

- Você está bem?

- Quem é você?

- Eu!? Fácil responder isto. Eu sou a sua antítese!

- Hã?! Que isto? Realmente você está bem?

- Você está?

- Eu estou!

- Então eu não!

Já irritado com o rumo da conversa, ele coçou a cabeça. Pediu aos céus que lhe desse um pouco mais de paciência, já que aquele dia havia começado conturbado. Franziu a testa e novamente dirigiu seu olhar à pessoa que o interceptara no meio da calçada.

- Olha eu não te conheço. Não sei quem é você. O que pensa. O que quer comigo!?

- Já te expliquei. Eu sou a sua antítese. Sua nova forma morfológica. A semântica do que você não vê, não sente, não nada. Eu sou isto, o aquilo e talvez, eu disse talvez, dependendo da maneira que você estiver, eu serei o tudo. O luto. A vida. O amor. E a dor. Eu sou você assim... ao contrário, com sentido e de uma maneira nova.

Ele respira profundamente, fecha os olhos, passa a mão na testa. Sente o suor escorrendo. Abre os olhos novamente e não enxerga mais a pessoa a sua frente.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Trinta e sete anos

Em frente ao espelho do banheiro ele finalmente tem certeza. Talvez a certeza mais terrível da sua vida, talvez da sua morte, mas, com certeza, era a mais terrível, independente de qual dimensão estivesse. O vapor do chuveiro havia embaçado todo o espelho. Com a mão suja de sabonete ele tentava limpar o espelho para ter certeza da sua terrível certeza.

Com o espelho desenfumaçado fixa o olhar. Tenta focar o máximo possível naquele ponto. Olha firmemente. Força as vistas até doer. E constata o que um dia seria inevitável! Ela chegou!

Consternado, começou a lembrar da jornada. Desde quando era pequeno, de cabelos loiros, correndo nas ruas do Primeiro de Maio, brincando na carvoaria da família. Depois se lembrou dos passeios de carroça do “Tio” Zé Guedes. Da linha do trem de ferro que ia do São Gabriel até perto da casa dos avós. Os passeios nos carrinhos de rolimã, na máscara de capeta do Tio Paulo. Nos cinemas com as tias Rutinha, Neide, Solimar e Sônia. Do macacão do Falcon, do pássaro preto do Vô Vicente, do palavreado da Vó Preta. Dos natais. Dos presentes da Tia Luzia. Das bananas vendidas na quitanda do avô. Foi lembrando-se da vida.

Lembrou-se dos sapatos Kildare, da calça Hamuche, dos beijos da mãe, das revistinhas de colorir que ganhou do pai de presente de aniversário. Lembrou-se dos cavalos de pau dados no Fusca meia nove. Dos amassos no Voyage oitenta e dois prata no campo do Saga. Da primeira namorada, dos amigos desta longa estrada. Do Ró, que partiu antes da hora e do Armadinho, que seguiu o mesmo caminho.

E o salsichão caído no chão, que foi comprado com muito custo com a vaquinha do pessoal da faculdade?, lembrou-se também. Até das vindas a Juatuba no Brava verde do Ângelo. Das maconhas fumadas no Opala noventa e dois com o Souza. Das cachaças e choros esvaziados com o Tião. Dos passeios na praia com Neto e Brubas. Das aventuras e desventuras vivenciadas com os “Pinguços”.

Mesmo com a certeza convicta de que ele chegara, não se arrependia de nada do que passou. Saiu do banheiro, caminhou até a sala e viu Vitor. Sorriu um sorriso alegre, leve, único. Retornou novamente ao banheiro e, mais uma vez, focou os olhos no espelho.

Realmente ele estava lá! Único como foi a sua vida. O primeiro fio de cabelo branco saindo da narina esquerda do seu monstruoso e incomparável nariz. A idade chegava. Os fios brancos rebeldes brotavam sem ao menos pedir licença. E a vida doada por Ele, vivida em grande vontade e gozo.

Feliz com toda a constatação da vida, pega uma tesoura, e sem pensar duas vezes, corta o delator dos seus trinta e sete anos.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Anexos

Somos assim,

Eu pertenço a ela,

Ela pertence a mim,

Anexados um ao outro,

Na vida,

Na cama,

Na lida,

Eu sou dela,

Ela é d’eu!

Vida

Encontro naturalmente o caminho do teu corpo,
Nele, sem pestanejar, sinto a felicidade,
Naturalmente, também, é o gozo da vida,
O gozo do gozo de gozar com você!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma dose de conhaque

O álcool já demonstrava seus efeitos. A noite fria sugeria mais uma dose do conhaque para aquecer-lhe novamente o peito. Estava ali, naquele bar da praça, ao menos umas duas horas. Não sabia o porquê de estar ali, entre tantos bares foi parar logo ali, ao lado da casa dela.

O coração apertado, o sexo em atraso, o amor desleixado. Saudades do corpo que, até há pouco tempo, lhe pertencia. Tragou a última dose e, como se estivesse em transe, começou a caminhar rumo à casa da deusa. Cabisbaixo, e calçando a máscara do desejo, prostrou-se em frente do prédio.

As lembranças renasciam em sua cabeça. Lembrava-se da boca, da voz, do cheiro do corpo, dos seios duros e fartos, do vaivém frenético do quadril, do gosto da boceta na boca. As lembranças excitavam-no, mas o medo da rejeição o fazia temer apertar o interfone. O desejo de vê-la era forte. A vontade de tê-la mais uma vez era enorme. O sexo perfeito, ali; era só apertar o número do apartamento e pronto. Pensou novamente se seria apropriado aquele momento, se não haveria outro em seu lugar, se ela ainda o desejava, se... se. Virou-se para a rua e almejou chegar à outra calçada, quando uma voz conhecida o chama.

O sorriso recebido e doado, as trocas de mãos, o beijo furtivo. Entraram prédio adentro, resenharam sobre fatos, coisas, festas, shows e beijos. O assunto surgia, o corpo reclamava a falta, o sexo cheirava.

As bocas se entrelaçaram num balé de corpos no chão da sala, corpos à mostra, seios, pelos, boceta, pau, sexo, gozo. Juras de desejo, beijos longos, amor imperando. Acabaram-se na sala. Janis Joplin cantarolava, e eles ainda com o desejo do amor em seus corpos. Caminharam de mãos dadas para o quarto, onde novamente se amaram.

O corpo dourado pela luz da lua, a boca com o gosto gostoso que só ela possui, os seios amados e cultuados, o púbis nu do pêlo, o amor no sexo. O gozo jorrava, a oração do gozo era repetida como uma ladainha, o desejo de morrer ali, naquela hora, era imenso. O quadril deslizava em suas mãos levando a bunda direto ao seu cacete. O urro do tesão preenchia o vazio do quarto. Seu amor, de quatro, sendo possuída mais uma vez. O céu ali.

Amaram-se durante horas. Horas que pareciam meses, tamanha a intensidade do amor. De pé, ele a beija e desce a escada ganhando novamente a rua. Prometendo a si próprio que voltaria e reencontraria a paz novamente.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Frio de julho

Quero amar como nas noites de julho,
O frio corta a carne latente,
O sexo fica mais quente,
O amor brota em seu sorriso.

Quero sentir as noites de julho,
O ar gelado nos cercando,
Sua boca quente suplicando,
E a vida a seguir liso.

Quero as noites de julho,
Quero você além de julho,
Amo viver as noites em julho,
Detesto sofrer o frio de agora.

Devaneios 0300

No sorriso do teu olhar,

Jogo-me no chão,

E novamente deixo-me pisotear pelo teu amor!

domingo, 13 de junho de 2010

Devaneios 0012

Hoje a noite é de ardor,

A pimenta me queima a boca,

O sexo inerte não me satisfaz,

Meu amor por um punhado de dólar.

Nós dois!

E mais uma noite acaba. E com ela, ao meu lado, volto para casa. Abro a porta e juntos entramos. Procuramos o mesmo copo. A mesma água, o mesmo gole, o mesmo mesmo.

O frio contundente, desta noite, mostra o tanto que estamos juntos. Unha e carne. Sangue e veias. Eu e ela. Nós dois.

Sem frescura deitamos juntos. Nus, inteiramente pelados, nos abraçamos. Aquecemos-nos no frio que nós mesmos provocamos.

A noite de prazer, o amor único, cada qual no seu lado da cama. Sonhos, desilusões e luxúria.

Pela manhã viro para o lado. Peço incansavelmente que ela vá embora, afinal, não a quero tão perto de mim.

Ela, como todas as manhãs, tenta me convencer do tanto que é importante em minha vida. Em minha sobrevida. Em minha sorte.

Eu, amargamente amado, suplico para que ela me deixe. Que nunca mais volte. Que abandone minha cama, pois preciso do calor, do tato, da saliva e do céu.

Ela diz que não. Não me abandonará nunca mais. Sempre estará comigo. Seremos dois sempre sempre.

Sem conseguir convencê-la a abraço novamente e choro em seu colo. Embalado novamente nos seus braços, vamos andando lado a lado.

Eu e a solidão. A solidão e eu. Ela e eu. Eu e ela. Nós dois!

sábado, 12 de junho de 2010

Devaneios 1054

Não se incomode,

Não...

Não me acode,

Não...

Pare, deixa pra lá,

Deixe...

Sabe que sou,

Único,

E apenas,

Um factóide.

Logo por ela.

Eu não amo mais. Apesar de demonstrar este sentimento com tanta facilidade, não acredito mais no amor. Talvez tenha amado até ontem, ou quem sabe até hoje pela manhã. Cansei desta prosa de amor. Na verdade não sei se é prosa ou se é farsa. Ao certo mesmo é que me cansei deste louco e insano blábláblá. Minhas unhas, vermelhas agora, estão mais frágeis. Meu saco murcho. E você sentada naquela esquina se deliciando com outros e outras. Não quero mais falar de amor. Ele não existe. Eu não existo. E refletindo calmamente nós nunca existimos! – Com uma força descomunal ele terminava o ponto de exclamação.

A força foi tão bruta, que rasgou o papel tenro do bloco que ficava disponível no quarto do hotel. Com os olhos umedecidos pelas poucas lágrimas que ele permitia escorrer na sua face, voltou-se para a janela. Do décimo oitavo andar admirava a Bacia de Santos. Longe de sua terra infortunamente descobriu a traição rondando em sua casa. Logo ela que ele tanto amava. Logo ela pela qual, ele, dedicara todo o sentimento mais nobre. Logo ela que um dia jurou fidelidade no altar. Logo ela.

Leu novamente o que acabara de escrever. E envolto de soluços, estes mais verdadeiros que o sentimento expressado por ela, embolou o papel e jogou no lixo. Voltou para cama, e com o sono que havia chegado depois de engolir os dez calmantes, desmaiou pensando nela. Logo nela.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Um beijo

Sexta, cesta, sesta ?

Não seja besta!,

Eu só quero cair em seus braços e matar-me no seu amor,

Jorrar meu jorro de gozo no teu gozo,

Ser feliz ao menos esta noite,

E por fim...

Suplicar mais uma vez um beijo seu.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Fase em frase

No universo frio, meus olhos ardem, sem ao menos ver a luz da vida novamente.
O sol tenta aquecer, mas do jeito que estou, nem a lua conseguiria.
Finalmente entendo a solidão!
Obviamente a procurei.
É sensato às vezes tê-la ao lado.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Sumariamente apaixonado

Sumariamente apaixonado pela vida. Acordei desta maneira, nesta manhã fria e insensata. A cabeça me doía, o nariz não estava nada bem e, para completar, atrasado! Olhei para a porta ainda fechada, fui ao quarto do meu filho. Ele, arrumado, me esperava para ir ao colégio. Tomei um banho corrido, penteei o que deu do cabelo e segui meu caminho. Apaixonado pela vida.

Jeep sujo, ar-condicionado funcionando precariamente, jornal falando de coisas nada agradáveis e eu ali, sumariamente apaixonado pela vida.

Não!, não vá pensando que apareceu uma moça em minha vida, que Maristella reaprendeu a fazer xixi no lugar certo, que Vitor recuperou as notas perdidas ou que Guinelo fez cirurgia e consertou o nariz. Nada disto aconteceu!, nadica de nada mesmo. Apenas acordei, olhei pro céu cinza e resolvi me apaixonar pela vida.

A Contorno, como sempre, abarrotada de carros e de gente. A Via Expressa nem precisa dizer, não é? E a Fernão Dias? Claro que tudo estava do mesmo jeito, nada novo, sempre engarrafado. E pra terminar, não tomei meu expresso nesta manhã, afinal, acordei atrasado. E mesmo assim, com tudo dando errado, resolvi ficar apaixonado pela vida.

Lupiciniando

Encostar-me em seu corpo,
Espelhar meu rosto nos seus olhos,
Amar-me em seus braços,
Penetrar em sua alma,
Ser eu de você,
Ser você de eu!

terça-feira, 8 de junho de 2010

Virei burguês

Acordei hoje com um frio danado. Manhãs de junho são indecentemente frias. Mas esta foi mais. Não sei o porquê, mas me senti mais friorento. Eram seis horas da manhã, o céu cinza, típico de junho. O corpo gelado, os pés quentes. Achei que havia algo de errado. Olhei pra porta, estava fechada. Verifiquei a janela do quadrado da terra santa, fechada também. Não conseguia achar explicações para o frio!, nada mostrava o motivo do frio.

Outra vez o celular desperta. Às vezes tenho vontade de arremessá-lo contra a parede. Todo dia é a mesma ladainha. Aquela música aterrorizante me incomoda. Mostra-me que está na hora do despertar. Pior que o despertar das manhãs de junho é o programa “Despertar da fé”, que passa numa emissora destas aí. Não assisti, realmente nunca assisti, mas imagino do que se trata. Algum “em-veado” do Todo Poderoso pregando “suas” coisas. E o interessante é que existe gente que acredita nisto. Tudo bem, é questão de cada um. Eu não acredito nem assisto. Afinal, os meus dez por cento é do garçom. Pessoa bem mais confiável.

Passados os tão deliciosos cinco minutos, o danado me relembra, mais uma vez, que está na hora. E o frio apertava mais. E eu não entendendo como estava com os pés quentes e o corpo frio. Fui verificar o que estava acontecendo.

Minha gente, meu povo, meus amigos, meus meus!, virei burguês! Sério, lembra aquela música do Barão?, pois é, dormi de meias! Logo eu, um socialista convicto, um rapaz oriundo da classe Z, agora burguês. Mas teve bom. O pé tava quentinho, parecia não sei o quê. Ai ai, como é bom dormir de meias. Já experimentou? Não!? Então tente. Hoje à noite você vai deitar e colocar um bom par de meias. Amanhã cedinho você conversa comigo.

Mas, por favor, não faça a idiotice que eu fiz. Vista uma roupa!, porque este lance de dormir de meias só vale a pena se você não dormir nu.

obs. Texto revisado, fraternalmente, por Karina Otoni (@karinaotoni)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Que amor é este?,

Que amor é este?,
Que arranca minha pele,
Consome meu sangue,
Ulcera o meu estômago,
Dilacera os meus intestinos,
E por fim, sem mais nem menos,
Arranca-me o coração!

Que amor é este?,
Que consegue me deixar vazio,
Mostrar-me a face da dor,
Revelar-me o querer do anoitecer,
Tornar-me dependente de algo que não tenho mais,
Onde o horror da solidão vive a escamurrengar minha vida,
E o ébano mundo me devora!

Que amor é este?,
Que desaparece em meio ao agreste,
Agreste da minha alma,
Alma que não é mais minha,
Minha que agora é sua,
Sua que já, agora, é de outrem,
Que amor é este?

Obituário

Segunda-feira, seis da manhã. Ele levanta e vai até a varanda pegar o Estado de Minas. O frio corta-lhe a carne. Manhãs de junho são sempre assim, frias! Ainda mais as segundas-feiras. Lentamente caminha de volta até a sala e se posta no sofá. A xícara com o café quente ao lado, o saboroso biscoito a ser deliciado e o jornal em mãos. Sua rotina matinal perfeitamente seguida. Café, roscas e jornal.

Já beirava os quarenta anos e conseguia gozar de uma tranquilidade matinal incrível, algo raro na sua idade. Pôs-se a ler o folhetim diário. Abrindo a página de “Cidades” não acreditou no que estava vendo. Leu e releu várias vezes. O coração antes tranquilo, agora batia freneticamente. Um ritmo descompassado e apressado. Falta-lhe ar. A ânsia chega avassaladora. As pernas bambas gritam de horror.

Levanta-se atordoado com o que vira e começa a procurar a velha agenda.

O frio daquela manhã parecia mais estridente do que nos outros dias. O céu cada vez mais nublado. O sol, cada vez mais escondido. Parecia que sabia que naquele dia não era pra brilhar. O resplendor de tão majestoso astro deveria ser apagado pelo gris do dia. A água quente do aquecedor solar resolvera não aparecer. O café que há pouco estava quente, neste momento estava gelado. As roscas apetitosas ficaram ácidas. E o sentimento da manhã tornara-se cáustico.

Lembrou-se do tempo da escola. A farra furtiva no intervalo. O elevador lotado para chegar à sala de aula. Os SMS’s passados a todos na hora da prova. Colas, trabalhos e aulas teóricas. Podiam dominar o mundo. Acreditavam que eram todos os melhores do universo. O pão com carne do boteco da esquina. O macarrão comprado no ambulante. As escapadas à zona da cidade. O álcool do dia a dia. Tudo era perfeito naquele tempo, até mesmo a falta de dinheiro. O medo da prova ser cancelada. O baseado compartilhado entre os mesmos de sempre. E o frio da noite, independente do mês do ano.

Voltou à sala e novamente pegou o jornal. Realmente era verdade, ao menos estava escrito. Saudades seriam eternas. Lembranças seriam revividas. O tempo dando uma grande reviravolta no tempo. A dor cortante como o frio daquela manhã. O nome do conhecido no obituário.

domingo, 6 de junho de 2010

Devaneios 154

Eu tenho em minhas mãos apenas o ódio da dor que tu me deixaste. Ó promiscua e infiel mulher. Vós que prometestes o único e ardente amor. O singular e irreparável sexo. A extraordinária e irreparável morte. Porém, viro-me ao avesso e não lhe enxergo mais.

Unicamente promíscua. Exclusivamente amada. Excepcionalmente serpente.

Amada, serpente, carente.

Assassinara-me. Único e exclusivo homem do teu viver.

Largo-me agora na enxurrada do esgoto que passa no fundo do meu coração. Este errante e andante. Pétreo agora. Vivo morto. Fétido!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Cama e mesa

Meu amor,

Aqueça-me,

Tormente-me,

Tempere meu corpo com o suor do teu,

O vinho da sua saliva,

O alho do seu apego,

Sem ao menos pestanejar,

Sirva-me para seu deleite.

Cardápio do dia: meu coração na bandeja ainda pulsando por você!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

3x4

Com a foto 3x4 na mão, ela fica com os pensamentos distantes. Já fazia alguns meses que estava longe da família, do lar. Viera tentar a vida na cidade grande. Como é de costume, o êxodo. Sozinha no quarto de pensão ficava alheia a toda a baderna que acontecia a sua volta.

As noites eram assim, uma suprema e eficaz tortura. A falta do chão que ficou em sua casa, lá pra trás, há uns bons trezentos quilômetros de distância, a deixava sem fé. O prego não encontrava a madeira. A firmeza era inexistente.

O ensejo de vir para a cidade grande apareceu de supetão. Era a oportunidade de sua vida. Deixou, porém, o amor. Amor que batalhara anos e anos de sua longa vida de dezenove anos para conseguir. Algo puro. Tão puro quanto sua pureza ainda não tocada. Jovem, pobre e sozinha. E ainda numa pensão vagabunda da Goitacazes com Olegário Maciel. Putas e putos conviviam ali. E ela, com sua inocência imaculada, vivendo em meio aquilo tudo.

A foto na mão. O coração em prantos. Vontade e desejo insano de fazer a meia volta. O pouco dinheiro. A saudade de todos.

Amanhece o dia. O sol quente lhe aquece a face. O sorriso largo no rosto. A aflição açoita o coração. A parada na esquina. O sorvete da máquina italiana. A banca de revistas. Desce do ônibus e põe-se a caminhar freneticamente pela calçada sem ao menos cumprimentar qualquer alma viva. Lê a placa da casa, bate na porta e finalmente sorri!

Onde você estava enquanto eu ouvia “Lanterna Dos Afogados” e morria de tanto chorar? – Indaga amorosamente ao moço da fotografia 3x4. Nos braços do amado, finalmente estava em casa.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A-penas

Saudades do teu corpo,
Da tua mente,
Da nossa gente,
Do seu amasso.

Saudades da água ardente,
Do dente branco,
Do nosso pranto,
Da pele quente.

Saudade de eu,
De mim,
De tu,
De nós.

Devaneios 615

Efêmero é a felicidade,
Hermético sou,
Tragicidade a vida,
Irrefreável à vontade.