“Garçom, um vinho e uma carne” – Foi assim que iniciou a
noite. Depois de meses, ele estava lá, novamente, só. “Quero mal passada! Quero
deixar isto bem claro, mal passada.” – A noite chegava abraçando, o frio
cortante, a solidão saltitante, os nervos a flor, nervos de aço, aço que corta,
corta que corta e mata. Filhos, mulher, trabalho, solidão, soleira, sarjeta.
Sarjeta logo ali, era questão de tempo, sabia que em breve a abraçaria novamente,
beijaria beijos longos e saudosos. Saudade... Saudade de quê? De quem? Nem vem.
“Mais um” – Bradou contra o atendente. Já estava sendo
levado leve. Mundo mundano de pessoas tristes. A carne sangrenta. Sangue nos
olhos pela dor. Reflexões, reflexos na taça de vidro fino, fino era a dor
pontiaguda que o apertava naquela noite de solidão. “Solidão amiga do peito, Me
dê tudo que eu tenha por direito”. Lembrava da canção. Era claro que a noite
seria em claro, abraçado a ela, com a cara lotada, o torpor da vida. Nem sal
nem sol, aliás, o sol sim, este o queimava todas as manhãs, sem ao menos se
preocupar com as marcas marcadas em seu corpo.
“A conta, por favor!” – Falou quase chorando com seu verdugo.
Sabia que dali pra frente, ou pra fora, a vida não se resumiria em vinhos e
carnes. Seria mais dolorida. E naquela noite, em que o frio o abraçava, seria mais
difícil. O celular ao bolso, os números discados, as fotos dos filhos, o
cachorro do outro lado da calçada, a vida passando. Era assim. A vida, a lida,
a bebida e a maldita ferida. Pagou a conta, cambaleando abriu o portão e abraçou
a noite gélida. Entre passos e solavancos chegou...
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