Em certo momento sinto ela me deixar. A noite foi quente.
Aqui, deitado no chão da Praça da Estação, vejo o metrô passar a noite inteira.
Ele vem, vai, volta e mesmo assim minhas esperanças continuam mortas. Sinto, assim, o vai e vem de tudo. Melodia que cessa, desejo de encarne, algumas
coisas são eternas, seu sorriso a me cutucar pela manhã frias de dias azuis,
meu desejo de ter desejo, a vida que passou de ontem pra hoje. Eternidade em
pequenos espasmos mercadológicos no hemisfério norte da Tereza Santa. Meu corpo
expulsa o que não é mais meu. Meu, seu, teu, luz de lamparina, olhar de rapina,
insanidade insana pelas manhãs, manhas, entranhas, incompreensão compreendida
nas feridas que brotam todas as manhãs entre meus dedos, dentes, pelos, ossos,
esforços... Intensidade de dor, contundente, con-tun-den-te, mesmo assim, em
cima deste banco da praça, contesto o que não quero mais, leite moça, leite de
moça, meu leite a esguichar do canal deferente, diferentemente daquela época em
que desejava nada. Hoje, aqui, estendido
entre folhas de jornais lidos por alguém que já nem sei quem sou, fico
horrorizado com tudo isto que ficou pra trás. Traz de volta aquele tempo? Claro
que não. Tempo é tempo, dei-me um tempo, deixe o tempo tempar em dias
estranhos, necessito apenas de uma coisa. Isto é fato. Coisa louca de viver
vidas viventes de seres vivos. Viva! Viva! Não é festa, Ernesto, é apenas minha
clama para que você continue comigo. Vamos, meu amigo, deitemos em lençóis mais
alvos em camas menores. A caminhada é longa e o mundo, este na qual mendigamos
um naco de vida, está para terminar. Que termine então, pois assim, posso
caminhar ao invés de mendigar. Vamos Ernesto, a vida vem e vai e volta, em
trilhos sinuosos...