sábado, 8 de dezembro de 2012

Sonhos intranquilos VI


Em certo momento sinto ela me deixar. A noite foi quente. Aqui, deitado no chão da Praça da Estação, vejo o metrô passar a noite inteira. Ele vem, vai, volta e mesmo assim minhas esperanças continuam mortas.  Sinto, assim, o vai e vem de tudo.  Melodia que cessa, desejo de encarne, algumas coisas são eternas, seu sorriso a me cutucar pela manhã frias de dias azuis, meu desejo de ter desejo, a vida que passou de ontem pra hoje. Eternidade em pequenos espasmos mercadológicos no hemisfério norte da Tereza Santa. Meu corpo expulsa o que não é mais meu. Meu, seu, teu, luz de lamparina, olhar de rapina, insanidade insana pelas manhãs, manhas, entranhas, incompreensão compreendida nas feridas que brotam todas as manhãs entre meus dedos, dentes, pelos, ossos, esforços... Intensidade de dor, contundente, con-tun-den-te, mesmo assim, em cima deste banco da praça, contesto o que não quero mais, leite moça, leite de moça, meu leite a esguichar do canal deferente, diferentemente daquela época em que desejava  nada. Hoje, aqui, estendido entre folhas de jornais lidos por alguém que já nem sei quem sou, fico horrorizado com tudo isto que ficou pra trás. Traz de volta aquele tempo? Claro que não. Tempo é tempo, dei-me um tempo, deixe o tempo tempar em dias estranhos, necessito apenas de uma coisa. Isto é fato. Coisa louca de viver vidas viventes de seres vivos. Viva! Viva! Não é festa, Ernesto, é apenas minha clama para que você continue comigo. Vamos, meu amigo, deitemos em lençóis mais alvos em camas menores. A caminhada é longa e o mundo, este na qual mendigamos um naco de vida, está para terminar. Que termine então, pois assim, posso caminhar ao invés de mendigar. Vamos Ernesto, a vida vem e vai e volta, em trilhos sinuosos...

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