“Não, não quero mais nada”– disse assim, batendo o portão e
ganhando a rua. Um carro rubro atravessava o cruzamento, uma senhora de meia
idade acabava de acender o cigarro hollywood vermelho sem filtro, o sinal ficou
vermelho e ainda o portão tinia de tão forte que foi a saída.
Rompi os poucos quarteirões entre a saída até ao ponto de
ônibus mais próximo. As mãos trêmulas, as idéias irresolutas, a calça jeans preta precisando
do aperto na cintura, o telefone pendurado a mochila e a única coisa que me vinha
a cabeça era o tinir do portão. Nem o
barulho do trânsito caótico daquela manhã me fazia esquecer. Já caminhava para
o quinto dia de espera. Horas e
horas de sofrimento. Já não dormia mais.
Pressão por todos os lados. Chateação três por quatro e o que mais me impressionava
era o tinir do portão. Como os outros iriam ver aquele cenário. Julgar é fácil,
mas se aproximar e saber o que estava acontecendo, poucas vezes isto acontece.
“Já que é assim, assim será”- filosofei
entrando dentro do coletivo que parava naquele momento.
Cinco dias, era o que o mais me irritava. E mesmo assim, a
única resposta que obtinha era que o outro não podia fazer nada para ajudar.
“Porra, que merda de relacionamento é este?” – questionava a todo momento,
vendo em minhas mãos a promessa firmada em poucos meses atrás. Estava ali,
compromissado, assinado por ambos. Ela foi incisiva dizendo que aquilo ali,
aquele papel, representava o compromisso entre um e outro. E eu, tolo como todas as vezes,
acreditei. Pautei a vida naquele “acordo”, fiz promessas, juras, dediquei-me ao
máximo e quando precisei, diga-se de passagem que foi a primeira vez, já não fui
atendido. “Minha filha, já te pedi isto e você prometeu. Já fazem cinco dias,
CINCODIAS, e até agora nada. Nada na bananada! E como fico? E o nosso
compromisso?” E a única coisa que escutava eram palavras, desculpas e juras de
uma fidelidade tão frágil. Eu sim era fiel, cúmplice, como prometi naquele fatídico dia. Recebia
suas cartas e já dava um jeito de efetuar o quer lhe era pedido. Ligava todos
os dias pra saber como iam as coisas. Até mesmo em alta madrugada ligava. Pedia
pra que ela retornasse e mesmo quando tinha retorno só vinha muitas horas
depois. E mesmo assim, com este turbilhão de pensamentos, o tinir do portão não
me saía da cabeça.
Quando já estava prestes a entrar em casa, o telefone toca.
Olho o visor, reconheço o número, o coração fica em frangalhos! Sim, era ela.
Novamente. Será que viria com juras e promessas? “Atender ou não atender?”-
parodiei Shakespeare, afinal nosso relacionamento já era uma tragédia. Cocei a
cabeça, já que de um tempo pra cá a psoríase voltou a me atacar. Suspirei profundamente e por fim atendi:
“Senhor, aqui é da GVT. Estou ligando pra informar que dia 27 estaremos
atendendo o seu pedido. Estaremos ligando no dia para marcar o horário. Ok?”. Era
ela prometendo novamente em prol da nossa tal felicidade fiel.
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