sexta-feira, 15 de julho de 2011

Em transe...

Em transe, corria pela rua afora, na expectativa de alcançá-la mais uma vez. Todos os corpos lembravam o dela, todas as vidas eram a dela, todas as noites sonhava com ela. Respiros e afagos, na cama do pensamento, faziam com que ficasse mais fissurado no novo reencontro. As noites turvas, os dias gris, o corpo dela num copo de conhaque e o cheiro do ar que ela respirava. Tudo o entorpecia, e a idéia de encontrá-la mais uma vez, talvez a única vez, o deixava assim... em transe.

Nas esquinas imundas e pútridas, ele se aconchegava. Mendigava o encontro, o afago, o doce, a neve branca e sutil dela. Tudo era ela, até mesmo a dor, e disto ele entendia bem, do desencontro maldito causado pela mesma dor, porém que outra provocara, o céu gris da tarde calorosa do outono vivido no inverno. O isqueiro aceso, a cigarrilha soltando fumaça, o ar enfeitado pelo cheiro da erva cubana no ar. O transe...

No quarteirão fechado entre Carijós e Afonso Pena, ele se prostra. Ergue as mãos para o ar e relembra o primeiro encontro, talvez o encontro que nunca existira, e chora... chora um choro chorado de coisas estranhas nervosas. Os joelhos dobram, a gravidade força o encontro maldito do calçamento com o seu rosto débil. Lágrimas salgadas banham a face cansada da procura do encontro. As forças falham, o enjôo chega e a luz vai se definhando... a sensação é reconhecida... o transe.

Um afago a cabeça é sentido. O ar é reconhecido, o molde moldado contra o sol  é perceptível. Não pensou nem uma vez, agarrou-se nos braços longos dela e desapareceu pela Amazonas... em transe.

Nenhum comentário: