Eu não queria dizer mais nada. Apenas me bastava falar o que
já havia dito. Mas era necessário, precisava, lamentava, e o mais idiota de
tudo, eu queria estar ali. Sim, eu queria. Sentado a porta do Mercado Central,
vendo você andando com ele, de um lado para o outro. Que nem fazia comigo.
Lembra? Pois é, era eu que tinha que estar ali. Mas não estava. Estava do outro
lado, olhando a passarela da Curitiba com Augusto de Lima. Eram tão bons
aqueles dias, e eu, naquele momento, poderia estar em qualquer lugar do meu
Belo Horizonte, mas não, resolvi sozinho, sim não tive ajuda de ninguém, nem
daquele taxista que me levou a primeira vez até você, muito menos do seu amigo
que me dirigia às palavras sábias me ensinando como te tratar bem, este mesmo
aí, sim!, este que está ao seu lado neste exato momento, andando com você na
passarela da Curitiba com Santa Catarina, sabe, acho que já te disse isto,era
eu que devia estar aí, ao seu lado. Lembra? Sim, nós dois, passeando entre os
corredores, os bares, procurando potinhos para tempero: “Ah Baby, você não sabe
o tanto que penei até chegar a comprar potinhos de temperos.”, e eu?Tempero a
vida com o que? Solidão? Lamentos? Novos amores? Sim, eu tinha que estar ali,
vendo você passeando, de um lado para o outro, pulávamos sempre a entrada da
Amazonas, não queríamos ver animais presos. Você sempre ecológica, eu sempre
seu. É baby, a vida não está fácil para ninguém. E lhe ver aí, ao lado da
banca, não!, por favor, não compre este abacaxi, com ele não! Baby era eu que
devia estar aí, carregando sua sacola, levando você até o carro. Sim, eu abro a
porta, não, não precisa, eu coloco atrás, não se preocupe, segunda-feira cedo
eu volto aqui e compro pra você. Sim, mas agora eu não posso mais. E Belô, tão
bela como sempre, me brinda com todas as esquinas, e eu, estar ali, na junção
de Goitacazes com Curitiba, vendo você romper a Padre Belchior em direção ao
estacionamento na São Paulo. Não baby, não lhe seguirei, seguirei agora para
outros caminhos, caminho como sempre, a procura de nunca mais padecer. E sim,
naquela esquina nunca mais estarei. Não adianta olhar e procurar, pois de todas
as esquinas que nunca estarei, ela é a principal. Sim, mas neste momento, eu
que deveria estar ali...
segunda-feira, 9 de julho de 2012
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