segunda-feira, 9 de julho de 2012

Esquinas


Eu não queria dizer mais nada. Apenas me bastava falar o que já havia dito. Mas era necessário, precisava, lamentava, e o mais idiota de tudo, eu queria estar ali. Sim, eu queria. Sentado a porta do Mercado Central, vendo você andando com ele, de um lado para o outro. Que nem fazia comigo. Lembra? Pois é, era eu que tinha que estar ali. Mas não estava. Estava do outro lado, olhando a passarela da Curitiba com Augusto de Lima. Eram tão bons aqueles dias, e eu, naquele momento, poderia estar em qualquer lugar do meu Belo Horizonte, mas não, resolvi sozinho, sim não tive ajuda de ninguém, nem daquele taxista que me levou a primeira vez até você, muito menos do seu amigo que me dirigia às palavras sábias me ensinando como te tratar bem, este mesmo aí, sim!, este que está ao seu lado neste exato momento, andando com você na passarela da Curitiba com Santa Catarina, sabe, acho que já te disse isto,era eu que devia estar aí, ao seu lado. Lembra? Sim, nós dois, passeando entre os corredores, os bares, procurando potinhos para tempero: “Ah Baby, você não sabe o tanto que penei até chegar a comprar potinhos de temperos.”, e eu?Tempero a vida com o que? Solidão? Lamentos? Novos amores? Sim, eu tinha que estar ali, vendo você passeando, de um lado para o outro, pulávamos sempre a entrada da Amazonas, não queríamos ver animais presos. Você sempre ecológica, eu sempre seu. É baby, a vida não está fácil para ninguém. E lhe ver aí, ao lado da banca, não!, por favor, não compre este abacaxi, com ele não! Baby era eu que devia estar aí, carregando sua sacola, levando você até o carro. Sim, eu abro a porta, não, não precisa, eu coloco atrás, não se preocupe, segunda-feira cedo eu volto aqui e compro pra você. Sim, mas agora eu não posso mais. E Belô, tão bela como sempre, me brinda com todas as esquinas, e eu, estar ali, na junção de Goitacazes com Curitiba, vendo você romper a Padre Belchior em direção ao estacionamento na São Paulo. Não baby, não lhe seguirei, seguirei agora para outros caminhos, caminho como sempre, a procura de nunca mais padecer. E sim, naquela esquina nunca mais estarei. Não adianta olhar e procurar, pois de todas as esquinas que nunca estarei, ela é a principal. Sim, mas neste momento, eu que deveria estar ali...

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