Porta fechada, tranca trancada, a luz entra pela veneziana e
esquenta o piso de madeira. Estalos são jogados ao ar. A fumaça do incenso
plaina, o perfume preenche todo o espaço, a cortina, com a figura do
comandante, esconde a parte esquerda da janela, permitindo que a luz só entre
pela direita. “A esquerda sempre no poder”, pensou e sorriu olhando para o
lustre empoeirado. O corpo já reclamava da falta de vida. Olhou as horas e
concordou com o habitáculo da alma, já estava na hora de ganhar o mundo e colocar
rumo na caminhada.
Café quente na xícara esmaltada. Aroma da casa da mãe. Mãe
que não havia mais. Deixou-lhe para trás naquele dia de maio. “Logo maio?”,
sempre pensava nisto pela manhã enquanto
fazia seu ritual do amanhecer. Sua lembrança a trazia de volta. Ela
podia estar ali, ao lado, sentada no mesmo sofá. Com a TV ligada. Desenhos,
quadros, flores, afazeres do dia-a-dia. Olhos
se enchem, coração vazio, desejo de ver tudo pelos ares. São Paulo explodia sua
cabeça e milhares de coisas a fazer. E o corpo, continuamente, reclamava da
falta de vida.
A rua era tudo que restava-lhe. A Penha lembrava-lhe Teresa.
E o corpo, sem cessar, reclamava da falta da vida.
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