quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ela

Sexta-feira, tarde da noite, avenida qualquer, entrada da boate. Ela chega com seu vestidinho lilás bordado com cristais falsificados, imponente em seu Luis XV. O perfume, tão marcante quanto seus olhos negros, deixavam todos fascinados – fascinado fico pelo seu andar. O cabelo esvoaçante açoita o vento com o cheiro gostoso do cremehidratante. Tudo era usado para mantê-la ali, no altar, e nós,súditos malditos, ficávamos a desejar seu rabo, nem que fosse por uma noite apenas

No escuro da pista, ao som do mais podre cancioneiro pop, ela se vangloriava. O corpo modelado pela academia da esquina era, para nós, a passarela da vida onde queríamos desfilar. A silhueta perfeita, os mamilos acesos, o suor descendo seu pescoço e adentrando ao grande decote cravado em suas costas. Costas que era enfeitada com um grande dragão verde-lilás que levava aos sonhos mais exóticos dos pobres mortais. E ela lá, dançando... sozinha... se acabando na pista.

A luz acende, ela caminha até a saída, as portas se abrem, ela reaparece sob a luz do luar. Ainda resta um pouco do perfume, o andar, a solidão me abraça. Sigo-a até ao carro e ela nem aí. A porta abre, a perna esguia acessa o interior do carro, o assento abraça seu traseiro malhado, a outra perna desaparece no vão da porta. Toneladas de fumaça invadem a atmosfera, ela ganha a avenida e desaparece na escuridão da noite. Dentro do carro a solidão a persegue. Ela chora um choro chorado em lágrimas quentes que molham seu corpo gelado. Já é sábado

Nenhum comentário: