sexta-feira, 29 de outubro de 2010

São Judas

Na escrivaninha do quarto, a meia luz, o papel largado a mesa, os rabiscos intensos, o lápis preto sendo destruído em nome de algo que nem ele mesmo saberia dizer. A fonte no quintal ligada e jorrando jorros de água. Água colorida pela luz iluminada da lâmpada ligada. O céu não era azul mais. O impossível de acontecer estava tão longe, que de certo, se tornará cada vez mais impossível. Em inexatidões longínquas o acesso do abscesso ficava mais obstruído com o tempo, e desta maneira, a boca doía cada vez mais, e o mau cheiro impregnava todas as cavidades superiores. E o rabisco saía forte sem o porquê de estar ali.

A novidade não era mais a mesma, portanto não era mais novidade. O lápis não era mais perfeito, assim como sua ponta feita com a faca. Faca que cortava cada vez mais sua esperança da volta de alguém que um dia resolveu partir e nunca mais voltar. Voltar a ser visto. Voltar para o lado direito do individuo oblíquo. Sujeito que ele jurava, agora, entre lágrimas e calafrios, que não existia mais. Era fato: o papel estava ali, o lápis em suas mãos e o alguém estava além da sua compreensão. Carniça de vida insaturável.

As comemorações do dia de São Judas haviam passado. E ele continuava ali, com sua causa impossível.

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