domingo, 7 de março de 2010

Carnaval

Ele a amava. Vertiginosamente ele a amava! Ela nem se dava conta dele. Para ela, ele não existia. Nunca tinha o visto. Em momento algum da sua tão nobre existência.

Ele vivia a sofrer por amor. Ergueu estátuas homenageando a sua deusa. Ela uma deusa, ele um simples e mero plebeu. Um ralé... um João ninguém aos olhos dela.

Ela vivia desfilando em seus carros alegóricos de deusa do amor dele. Não olhava pra baixo, somente para onde apontava seu nariz. Como um destaque de escola de samba, pouco se importava com o pobre passista que desfilava em blocos, e ainda no chão. No chão da sua insignificância, para ela deusa e destaque do seu, somente seu, carnaval.

O tempo passa... o amor passa... o carnaval passa...

Ela começa o enxergar, o passista do chão, o escultor de tão belas estatuas, o João ninguém. Ele já não a quer. Cansou-se de sofrer. Desistiu do destaque do carro alegórico.

Ela agora sofre em saber que o tão majestoso rapaz já foi perdido por ela em tão belo amor. Amor este, que habita ela agora.

Amor honesto. Amor amado.

Ele se encantou pela porta-bandeira, que como ele, anda no chão. Apesar de esbanjar tantas riquezas na passarela... anda no chão.

Ela o ama. Ele ama aquela. Ela sofre. Ele desfila.

Inverteu-se o amor. Perdeu-se uma história. Começou-se outra.

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