sexta-feira, 5 de março de 2010

Laços negros

Em graciosos laços negros, ela se preparava para ir à festa. O vestido longo, o véu que colocará sobre seus belos cabelos negros, tão negros quanto os laços que a cercavam. Era a primeira festa depois da morte de seu amado. Estava escandalizada com o convite. Mas a excitação de sair de casa e se embrenhar naquele território maldito, não lhe dava outra escolha a não ser de ir à festa.

O vestido cândido, os laços negros, o véu tecido com o fel da dor que sentiu quando soube da festa e seu anfitrião. Não poderia faltar. Era a chance que queria. Necessitava, aquilo estava em seu sangue desde que ele partiu. Sem chances de chegar e falar. Ela tinha que ir. Era isto que seu coração pedia: “Vá... Siga... Faça...”.

A chegada ao salão foi triunfal. Ninguém acreditava que aqueles belos e graciosos laços negros traziam aquela bela mulher. Mulher sofrida pela dor da perda do grande amor. Amor que se esvaziou ali por perto. Sem chances de se redimir e mostrar ao mundo que não era apenas mais um perdido.

O olhar do anfitrião a cegou. O ódio maldito por aquele maldito não a deixava pensar. Ódio mortal, fé imortal.

Com toda delicadeza, a mesma delicadeza e graciosidade de seus laços negros, ela retira da bolsa de festa a sua ferramenta do ódio.

Seis estampidos gritando ódio!

Somente seis foram necessários para que ela sentisse bem. Aquele maldito que a fizera sofrer por este tempo todo, estava ali. Subjugado. Um lixo. Um nada. Morto... morto...

Baixou a guarda. Retirou o mais belo laço negro e depositou ao lado daquele corpo inerte.

Ninguém teve coragem de pará-la. Todos sabiam o que havia acontecido.

Com a doçura nos olhos e nos gestos, deixou para traz a festa. Afinal, a homenagem já havia sido feita.

Os laços desfeitos.

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