sexta-feira, 5 de março de 2010

A paz

Correndo morro abaixo, ele fugia. Todos estavam atrás dele. Desde o garoto vendedor de “balas” até o xerife do bairro. Ninguém o queria por ali. Morro abaixo ele corria. Tropeçava em pedras e paus. Paus esses que eram atirados contra ele pelos seus algozes. A medida que descia ia pensando na cagada grotesca que fez em aparecer por ali naqueles dias.

De repente, dois estampidos... a paz entrou em seu corpo...

Morro abaixo, ele sentiu a vida escapando por entre seus dedos. A sensação de formigamento nas pontas de seus membros lhe trazia a paz. A tão desejada paz que buscava sem parar. Na “bala”, no pó, na erva, no chá. A paz... Lembrou de Gil cantando, “A paz invadiu meu coração. De repente me encheu de paz...”.

Tropeçou mais uma vez e foi de cara ao chão. Nem sentiu dor. Estava feliz com a tão desejada paz. O formigamento já não sentia mais. A dor das escoriações da queda, nem o atormentava. O barato, que havia saboreado a pouco tempo, sumiu. Agora naquele momento só existia a paz.

O melado escorria pelas mãos. O coração que antes acelerado, já não batia freneticamente. O ar estava fresco e livre. A paz o envolvia.

Cinza... tudo cinza... é assim que termina? Perguntou, quiçá obteve resposta. Sem entender mais nada, sorriu mostrando os dentes brancos que neste momento estavam rubros.

O Sol quente, transeuntes para todos os lados e ele ali. Jogado num canto do morro. A vida fugia, mas a paz surgia.

De longe ele observava a cena comovente do moleque que lhe vendia a “bala” acendendo uma vela ao seu lado. Enquanto a maldita joaninha não chegava, ela seria sua guarda.

Virou as costas para a cena e desceu o morro de mãos dadas com a paz.

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