sexta-feira, 23 de julho de 2010

Maldição dos trinta

Trinta dias fora de casa!, malditos trinta dias. Não via a hora de voltar e rever a amada. O celular naquele fim de mundo não funcionava. O telefone público mais perto ficava a uns bons trinta quilômetros. O sol ardia na cacunda naquele maldito ambiente árido. E a temperatura girava em torno de trinta graus centígrados. E ele já estava cumprindo o turno a mais ou menos trinta horas. E tudo isso para ganhar trinta dinheiros por hora. E em mais alguns trinta dias completaria trinta anos. Já não suportava mais aqueles trintas em sua vida.

Quando entrou na companhia de energia, era só felicidade. Planos para construir seu futuro. A história de seu pai naquela mesma empresa, diga-se de passagem, que foi uma história de trinta anos, demonstrava um belo futuro para frente. A noiva ficou entusiasmada com a promessa de casamento assim que construíssem a casa. Compraram um lote em trinta prestações, e assim que quitassem começariam a construir. Tudo perfeito. Em sessenta meses, no máximo, lembrando que trinta vezes dois é igual a sessenta, teriam a tão esperada casa.

Mas ali, preso naquele solão, suportando jornadas de trinta horas, temperatura de trinta graus centígrados, o que mais queria era mandar tudo para o quintos dos infernos. E que os trinta dinheiros por hora fossem visitar o cramulhão, afinal, o que mais queria naquele momento era tomar umas trintas cervejas para aliviar o calor, e ao menos uns trinta bons minutos com a amada para afagar-lhe o coração.

Nenhum comentário: