segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um uísque, uma mulher, um pecado.

Ele ali. Assentado naquela mesa do bar. No fundo, na última mesa. Sob a penumbra. O uísque no copo com gelo a refrescar o hálito amargo da semana. O cigarro entre os dedos da mão esquerda. A fumaça a exaurir no espaço. Na vitrola uma música qualquer. Nem estava dando atenção ao que escutava. Apenas estava ali, fumando, bebendo, sonhando. A solidão ao lado como a melhor companhia, naquele momento. Mais nada. Mais ninguém. Apenas os dois.

A luz entra pelo vão da porta de ferro, junto com a luminosidade um vulto. O vulto se transforma numa bela silhueta. A silhueta se transforma. Ela chega! Sorri. Ele se encanta. Observa os grandes seios e a bela bunda. Um trago no cigarro. Um cheiro de menta. O sabor do perfume Dior penetra pela narina adentro. Arrepios. O mastro dá sinal. Ele levanta.

No balcão melado de cerveja derramada por outro qualquer, eles se encostam. Ela de costas pro balcão. Ele de frente para os seus grandes seios. Um trago no cigarro, outro no uísque, uma piadinha infame, um sorriso amarelo, uma cantada barata, um sorriso vagabundo, uma nota de cem reais enfiada na bolsa de mão, um acordo comercial. O hálito amargo da sexta-feira desaparece dando lugar ao hálito de feromônio.

A calça de oncinha grudada na pele demonstra a evidência de uma bela e suculenta anca. A placa vermelha demonstra o destino final dos dois corpos. Num amor pago, ele encontra a felicidade perdida no início do expediente. O céu era novamente seu. Em meios aos belos seios ele se acha um anjo que acabara de cair do céu. Seu céu. No deslizar dos corpos sobre a cama, ele arranca a pele da onça. O triângulo da perdição aparece. Ele, sem pensar, se entrega ao inferno. A santidade some. O céu escurece. Os olhos se completam. O sexo é feito.

A fumaça o desperta. Ele abre os olhos e se sente novamente aliviado. Olha para os lados, reconhece cada milímetro que lhe cerca. O Uísque ainda no copo o convida para mais um beberico. Espeta a linguiça defumada na tijelinha de metal. Olha para a porta e vê algo que lhe desperta um temor. O vulto da silhueta que o encantara naquele minuto de solidão. Sem pensar duas vezes, retira uma nota de cinquenta reais e deixa sob o copo.

Pensando na esposa que o esperava, sobe no ônibus e segue para casa. Aliviado do pecado infernal que não cometera.

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