quarta-feira, 2 de junho de 2010

3x4

Com a foto 3x4 na mão, ela fica com os pensamentos distantes. Já fazia alguns meses que estava longe da família, do lar. Viera tentar a vida na cidade grande. Como é de costume, o êxodo. Sozinha no quarto de pensão ficava alheia a toda a baderna que acontecia a sua volta.

As noites eram assim, uma suprema e eficaz tortura. A falta do chão que ficou em sua casa, lá pra trás, há uns bons trezentos quilômetros de distância, a deixava sem fé. O prego não encontrava a madeira. A firmeza era inexistente.

O ensejo de vir para a cidade grande apareceu de supetão. Era a oportunidade de sua vida. Deixou, porém, o amor. Amor que batalhara anos e anos de sua longa vida de dezenove anos para conseguir. Algo puro. Tão puro quanto sua pureza ainda não tocada. Jovem, pobre e sozinha. E ainda numa pensão vagabunda da Goitacazes com Olegário Maciel. Putas e putos conviviam ali. E ela, com sua inocência imaculada, vivendo em meio aquilo tudo.

A foto na mão. O coração em prantos. Vontade e desejo insano de fazer a meia volta. O pouco dinheiro. A saudade de todos.

Amanhece o dia. O sol quente lhe aquece a face. O sorriso largo no rosto. A aflição açoita o coração. A parada na esquina. O sorvete da máquina italiana. A banca de revistas. Desce do ônibus e põe-se a caminhar freneticamente pela calçada sem ao menos cumprimentar qualquer alma viva. Lê a placa da casa, bate na porta e finalmente sorri!

Onde você estava enquanto eu ouvia “Lanterna Dos Afogados” e morria de tanto chorar? – Indaga amorosamente ao moço da fotografia 3x4. Nos braços do amado, finalmente estava em casa.

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