segunda-feira, 7 de junho de 2010

Obituário

Segunda-feira, seis da manhã. Ele levanta e vai até a varanda pegar o Estado de Minas. O frio corta-lhe a carne. Manhãs de junho são sempre assim, frias! Ainda mais as segundas-feiras. Lentamente caminha de volta até a sala e se posta no sofá. A xícara com o café quente ao lado, o saboroso biscoito a ser deliciado e o jornal em mãos. Sua rotina matinal perfeitamente seguida. Café, roscas e jornal.

Já beirava os quarenta anos e conseguia gozar de uma tranquilidade matinal incrível, algo raro na sua idade. Pôs-se a ler o folhetim diário. Abrindo a página de “Cidades” não acreditou no que estava vendo. Leu e releu várias vezes. O coração antes tranquilo, agora batia freneticamente. Um ritmo descompassado e apressado. Falta-lhe ar. A ânsia chega avassaladora. As pernas bambas gritam de horror.

Levanta-se atordoado com o que vira e começa a procurar a velha agenda.

O frio daquela manhã parecia mais estridente do que nos outros dias. O céu cada vez mais nublado. O sol, cada vez mais escondido. Parecia que sabia que naquele dia não era pra brilhar. O resplendor de tão majestoso astro deveria ser apagado pelo gris do dia. A água quente do aquecedor solar resolvera não aparecer. O café que há pouco estava quente, neste momento estava gelado. As roscas apetitosas ficaram ácidas. E o sentimento da manhã tornara-se cáustico.

Lembrou-se do tempo da escola. A farra furtiva no intervalo. O elevador lotado para chegar à sala de aula. Os SMS’s passados a todos na hora da prova. Colas, trabalhos e aulas teóricas. Podiam dominar o mundo. Acreditavam que eram todos os melhores do universo. O pão com carne do boteco da esquina. O macarrão comprado no ambulante. As escapadas à zona da cidade. O álcool do dia a dia. Tudo era perfeito naquele tempo, até mesmo a falta de dinheiro. O medo da prova ser cancelada. O baseado compartilhado entre os mesmos de sempre. E o frio da noite, independente do mês do ano.

Voltou à sala e novamente pegou o jornal. Realmente era verdade, ao menos estava escrito. Saudades seriam eternas. Lembranças seriam revividas. O tempo dando uma grande reviravolta no tempo. A dor cortante como o frio daquela manhã. O nome do conhecido no obituário.

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