quinta-feira, 15 de abril de 2010

Espetáculo de outono

Depois de te olhar pela última vez, senti o mundo ruir sob meus pés. Não sei como tive coragem de tomar decisão tão infame, mas tomei. Decisões foram feitas para serem tomadas, eu sabia disto, e as tomei. Não podia deixar aquilo tomar uma acepção monstruosa. O mal havia de ser cortado pela raiz. Não tive outra escolha. Os fatos eram claros, os personagens estavam escolhidos, a história era concisa. E a mim, diretor de tão funesto espetáculo de dor, sobrou tomar a direção correta.

Sentamos num boteco qualquer na Rua da Bahia. Olhamos tenramente nos olhos de nós mesmos, e com a boca perfumada pela cerveja gelada, começamos um papo qualquer. Por mais certeza que houvesse naquela decisão infortuna, queria deixá-la para tomá-la o mais tarde possível. Mas as coisas foram esquentando, o álcool já comandava a maioria de nossos atos e o tempo implorava que o mal fosse consumado.

Olhei para o céu, te mostrei a lua linda destas noites de outono. Fizemos planos, encenamos um primeiro ato da nossa peça da vida humana que temos. Sorrimos!, achávamos que éramos os donos do teatro. Mas os personagens já estavam escolhidos, o roteiro reescrito, o cenário desenhado, e eu, diretor da vida que não é mais minha... não tive opção.

Vi-te descendo a Bahia enquanto ficava na Timbiras. Ali na esquina, com o lagoinha a mão. O sabor amargo da mudança de planos, de atos, de atores, de vida, era sentido agora em toda a minha boca. Fiquei difuso. Nada encontrava com nada. Nem eu com você. A obra dramática da vida escrita e tristemente encenada.

No cenário de uma noite qualquer de outono, de uma esquina única de Belo Horizonte, meu único espetáculo de luz e alegria, transformou-se em uma grande e melancólica tragédia.

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