terça-feira, 18 de maio de 2010

Lembrando Vinícius

O sol quente fazia com que suasse mais que tampa de chaleira. E ele ali, parado no tempo que não tinha mais, pensando algo bonito de se escrever para a menina que conhecera no dia anterior. Loira de olhos esverdeados, um contorno maravilhoso da boca, uma silhueta grandiosa, e porque não, apetitosa. Ele, um rapaz no início da adolescência, que mal acabara de ver seus primeiros pentelhos nascerem e já aflorara o amor em teu coração.

Lembrava dos livros que preenchiam a pequena prateleira da sala, onde Drummond e Vinícius desfilavam seus poemas, e tentava lembrar de cada um que já havia lido. O tempo passava e a primeira estrofe não chegava. O sol ficava mais quente e ela, com certeza, desceria do próximo ônibus. Mas de nada adiantava. Plagiar não queria. Queria inventar, ser um poeta do amor como Vina havia sido. Mas o tempo corria contra e ele cada vez mais afobado.

Pensava nos cabelos lisos, no doce perfume, no andar delicado e sensual, no batom vermelho da boca e até mesmo no keds que ela calçava. A mão tremia, o papel já molhado com o suor do neófito e malogrado poeta, e nada de pitibiribas!, nenhuma linhazinha confusa, nadica de nada mesmo. O mundo do seu amor iria ruir-se. E ele só precisava escrever um poema que descrevesse tudo o que sentia. Coçava a cabeça, olhava para o céu, olhava para o poste, olhava para todos os lados, e nada!

Como já era previsto, o ônibus aparece. O coração palpita. O suor lhe alaga a camisa. O perfume barato fica em evidência. O céu escurece ao mesmo tempo em que o sol começa a iluminar somente o veículo. A porta é aberta e ela desce. Ele começa a flutuar quando percebe um doce olhar em sua direção. As mãos se encontram, a paixão ferve nos corações. O sorriso amarelo lhe ganha a face. A boca abre e começa a balbuciar uma bela canção popular: “Se você quer ser minha namorada, Ai que linda namorada, Você poderia ser, Se quiser ser somente minha, Exatamente essa coisinha, Essa coisa toda minha, Que ninguém mais pode ter...”.

Antes mesmo de terminar é presenteado com um longo beijo. O céu novamente fica azul. O amor é verdadeiro e real. O coração frenético. A respiração encurta. Os lábios se procuram e se encontram. Agora, de mãos dadas e felizes, seguem o resto do caminho. Ela feliz por ter conhecido um poetinha, ele feliz por lembrar-se do Poetinha.

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