sexta-feira, 28 de maio de 2010

A praga

Com o rosto escondido entre as mãos, no escuro do seu quarto, ele se desespera ao notar que mais uma vez ela o deixou. Céptico do amor dela para com ele, afinal era a décima vez que isso acontecia, ele chorava copiosamente. O coração apertado, ânsia louca e ininterrupta. O sono o abandonara também naquela noite. Noite igual às de outrora em que já estava cansado de vivê-las.

Sabia a decisão certa a ser tomada. Os laços do enlaço deveriam ser desatados. A dor de um fétido amor tinha que se afastar de sua casa. Com coragem, deveria colocar este sofrimento na prateleira e deixá-lo lá. Junto com outros desamores do passado. Nem altar, nem beatificação e nem ao menos uma punheta ele, o amor maldito, merecia.

Com a certeza encarnada em seu corpo, levantou-se da cama. Caminhou até a cozinha, colocou o café no filtro, ligou a máquina e esperou o líquido preto e forte ficar pronto. Com a xícara já ocupada pelo salvador líquido, olhava pela janela os pombos no telhado em frente. O aroma do café o despertava para a vida. Vida que, a partir daquele momento, seria de festa, alegria e devoção.

O suor daquela noite escorria pelo corpo. Levava, enfim, o amor maldito e desafortunado. E abria espaço para um novo. Estava certo de que esta era a condição de vida que precisava. Amor novo!, de forma desabrida. Onde ele e ela iriam poli-lo e até chegar à perfeição. A maestria do sentimento seria alcançada em pouco tempo. Tinha certeza disto. Iria batalhar por isto. Esta seria sua nova forma de amar.

Convicto dos seus novos ideais, pega o telefone no bolso, disca o número e novamente suplica pela sua volta. Afinal, agora já sabia amar.

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