segunda-feira, 17 de maio de 2010

Uma cerveja, por favor

Merda!,maldita não está vendo meu carro? – Esbraveja ao volante após ter levado mais uma fechada. Trânsito de segunda-feira, via tumultuada, greve de ônibus, batidas leves que geram congestionamentos enormes. E ele de ressaca. A paciência passeava de longe, nem pensava em momento algum habitar aquele ser. A queimação nervosa do estômago lembrava que devia reduzir o álcool.

Arrota mais uma vez e sente a queimação a subir pelo esôfago. “Tenho que parar de beber”, resmungava. Mas parar de beber era algo que realmente não pensava em fazer tão cedo. Começou a imaginar o que poderia fazer para melhorar sua vida. “Academia, ficar correndo naquela esteira. Depois posso comprar uma bicicleta e dar volta na lagoa. Caminhada acho que vai ajudar”, mero devaneio a respeito do seu estado de vida.

A cadela no cio sujando a sala, o filho na escola, mais uma vez o trânsito lento e carregado. A mudança de casa por acontecer, o aluguel vencendo naquele dia, e certamente, um dia longo cheio de problemas.

Cigarro não usava mais, largou há muito tempo. A gordura tinha que diminuir. O peso da idade e dos quilos adquiridos junto com eles chegava para cobrar uma solução imediata. Logo a ele que detestava ser imediatista. Mas o preço começa a ser caro demais pra pagar a vista, de uma vez só. Era notório que as prestações seriam mais leves, e quanto mais cedo começar a pagar, mais rápido a dívida seria quitada.

Mais uma fechada, mais xingamentos esbravejados ao volante. A irritação, o pensamento lento, a queimação ardendo o corpo. Um posto, uma lanchonete. “Uma cerveja, por favor”.

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