sexta-feira, 14 de maio de 2010

Mona Lisa parada ali no Louvre

Pairando sob o céu azul nesta manhã de maio, vejo pessoas tão desconcertantes quanto a Mona Lisa parada ali no Louvre. O nexo já não pertence ao sexo. A exatidão de uma equação matemática não coincide com a inexatidão de um poema de amor. E eu fico aqui em cima observando todos e tudo.

O menino com os pés no chão em cima de outros meninos, tentando ganhar a vida com malabares. Às vezes com a arte circense, noutras com a arte de gatuno que infelizmente aprendeu nas ruas. Vejo a moça parada na praça da rodoviária. Essa tenta ganhar o pão utilizando a tão preciosa dádiva que lhe foi ofertada ao nascer, o amor. O mesmo amor que ela procura em outros, que sonham como ela, encontrar. Mais a frente vê-se um andarilho, este um pobre diabo, não sabe mais quem é. Perdeu-se no mundo, ou será que o mundo que o perdeu? Sujo, faminto, sem lembranças e até mesmo sem um mínimo de dignidade, vive por aí.

Fecho os olhos. Não sinto mais minhas pernas, não sinto mais o ar, não sinto... apenas não sinto.

O céu azul, o Louvre aberto e nós parados em frente a mais bela Mona. Filas de pessoas param, e assim como eu, ficam a admirá-la e apaixonam-se pelo enigma criado por Leonardo. Respiro profundamente e vejo o desconcerto em que vivo e permaneço a viver. Penso no menino, na moça e no andarilho. Finalmente coloco meus pés no chão, respiro profundamente e volto a viver minha realidade. Realidade de pessoa vivente que sou. Pessoa, que como eles, que vivem nesta cidade nefasta. Com diferenças, desconcertos e desamores. E ela continua parada ali no Louvre.

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