segunda-feira, 3 de maio de 2010

O parapeito do Edifício Maleta

Tarde da noite, eu, você sentados no parapeito do Edifício Maleta observando a lua luz. O azul do céu hoje está mais escuro que o de outros dias. A luz amarela e os gatos negros andam entre nós. Relando suas caudas sujas e nojentas em nosso dorso. Pego sua mão e sorrio. Um sorriso vermelho, como aquela calda de morango que beliscamos antes de subirmos até o parapeito. Você me retribui com beijo negro carvão que mancha meu rosto.

Luz amarela, sorriso vermelho, beijo negro carvão.

O céu é nosso. O ar entre o parapeito e a calçada suja de urina de ratos execráveis, também nos pertence. Eu, você nos pertencemos. Um salto duplo é dado. Um giro único em torno de dois corpos soltos na lacuna do tempo e do vento. Um gemido. Um afago.

O céu, o ar, o parapeito, a calçada, um giro, o gemido, nosso afago.

Coincidentemente acordo com você na janela olhando a luz vermelha do sol que se deposita atrás do Curral Del Rey. O ar pesado. O quadrado não é mais mágico, e para sepultar de vez nossa vida, a terra não é mais santa.

Janela, luz, Del Rey, terra não mais santa.

O parapeito inerte sujo de sangue vermelho me faz lembrar que estamos mais uma vez sacramentados a viver dias de violência furtiva. O parapeito agora é o limite da vida morte, dor amor, paz terror.

O parapeito do Edifício Maleta observa a luz.

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